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Dia da Ajuda Humanitária: Um trabalho cada vez mais difícil

Sandrine Blanchard | ms
19 de agosto de 2021

Assinala-se esta quinta-feira (19.08) o Dia Mundial da Ajuda Humanitária. Um trabalho muitas vezes complicado, perigoso e até frustrante. "Mas não podemos deixar que isso nos desencoraje", diz Vincent Cochetel, do ACNUR.

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A bordo do Sea-Watch 4, um navio que ajuda refugiadosFoto: Getty Images/AFP/T. Lohnes

As necessidades são enormes. O Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA) estima que, em 2021, mais de 235 milhões de pessoas em todo o mundo necessitem de assistência ou proteção - ou seja, uma em cada 33 pessoas. Um aumento bastante acentuado em comparação com o ano passado.

Para ajudar as pessoas em perigo ou que precisam de ajuda, os trabalhadores humanitários devem ser capazes de as acompanhar, mas também de observar e ouvir.

Vincent Cochetel, UNHCR-Beauftragter
Vincent Cochetel: "Temos a responsabilidade de tentar fazer algo"Foto: picture-alliance/dpa/M. Trezzini

Como não há financiamento suficiente para ajudar toda a gente, as organizações têm de estabelecer prioridades. "Não devemos começar com planos pré-estabelecidos, dizendo 'as pessoas precisam disto, precisam daquilo'. Devemos envolvê-las nas decisões", explica, em entrevista à DW, Vincent Cochetel, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

No passado, escândalos de peculato - como foi o caso do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre VIH/SIDA (UNAIDS) no Mali - ou atos cometidos por trabalhadores humanitários - como as atividades da ONG Arche de Zoé no Chade - mancharam o trabalho daqueles que continuam a querer ajudar.

Perigos reais

Os trabalhadores humanitários são também confrontados com situações de extrema violência e, por vezes, eles próprios são postos em risco. No ano passado, 475 trabalhadores humanitários foram atacados, 108 mortos, 242 feridos e 125 raptados.

Dorian Job, que dirige as atividades da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) na África Ocidental e Central, admite que as relações com as autoridades nem sempre são fáceis, especialmente em zonas de conflito armado.

Mosambik Rotes Kreuz bei den Opfern des Zyklons Idai
Ajuda da Cruz Vermelha às vítimas do ciclone Idai na Beira (2019)Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi

Por isso, defende, os trabalhadores humanitários devem adotar uma postura neutra. "Para nós, uma mulher e uma criança é, antes de mais, uma mulher e uma criança, antes de ser uma pessoa de um ou outro campo. É por isso que por vezes existe um conflito - sou médico por formação - entre o direito dos doentes a serem tratados, por vezes reconhecido pelas leis do país, e as leis anti-terroristas que prevalecem sobre estas leis que dariam acesso aos doentes", justifica Dorian Job.

No início de agosto, a organização humanitária internacional decidiu retirar as suas equipas do noroeste dos Camarões, após vários meses de suspensão por parte das autoridades.

Continuar otimista

O trabalho humanitário é uma tarefa interminável. O que fazer para não se desistir? Para Vincent Cochetel, cada vida que se salva ajuda a manter o otimismo.

"Temos a responsabilidade de tentar fazer algo. Nem sempre somos bem sucedidos. Mas para mim, quando uma família, um indivíduo, um grupo de pessoas pode ser salvo e nós temos os meios para o fazer, isso motiva-me a continuar", conta.

"Infelizmente, há pessoas pelas quais não podemos fazer nada, ou porque não temos acesso a elas, ou porque não obtivemos a informação a tempo, e infelizmente deixamos muitas pessoas para trás que não fomos capazes de proteger como deveríamos, mas não podemos deixar que isso nos desencoraje. Temos de continuar", sublinha Cochetel.

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