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Covid-19: Efeitos serão "pesadelo" para economia do Príncipe

Lusa | cvt
8 de junho de 2020

Em entrevista à Lusa, presidente do Governo Regional classificou período pós-Covid-19 como "situação muito grave". José Cassandra disse que deixará o cargo assim que possível e rejeitou candidatura presidencial.

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José Cardoso Cassandra
José Cardoso CassandraFoto: DW/C. Vieira Teixeira

O presidente do Governo Regional do Príncipe, José Cassandra, disse esta segunda-feira (08.06), que os efeitos da pandemia vão ser "um grande pesadelo" para a economia regional, alimentada principalmente pelo turismo.

"Qualquer economia, por mais robusta que seja, não fica incólume aos efeitos desta doença", afirmou em entrevista à agência Lusa, dando exemplos do que já está a acontecer na ilha.

"Na administração publica regional, a produtividade reduziu consideravelmente e condicionou a resposta de alguns serviços, tendo em conta as adaptações que tínhamos que fazer no contexto de reorganização de horários dos serviços", referiu José Cassandra.

Quanto à produção agroalimentar, o governante sublinhou que "a produtividade baixou consideravelmente, tendo em conta o sintoma de preocupação relacionada com a disseminação da doença, que privou algumas pessoas de trabalhar como vinham fazendo regularmente", explicou.

De acordo com o presidente do Governo Regional, a escassez de barcos, que hoje chegam à ilha "com frequência inferior à de antes da manifestação da doença, abastecidos de produtos necessários", também tem gerado um "impacto negativo na economia regional".

José Cassandra classificou como "uma situação muito grave, do ponto de vista económico e social" aquilo que o Príncipe vai viver no período pós-Covid-19: "O Príncipe ficará mais pobre", lamentou.

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Críticas ao Governo central

José Cassandra lamentou que o Executivo central são-tomense tenha recusado fechar atempadamente as fronteiras marítimas e aéreas com a capital para evitar que a Covid-19 entrasse na ilha.

"Lamento que a decisão política em causa tenha determinado este desfecho, que mais tarde ou mais cedo poderia acontecer, tratando-se de uma pandemia", disse ainda na entrevista à agência Lusa.

No final de uma reunião realizada na ilha em meados de maio, com entidades políticas, empresariais e religiosas, o Executivo regional decidiu suspender as ligações marítima e aérea com a capital, São Tomé, como forma de evitar a propagação do novo coronavírus.

Mas, cerca de uma semana depois, o Conselho de Ministros do Governo central "indeferiu" a decisão.

Há cerca de um mês, as autoridades da Região Autónoma do Príncipe anunciaram que estavam em quarentena na ilha 41 pessoas, 27 das quais infetadas pela Covid-19.

Há pouco mais de uma semana, o Ministério da Saúde anunciou que 30 pacientes foram considerados recuperados, restando na ilha do Príncipe 11 pacientes, que se mantêm em regime domiciliar.

"Felizmente não estávamos em presença de casos ligeiros da referida doença nem na presença de casos mais agudos ou graves".

O responsável referiu que os serviços sanitários da ilha têm "as suas limitações em termos de recursos médicos e materiais".

"Criamos um comité de crise e temos vindo a trabalhar arduamente para evitar, de facto, a propagação do vírus aqui na ilha", garantiu.

Até ao momento, São Tomé e Príncipe regista 514 casos positivos e 12 mortos devido à Covid-19.

Resort Bom Bom
Quarto de resort do Grupo HBD no PríncipeFoto: DW/C.Vieira Teixeira

Trabalhadores despedidos

O grupo hoteleiro HBD, que explora três hotéis na ilha do Príncipe, despediu recentemente 194 trabalhadores, perto de um terço dos mais de 600 funcionários, alegando prejuízos acumulados devido aos efeitos do novo coronavírus

José Cassandra referiu que já se reuniu com quase todos esses desempregados e que o seu Governo pretende introduzi-los no trabalho agrícola, cultivando, designadamente, baunilha, pimenta e também gengibre e açafrão, que diz ter "valor comercial bastante aceitável no mercado internacional".  

Ainda na entrevista à Lusa, o presidente do Governo Regional lamentou os despedimentos, apesar dos apoios anunciados às empresas "para minimizar a distorção do mercado de trabalho" no atual contexto de pandemia de Covid-19, mas salientou que o Governo não pode substituir-se aos empresários e empresas nas decisões, "nem obrigá-los a ter uma conduta contrária, desde que cumprissem a nossa legislação, até pelo facto de vivermos num Estado de Direito democrático". José Cassandra, garantiu ainda que "pelas informações" de que dispõe, "a decisão cumpriu todas a formalidades legais".  

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Santo António, capital do PríncipeFoto: DW/C. Vieira Teixeira

Deixar o cargo

O presidente do Governo Regional do Príncipe disse ainda que sairá do cargo após a crise provocada pela Covid-19, sucedendo-lhe o líder da União para a Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP), Filipe Nascimento, e rejeitou uma corrida às presidenciais são-tomenses de 2021.

"Todos os procedimentos relacionados com a decisão em causa, acertados atempadamente com sua Excelência o senhor primeiro-ministro [Jorge Bom Jesus], ainda não foram realizados por motivos relacionados com o impacto desta pandemia", disse à Lusa José Cardoso Cassandra, que foi eleito em outubro de 2018 para um quarto mandato.

"Assim que estiverem reunidas as condições para a realização deste acontecimento, tudo será feito, de acordo com as condições de dignidade institucional que tal acarreta", acrescentou.

O governante explicou que, devido à pandemia de Covid-19, "o país está em estado de emergência e não há voos de ligação".

"O primeiro-ministro é que dá posse ao presidente do Governo Regional, ele tem que ouvir os partidos que participaram nas eleições, portanto, há toda uma série de questões que estão a atrasar este processo", comentou.

"Naturalmente, logo que a situação se normalizar, nós iremos avançar para a concretização desse processo", referiu.

Em novembro do ano passado, Filipe Nascimento foi eleito no congresso da União para a Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP) como líder deste movimento que tem liderado o Governo da Região Autónoma do Príncipe nos últimos 14 anos.

O congresso de novembro alterou os estatutos do movimento, estabelecendo que seis meses após a sua eleição, o novo presidente deve assumir a liderança do Governo Regional - prazo que foi entretanto ultrapassado.

Galerie - São Tomé e Príncipe
Palácio Presidencial em São ToméFoto: DW/R. Graça

Presidenciais 2021

A eleição de Filipe Nascimento para possível sucessor de Cassandra à frente do Governo da ilha do Príncipe abriu caminho a especulações sobre uma eventual candidatura de José Cassandra às eleições presidenciais de São Tomé e Príncipe de 2021, algo que negou, na entrevista à Lusa.

"Eu não tenho planos, pessoalmente, nenhuns ou pretensões nenhumas de concorrer para a Presidência da República", disse José Cardoso Cassandra.

"Tendo em conta os problemas que temos neste momento no nosso país, mais do que atos individuais de natureza avulsa e voluntária, deve prevalecer a disponibilidade para o cumprimento de uma agenda em qualquer função política que se possa desenhar", acrescentou.

O responsável entende que é necessário "mudar a realidade existente no país, que é muito má", por isso uma decisão de candidatura "não pode ser uma coisa pessoalizada, individual", dando como exemplo a frágil estabilidade política e o regular funcionamento das instituições.

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