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Angolanos dizem-se aflitos no leste da Ucrânia e pedem ajuda

21 de fevereiro de 2022

Com ameaça de ataque russo à Ucrânia, os angolanos pedem ajuda ao Governo de João Lourenço para fugir da região. Luanda promete ajudar.

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Manuel de Assuncão, UcrâniaFoto: Privat

Cidadãos angolanos perto da linha da fronteira da Ucrânia com a Rússia dizem-se aflitos e querem o mais rápido possível sair da região. Ao que a DW África apurou, mais de 130 angolanos enviaram uma declaração às autoridades angolanas pedindo ajuda para sair da zona de risco.

Manuel de Assunção é um deles. O estudante angolano de arquitetura mora em Dnipro, uma cidade estratégica no leste da Ucrânia que tem recebido deslocados da região de Donbass, disputada por separatistas pró-russos.

"O pessoal do Gana, de Marrocos e da Índia já estão a abandonar a cidade. Mas, nós, os angolanos, ainda estamos à espera de alguma indicação do Estado angolano. Entrámos em contacto com a Embaixada, que diz que o Estado tem de autorizar a nossa evacuação daqui", diz Assunção em declarações à DW África.

Manuel de Assuncão I Student leader in the city of Dnipro, Ukraine.
Manuel de Assuncão, líder estudantil angolano em Dnipro, sudeste da UcrâniaFoto: Privat

Clima tenso

O estudante conta que dorme e acorda com um único desejo: abandonar "o mais rapidamente possível" a cidade onde vive há sete anos em busca de um lugar mais seguro.

"Estamos perto das cidades já afetadas pelo conflito, Lugansk e Donetsk", afirma. Ele não tem só medo de estar ali se eclodir uma guerra. "Ficar aqui como estrangeiro, ainda por cima um africano, é pior ainda. O racismo é evidente mesmo nos dias normais, como será numa situação de guerra? Não seria uma boa opção".

O também presidente da associação dos estudantes angolanos em Dnipro conta que nunca viu um clima tão tenso nas ruas como agora. O Governo ucraniano decretou inclusive aulas online para que todos os estudantes possam ficar em casa. "A qualquer momento, as coisas podem ir de mal a pior".

Até agora, Assunção diz que os estudantes ainda não foram contactados pelas autoridades angolanas. Porém, se a resposta demorar, ele pensa em assumir o risco de partir para a Polónia, como puder. Essa foi a "opção que o consulado angolano deu a partir da Polónia: de usar a Polónia como um lugar de refúgio por 15 dias, até que haja uma solução de Luanda."

Julieta Mambo Savikeia, Angolan doctor in Vinntsya, Ukraine
Julieta Mambo Savikeia, médica angolana na UcrâniaFoto: Privat

A Polónia e outros países do Leste europeu já se preparam para uma possível onda de refugiados. Estima-se que até um milhão de pessoas possam fugir da Ucrânia, em caso de guerra.

"Mas não teremos condições de viver lá durante 15 dias", acrescenta Assunção.

No norte da Ucrância é tudo diferente

Próximo da Polónia vive Julieta Mambo Savikeia. A médica angolana mora há dez anos na cidade de Vinnitsya, no norte da Ucrânia. Aí, a situação é completamente diferente da de Dnipro.

"Aqui não se nota absolutamente nada, mesmo nas ruas. Só acompanhamos pelas notícias na TV o que se passa mais a Leste. Mas aqui está tudo calmo", descreve à DW África.

Mesmo assim, a médica a especializar-se em ginecologia e obstetrícia já tem um plano para o caso de a Rússia invadir a Ucrânia - fugir para a Polónia.

Nesta segunda-feira (21.02), o chefe da diplomacia angolano garantiu, em Luanda, que o Estado está a criar condições preventivas para os cidadãos que residem na Ucrânia. Em declarações à imprensa angolana, Téte António diz que o Governo está preocupado com a situação, sobretudo, dos estudantes.

Do outro lado da fronteira da Ucrânia, no país liderado por Vladimir Putin, a vida continua normal, relata Fidel Quadé.

"Não notamos nenhuma diferença. Não sentimos absolutamente nada. Provavelmente as mães dos soldados é que estejam mais preocupadas. Tudo está calmo e todas as instituições estão a funcionar normalmente", diz o guineense que vive há 18 anos no sul da Rússia.

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