Angolanos dizem-se aflitos no leste da Ucrânia e pedem ajuda
21 de fevereiro de 2022Cidadãos angolanos perto da linha da fronteira da Ucrânia com a Rússia dizem-se aflitos e querem o mais rápido possível sair da região. Ao que a DW África apurou, mais de 130 angolanos enviaram uma declaração às autoridades angolanas pedindo ajuda para sair da zona de risco.
Manuel de Assunção é um deles. O estudante angolano de arquitetura mora em Dnipro, uma cidade estratégica no leste da Ucrânia que tem recebido deslocados da região de Donbass, disputada por separatistas pró-russos.
"O pessoal do Gana, de Marrocos e da Índia já estão a abandonar a cidade. Mas, nós, os angolanos, ainda estamos à espera de alguma indicação do Estado angolano. Entrámos em contacto com a Embaixada, que diz que o Estado tem de autorizar a nossa evacuação daqui", diz Assunção em declarações à DW África.
Clima tenso
O estudante conta que dorme e acorda com um único desejo: abandonar "o mais rapidamente possível" a cidade onde vive há sete anos em busca de um lugar mais seguro.
"Estamos perto das cidades já afetadas pelo conflito, Lugansk e Donetsk", afirma. Ele não tem só medo de estar ali se eclodir uma guerra. "Ficar aqui como estrangeiro, ainda por cima um africano, é pior ainda. O racismo é evidente mesmo nos dias normais, como será numa situação de guerra? Não seria uma boa opção".
O também presidente da associação dos estudantes angolanos em Dnipro conta que nunca viu um clima tão tenso nas ruas como agora. O Governo ucraniano decretou inclusive aulas online para que todos os estudantes possam ficar em casa. "A qualquer momento, as coisas podem ir de mal a pior".
Até agora, Assunção diz que os estudantes ainda não foram contactados pelas autoridades angolanas. Porém, se a resposta demorar, ele pensa em assumir o risco de partir para a Polónia, como puder. Essa foi a "opção que o consulado angolano deu a partir da Polónia: de usar a Polónia como um lugar de refúgio por 15 dias, até que haja uma solução de Luanda."
A Polónia e outros países do Leste europeu já se preparam para uma possível onda de refugiados. Estima-se que até um milhão de pessoas possam fugir da Ucrânia, em caso de guerra.
"Mas não teremos condições de viver lá durante 15 dias", acrescenta Assunção.
No norte da Ucrância é tudo diferente
Próximo da Polónia vive Julieta Mambo Savikeia. A médica angolana mora há dez anos na cidade de Vinnitsya, no norte da Ucrânia. Aí, a situação é completamente diferente da de Dnipro.
"Aqui não se nota absolutamente nada, mesmo nas ruas. Só acompanhamos pelas notícias na TV o que se passa mais a Leste. Mas aqui está tudo calmo", descreve à DW África.
Mesmo assim, a médica a especializar-se em ginecologia e obstetrícia já tem um plano para o caso de a Rússia invadir a Ucrânia - fugir para a Polónia.
Nesta segunda-feira (21.02), o chefe da diplomacia angolano garantiu, em Luanda, que o Estado está a criar condições preventivas para os cidadãos que residem na Ucrânia. Em declarações à imprensa angolana, Téte António diz que o Governo está preocupado com a situação, sobretudo, dos estudantes.
Do outro lado da fronteira da Ucrânia, no país liderado por Vladimir Putin, a vida continua normal, relata Fidel Quadé.
"Não notamos nenhuma diferença. Não sentimos absolutamente nada. Provavelmente as mães dos soldados é que estejam mais preocupadas. Tudo está calmo e todas as instituições estão a funcionar normalmente", diz o guineense que vive há 18 anos no sul da Rússia.