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É possível comprar roupas de Bangladesh sem culpa?

Sanjiv Burman, de Bangladesh (ek)9 de outubro de 2015

Desastre em fábrica que deixou mais de mil mortos em 2013 chamou atenção para as condições de trabalho precárias na indústria do vestuário. Parceria criada pelo governo alemão tenta mudar esse cenário.

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Funcionária de uma fábrica têxtil em Bangladesh
Foto: Reuters

Na capital de Bangladesh, Daca, Ayesha (nome fictício) e outras mulheres aguardam o encontro com o ministro alemão da Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Gerd Müller. Todas elas, hoje unidas numa espécie de grupo de apoio, são sobreviventes do desastre no complexo têxtil Rana Plaza, que deixou mais de mil mortos no país em abril de 2013.

Como de costume, elas tiveram uma jornada de trabalho pesada. Elas chegam a trabalhar 14 horas por dia em fábricas de roupas e estão felizes com a oportunidade de expressar suas aflições sobre o trabalho e de saber um pouco mais sobre seus direitos.

Esse grupo de mulheres é uma das muitas medidas eficazes criadas pela chamada Textile Partnership (Parceria têxtil), uma iniciativa de Müller para mudar o cenário da indústria têxtil em Bangladesh.

O desabamento do Rana Plaza, ocorrido em Savar, próximo a Daca, chamou atenção mundo afora para as condições de trabalho precárias e degradantes na indústria têxtil. Muitos consumidores perceberam, por exemplo, que uma calça jeans de 15 euros não tem como ser produzida sem que alguém seja explorado em alguma das etapas de sua produção.

Remorso globalizado

Após o desastre, o conhecido "peso na consciência" do consumidor se intensificou. Mas quem é o culpado? Para que fosse possível chegar a uma solução eficaz, ficou claro que todas as partes interessadas deveriam cooperar. O resultado tinha de agradar tanto aos trabalhadores como aos fornecedores, comerciantes e consumidores. Foi nesse contexto que a Textile Partnership surgiu.

No final, todos ficaram satisfeitos com a ideia do ministro alemão de formar uma aliança. Redes como H&M, C&A, Tchibo e Aldi estavam interessadas em melhorar sua imagem e, com isso, impulsionar os negócios. As fábricas têxteis também seriam favorecidas; e, claro, os principais beneficiados seriam os próprios trabalhadores.

A particularidade dessa abordagem tão globalizada está nas medidas práticas. Uma grande peça nessa parceria, por exemplo, tem sido o grupo DBL, principal exportador de vestuário de Bangladesh, que também se juntou à iniciativa. O compromisso da empresa em mudar a situação atual ganhou uma chuva de elogios de Müller.

Bangladesch Deutsche Hilfe für Textilbranche Gerd Müller
Ministro Gerd Müller visita o país asiático para acompanhar os efeitos de sua iniciativaFoto: DW/S. Burman

A Textile Partnership aproveitou, portanto, a pressão internacional para unir as partes interessadas, na esperança de criar melhores condições de trabalho para os funcionários da indústria têxtil. Outras iniciativas internacionais na área, como a Accord e a Alliance, já existiam, também com o objetivo de melhorar as condições de trabalho e aumentar a segurança dos funcionários.

No entanto, Roy Ramesh Chandra, presidente da Federação dos Trabalhadores de Vestuário (UFGW) de Bangladesh, tem dúvidas sobre certos aspectos desses esforços, especialmente os que dizem respeito aos direitos dos trabalhadores. Há casos, por exemplo, de políticos influentes que são proprietários de fábricas têxteis, causando um óbvio conflito de interesses. Chandra enxerga esse vínculo como um grande obstáculo.

Software para indenizações

Até o momento, uma das maiores conquistas da Textile Partnership foi a criação de um Sistema Nacional de Seguro contra Acidentes de Trabalho. Uma carta de intenções foi assinada entre os governos da Alemanha e de Bangladesh, juntamente com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A Alemanha tem desempenhado um papel importante também no processo de indenização das vítimas do edifício Rana Plaza. Por exemplo, com o desenvolvimento de um software especial para calcular o valor monetário dessas indenizações.

Além disso, várias ONGs e organizações públicas do país, como a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), estão trabalhando ativamente em Bangladesh – o que certamente tem contribuído para a implementação das metas e para o início de uma nova fase da indústria do vestuário no país asiático.