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De união monetária a união de abono

11 de junho de 2012

Quase ninguém mais se espanta pela enorme quantia de 100 bilhões de euros que poderia ser necessária para salvar os bancos espanhóis. Especialistas avaliam efeitos desse tipo de resgate sobre a zona do euro.

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Foto: dapd

O governo espanhol declarou falência parcial ao admitir que não conseguiria salvar seu setor bancário sozinho. Imediatamente, o país recebeu o apoio do mundo todo pela declaração. Os preços das ações subiram, o euro ganhou robustez novamente.

A Europa deixou claro que é capaz de agir, considera Michael Hüther, diretor do Instituto da Economia Alemã. Para o economista, a Espanha estar há algum tempo na mira dos mercados financeiros e ter de pagar juros cada vez mais altos por suas dívidas se deve aos riscos percebidos pelos investidores, não somente no tocante à solvência do país, mas sim quanto à própria existência da zona do euro.

"Obviamente os investidores não estão dispostos a comprar títulos espanhóis por suporem que, eventualmente, eles não sejam mais pagos em euro", afirmou Hüther à Deutsche Welle.

Breve euforia

Por enquanto, essa preocupação está afastada. Mas o efeito do comprimido de tranquilizante pode logo se desfazer, acredita Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank. "Já vivemos isso no passado, quando a Irlanda e Portugal entraram no pacote de resgate. A princípio, trata-se de um alívio, pois o risco de contágio é contido."

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Jörg Krämer, economista-chefe do CommerzbankFoto: Commerzbank AG

Para Krämer, o efeito poderá durar alguns dias, mas ele não acredita que seja sustentável a longo prazo. "Os problemas da Espanha não foram resolvidos", adverte.

Os bancos espanhóis estão sentados sobre um monte de empréstimos fracassados, que continua crescendo com o estouro da bolha imobiliária. O Estado luta contra grandes deficits orçamentários e, por isso, não tem mais o resgate do setor bancário sob controle. Um entre cada quatro espanhóis está desempregado, e a economia despenca. Em abril, a produção industrial recuou mais de 8% na comparação com o ano anterior.

Para Krämer, ao contrário do que muitos afirmam, a política de austeridade não é a culpada pela recessão. Muito pelo contrário. "Nos primeiros três meses, a Espanha não poupou, pois ainda estava às vésperas eleições regionais. E essa é a principal razão por que a Espanha está atrasada com a prometida redução do deficit estatal", diz. Isso, por sua vez, seria uma das causas para os problemas econômicos e de confiança no mercado.

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Um em cada quatro espanhóis está desempregadoFoto: AP

Outro tipo de união

Embora o governo espanhol tenha falhado até o momento na política econômica e fiscal, ele não precisa temer restrições rígidas como condição para o resgate. Essa é a novidade do atual plano.

Especialistas da chamada troika – formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – estão de olho nos encarregados pelo orçamento em Atenas, Dublin e Lisboa, e podem intervir na política econômica desses países. Enquanto isso, a Espanha só precisa se submeter a um tipo de controle: se as reformas terão efeito sobre o setor financeiro.

Para Krämer, o fato de a quarta maior economia da zona do euro obter os créditos de resgate sob condições tão favoráveis indica para onde caminha a união monetária europeia. "Pouco a pouco, a zona do euro transforma-se numa união de transferência de meios e de abono."

Partilhar a dívida não significa, porém, que esses países retornem ao caminho do crescimento econômico. Por isso, Krämer recusa-se a falar de "pacotes de resgate". "Os países periféricos só podem se salvar por si próprios, ao enxergarem a realidade, ajustarem sua política econômica de acordo com ela e colocarem em prática os programas de reforma e austeridade necessários", considera o economista. Os pacotes de ajuda só servem para comprar tempo, nada mais.

Autor: Zhang Danhong (lpf)
Revisão: Augusto Valente