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Zeitgeist: Por que usar Daesh em vez de Estado Islâmico?

17 de outubro de 2016

Expressão é considerada pejorativa pelos jihadistas e até proibida nos territórios por eles ocupados. Conheça essa história na coluna desta semana.

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Syrien Krieg - Rebellen mit IS-Flagge in Aleppo
Foto: Reuters/K. Ashawi

Com frequência cada vez maior, líderes internacionais referem-se ao grupo terrorista que ocupa boa parte do norte da Síria e do Iraque como Daesh, deixando de lado as várias outras denominações conhecidas, como Estado Islâmico, IS, ISIS ou ISIL. Na França, por exemplo, os governantes praticamente só usam esse termo, que também costuma ser priorizado pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

Ao usar o termo Daesh em vez de Estado Islâmico, esse líderes ocidentais rejeitam a pretensão do grupo de ser um Estado e califado e o tratam como aquilo que ele de fato é: uma associação terrorista. Além disso, os jihadistas não gostam da palavra Daesh, que tem uma conotação pejorativa. Nos seus territórios, o uso dela é proibido.

A existência de tantos nomes e siglas para designar essa organização terrorista tem a ver com a história do grupo, que trocou de nome diversas vezes.

As origens do autointitulado Estado Islâmico remontam à queda de Saddam Hussein, em 2003. Naquele ano, o jordaniano Abu Musab al-Sarkawi criou o grupo extremista sunita Jama'at al-Tawhid wal-Jihad para combater a presença americana no Iraque. O grupo é responsável pelo ataque à central da ONU em Bagdá, em 19 de agosto de 2003, no qual morreram 22 pessoas, incluindo o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

Em outubro de 2004, o Jama'at al-Tawhid wal-Jihad jurou fidelidade à Al Qaeda e trocou pela primeira vez de nome, passando a se chamar Tanzim Qaidat al-Jihad fi Bilad al-Rafidain, sendo mais conhecido como Al Qaeda no Iraque.

Em janeiro de 2006, o grupo se uniu a vários outros numa organização chamada Majlis Shura al-Mujahideen fi al-Iraq. Com a morte de Zarqawi, em junho, o novo líder passou a ser o egípcio Abu Ayyub al-Masri.

Foi em outubro de 2006 que essa organização central foi substituída pelo Estado Islâmico no Iraque, ou Ad-Dawla al-Islamiya fi al-Iraq. Em inglês, a sigla ISI passou a ser utilizada pela imprensa para se referir ao grupo. Em maio de 2010, Abu Bakr al-Baghdadi virou o novo líder.

Em abril de 2013, Baghdadi decide fusionar o ISI com a organização Jabhat al-Nusra, também conhecida como Frente al-Nusra e de forte presença na Síria. Assim, ele dá ao novo grupo o nome de Al-Dawla al-Islamiya fi al-Iraq wa al-Sham, ou Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

Como Al-Sham designa a Síria histórica, também chamada de Grande Síria ou Levante, o nome do grupo era traduzido pela imprensa às vezes como Estado Islâmico no Iraque e no Levante e às vezes como Estado Islâmico no Iraque e na Síria, dando origem às siglas, em inglês, ISIS e ISIL.

A Frente al-Nusra, porém, não concordou com a fusão com o ISI e jurou fidelidade à Al Qaeda. A decisão levou Baghdadi a romper com a Al Qaeda e, desde então, os dois grupos são inimigos. Baghdadi manteve, porém, o novo nome do seu grupo.

Em junho de 2014, a organização passou por sua última renomeação. Baghdadi declarou um califado nos territórios conquistados, que passavam a ser chamados de Estado Islâmico, numa referência não ao grupo, mas ao Estado que este pretendia criar na região ocupada.

A renomeação nunca se impôs no mundo árabe, que preferiu manter o uso da palavra Daesh para se referir ao grupo. O termo tem sua origem na sigla em árabe para Al-Dawla al-Islamiya fi al-Iraq wa al-Scham, ou Daiish ou ainda Da'ish. A pronúncia lembra a palavra árabe dahes, que significa "aquele que semeia a discórdia" ou "aquele que tenta impor sua vontade", ou ainda a palavra daes, que significa "aquele que pisoteia". Por isso, passou a ser usada, de uma forma também irônica, por quem se opõe ao grupo.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.