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Uma pálida sombra de si mesmo

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
13 de outubro de 2020

Últimos resultados da seleção alemã mostram que Alemanha está longe de fazer parte da elite mundial do futebol. Joachim Löw, porém, parece viver em outra realidade e torcedor cada vez mais se afasta da "Mannschaft".

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Fußball Länderspiel Ukraine - Deutschland Toni Kroos
Alemanha ganhou de 2 a 1 da Ucrânia na Liga das NaçõesFoto: Marvin/Ges/picture alliance

Desde a desastrosa campanha na Copa de 2018, a seleção da Alemanha, comandada por Joachim Löw desde 2006, disputou oito partidas contra os grandes do futebol mundial. Enfrentou França, Espanha, Argentina e Holanda. Nesses oito confrontos obteve apenas uma vitória, tendo empatado quatro e sendo derrotada em três. É fácil concluir que a Alemanha já não faz mais parte, pelo menos por ora, da elite do futebol mundial. Atualmente é apenas uma pálida sombra daquele time de 2014.

Muitos atribuem a atual fase decadente da Mannschaft ao técnico Joachim Löw que dois anos depois do vexame em campos russos não conseguiu, nas vinte partidas disputadas desde então, montar uma espinha dorsal capaz de dar consistência tática e técnica ao time. Nesse tempo foram utilizados 40 jogadores. É um atestado de sua incapacidade de encontrar substitutos à altura de Boateng, Hummels e Müller, aposentados compulsoriamente por Löw no ano passado, além de Lahm, Schweinsteiger e Klose que penduraram as chuteiras de vez.   

A recente vitória na bacia das almas sobre uma Ucrânia dizimada pela covid-19 apenas fez recrudescer a onda de críticas ao trabalho do treinador.

Para Bastian Schweinsteiger, ícone do esquadrão campeão mundial de 2014 e atual comentarista da emissora alemã de televisão ARD, "já não é mais possível se identificar 100% com a seleção nacional porque não se vê um plano tático claro, inúmeras oportunidades claras de gol são desperdiçadas, muitas bolas são perdidas facilmente para o adversário e automatismos coletivos praticamente não existem por causa das contínuas modificações na equipe".

Schweinsteiger tem razão nas suas críticas. Não é de hoje que o time parece ficar perdido em campo, especialmente quando leva um gol. O frágil esquema de jogo desmorona como por encanto e vitórias, que pareciam certas, se transformam em reveses.

As deficiências que acompanham a Alemanha desde a catastrófica Copa da Rússia são clamorosas e visíveis a olho nu. Isso ficou claro já na primeira temporada da Liga das Nações quando França e Holanda fizeram gato e sapato da Mannschaft que, a rigor, deveria ser rebaixada para a Liga B. Só não foi por uma mudança de regulamento no tapetão.

Fato é que há mais de dois anos a tetracampeã mundial anda muito, mas não sai do lugar.

Arsene Wenger, num recente programa de TV, acrescentou outro aspecto à discussão: "A Alemanha não conta mais com jogadores de alto nível no meio campo para construir jogadas e abrir espaços além de sentir muita falta de um centro-avante de classe mundial, matador e versátil ao mesmo tempo".

Diante da avalanche de críticas, Löw se mostra impassível: "Todos tem direito a críticas, mas estou acima dessas coisas. Convivo com opiniões diferentes há anos. Eu vejo a situação como um todo e estamos no caminho certo rumo à Eurocopa. Temos um plano claro e temos convicção disso. Confio nos meus jogadores e sabemos o que estamos fazendo".

Palavras ditas logo depois da medíocre vitória sobra uma Ucrânia improvisada por conta dos muitos jogadores contaminados pelo vírus.

Löw dirige a Nationalelf  há 14 anos e se tem alguma coisa que sabe fazer é responder perguntas incômodas de repórteres com uma calma franciscana de dar inveja. Tem-se a impressão de que ele paira muito acima dos problemas apontados pela imprensa esportiva.

Uma análise mais apurada de suas respostas durante essa coletiva de imprensa deixa transparecer, porém, que o técnico vive numa outra realidade. É preciso estar muito alienado do mundo real do futebol para responder dessa forma a perguntas críticas perfeitamente justificadas diante da situação lamentável em que se encontra a seleção alemã.

Talvez essa bolha na qual vive Joachim Löw também seja um dos motivos pelo qual o torcedor comum cada vez mais se afasta da Mannschaft, além dos escândalos financeiros envolvendo a Federação Alemã de Futebol (DFB).

Como bem disse Bastian Schweinsteiger: "Está cada vez mais difícil se identificar 100% com a seleção".  A tese de Basti é confirmada pelos índices decrescentes de audiência. Cada vez menos torcedores ligam a TV para ver os jogos da equipe tetracampeã mundial que se tornou uma pálida sombra de si mesmo.       

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. 

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.