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Ultradireita vence eleição em distrito na Alemanha

25 de junho de 2023

Com vitória em Sonneberg, na Turíngia, AfD garante seu primeiro gabinete distrital, derrotando frente democrática formada por todos os principais partidos do país. Políticos e organizações alemães expressam indignação.

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Robert Sesselmann, no centro, ao lado de Tino Chrupalla e Björn Höcke
Robert Sesselmann (centro) foi eleito líder distrital em Sonneberg. Björn Höcke, à esquerda, é o líder da AfD na TuríngiaFoto: Jacob Schröter/IMAGO

Um candidato do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) foi eleito neste domingo (25/06) líder do distrito de Sonneberg, no estado da Turíngia – marcando a primeira vez em que a legenda garante um cargo alto a nível local.

Robert Sesselmann venceu o segundo turno da eleição em Sonneberg com 52,8% dos votos, duas semanas depois do primeiro turno, causando consternação em todo o país.

Seu adversário, o atual líder distrital Jürgen Köpper, da União Democrata Cristã (CDU), obteve 47,2% – apesar de ter sido apoiado por todos os principais partidos alemães: Partido Verde, Partido Social-Democrata (SPD), Partido Liberal Democrático (FDP) e A Esquerda.

A eleição é o mais recente sucesso da legenda que atingiu níveis recordes de popularidade em sondagens nacionais recentes, enquanto tenta capitalizar uma onda de descontentamento com a coalizão de governo do chanceler federal Olaf Scholz (SPD) com os verdes e o FDP, envolta em disputas internas sobre políticas e orçamento.

Com 19% a 20% de apoio nas pesquisas, atrás dos conservadores, a AfD tem explorado os temores dos eleitores sobre recessão, migração e transição verde, afirmam analistas. O partido planeja inclusive nomear um candidato a chanceler federal nas eleições de 2025.

Particularmente forte na região da antiga Alemanha Oriental comunista, a legenda pode vencer as eleições estaduais do ano que vem em três estados do Leste, segundo sugerem as pesquisas.

O distrito de Sonneberg, localizado no Leste alemão, na divisa com a Baviera, é um dos menores da Alemanha, com uma população de 57 mil habitantes. Mas analistas afirmam que a vitória clara da AfD no distrito envia um sinal para Berlim, especialmente numa eleição em que todos os outros grandes partidos uniram forças em uma frente contra a ultradireita.

"Adeus à democracia"

O secretário do Interior do estado da Turíngia, Georg Maier (SPD), descreveu o resultado em Sonneberg como "um sinal de alarme para todas as forças democráticas".

Ele clamou para que interesses político-partidários sejam deixados de lado em prol de um esforço conjunto em defesa da democracia. Segundo Maier, a política é uma competição pelas melhores ideias, e não pelo maior ultraje.

O Conselho Central de Judeus na Alemanha também expressou profundo choque com o resultado. "Para ser claro: nem todos os eleitores da AfD têm pontos de vista extremistas de direita", afirmou o presidente da federação judaica, Josef Schuster. "Mas o partido dos candidatos em quem eles votaram é de extrema direita, de acordo com o Escritório de Estado para a Proteção da Constituição."

Schuster disse estar profundamente preocupado com o fato de tantas pessoas concordarem com a legenda. "É uma violação que as forças políticas democráticas deste país não podem simplesmente aceitar."

O Comitê Internacional de Auschwitz também expressou horror. "Hoje é um dia triste para o distrito de Sonneberg, para a Alemanha e para a democracia. A maioria dos eleitores obviamente disse adeus à democracia e deliberadamente optou por um partido de extrema direita de destruição dominado por um nazista."

A força da AfD

Na Turíngia, a AfD e seu líder estadual, Björn Höcke, foram classificados como extremistas pelos serviços de inteligência domésticos e estão oficialmente sob observação. Höcke é a principal figura da ala mais extrema do partido e, embora seja apenas líder da legenda na Turíngia, é considerado umas das pessoas mais influentes da AfD.

Neste domingo, ele saudou o resultado, afirmando ser um prelúdio para mais vitórias a níveis local e estadual. "Vamos nos preparar para as eleições estaduais no Leste, onde podemos realmente criar um terremoto político", disse, referindo-se às eleições parlamentares nos estados da Saxônia, Turíngia e Brandemburgo.

Enquanto partidos de extrema direita têm ganhado terreno na Europa, a força da AfD é particularmente sensível na Alemanha devido ao passado nazista do país. O partido se opõe às sanções econômicas contra a Rússia em meio à guerra na Ucrânia, e põe em xeque a ação humana como a causa da mudança climática.

Neste mês, a agência de inteligência doméstica alemã afirmou que o extremismo de direita representa a maior ameaça à democracia no país, e alertou os eleitores sobre o apoio à AfD.

Formada há uma década como um partido contrário ao euro, a legenda ganhou popularidade após a crise migratória de 2015, capitalizando o movimento anti-imigração, e entrou no Parlamento alemão pela primeira vez em 2017, tornando-se oficialmente um partido de oposição.

Em Sonneberg, a campanha de Sesselmann se concentrou mais em questões nacionais do que locais, como as altas taxas de inflação e o aumento da imigração. Como líder distrital, contudo, ele cuidará de questões mais cotidianas, como creches e manutenção de prédios e estradas.

ek (DPA, Reuters, ots)