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"Trump devia procurar seu advogado", diz ex-assessor de Bush

Michael Knigge av
27 de janeiro de 2019

Em entrevista à DW, Richard Painter, conselheiro na Casa Branca de 2005 a 2007, mostra como indiciamento de Roger Stone fecha um arco que prova conluio na campanha de 2016 e leva a Trump e família: um momento perigoso.

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Roger Jason Stone Jr. US-amerikanischer Politikberater
Foto: picture-alliance/Zuma/D. Christian

Sobre Roger Stone, aliado e conselheiro de longa data do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pesam acusações de obstrução de processo oficial e manipulação de testemunhas, assim como outras cinco de falso testemunho.

Ele foi preso nesta sexta-feira (25/01) com base em conclusões da investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller sobre a presumível ingerência russa na campanha republicana à presidência americana em 2016.

A DW entrevistou sobre o assunto Richard Painter, principal assessor jurídico sobre ética na Casa Branca de 2005 a 2007, durante o mandato do presidente George W. Bush. Ele é professor de direito da Universidade de Minnesota e membro da diretoria do grupo de vigilância legal Citizens for Responsibility and Ethics in Washington (CREW).

Segundo Painter, a situação não está boa para Trump ("Ele deveria falar com seu advogado pessoal."), nem para os EUA, com um líder, de "comportamento irracional" e com armas nucleares em seu poder, cada vez mais encurralado pelos resultados e ações da investigação Mueller.

DW: Por que é tão significativo o indiciamento e prisão do assessor de longa data de Donald Trump Roger Stone?

 Richard Painter assessor de ética de George W. Bush durante dois anos
Richard Painter assessorou George W. Bush durante dois anos em questões de éticaFoto: University of Minnesota Law School

Richard Painter: Trata-se de evidência direta de conluio entre altos funcionários na campanha presidencial de Trump e o WikiLeaks, a fim de obter documentos roubados pelos russos na eleição de 2016. Há outras provas nesse sentido, claro. Portanto isso claramente fecha o arco e deixa evidente que a campanha de Trump estava conspirando com os russos, com o WikiLeaks, para obter e-mails prejudiciais, roubados de [então candidata democrata] Hillary Clinton e do Comitê Nacional do Partido Democrata (DNC).

Embora o presidente Trump não esteja diretamente envolvido nesse novo inquérito, é possível que venha a sê-lo, no futuro?

Certamente. O presidente e altos funcionários atuantes da campanha, incluindo até mesmo, ou provavelmente, Jared Kushner (genro do presidente) e Donald Trump Jr. (filho), que estiveram no encontro com os russos na Trump Tower para conversar sobre informações comprometedoras que queriam conseguir a respeito de Hillary. Então, tudo está começando a se encaixar. É uma situação bem ruim para o presidente Trump.

Da acusação consta que "uma figura da liderança da campanha Trump recebeu instruções para contatar Stone sobre qualquer revelação adicional e outras informações danosas que a Organização I tivesse sobre a campanha Clinton". Quem poderia ser esse chefe de campanha?

Não sabemos. Há alguma especulação de que fosse Steve Bannon, mas simplesmente não sabemos, a esta altura. Bannon estava muito ligado à Cambridge Analytica e vários outros grupos que empregam tecnologia para conduzir atividades de campanha na eleição. Mas simplesmente não se sabe.

O senhor diria que esse é o indiciamento mais significativo, até o momento?

É, sem dúvida, um dos mais importantes. Lembre que já tivemos o diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, acusado, julgado, condenado. Tivemos Rick Gates, vice-diretor de campanha, acusado, julgado, condenado. Temos o advogado dele Michael Cohen, que foi preso, julgado e se declarou culpado. E vários outros funcionários próximos ao presidente já sendo considerados culpados de atividade criminosa grave. Mas este é definitivamente muito, muito significativo.

Steve Bannon e Donald Trump
Ultradireitista Steve Bannon (dir.), eminência parda da campanha e primeiros meses da presidência TrumpFoto: picture alliance/AP Photo/E. Vucci

O que isso representa agora para o próprio Trump, e quão perigoso é para ele e sua campanha?

É muito perigoso para os Estados Unidos, pois à medida que os promotores chegam cada vez perto de Donald Trump e seus chefes de campanha, incluindo sua própria família, estamos muito preocupados que o comportamento irracional dele possa se agravar. E trata-se de uma situação perigosa, com ele no controle de armas nucleares e tendo todo o poder que tem.

O senhor disse que o indiciamento de Stone prova conluio e fecha o arco. O que espera como próximo passo na investigação Mueller?

Eu esperaria que a pessoa do outro lado dessa conversa, o chefe de campanha de Trump, seja indiciado, porque se trata claramente uma conspiração entre os dois. Eu esperaria esse passo provavelmente para breve. E aí temos os outros líderes de campanha e o próprio presidente, que todo o tempo esteve praticando obstrução da Justiça.

O senhor foi assessor de ética do presidente George W. Bush. Se assessorasse Trump, o que lhe diria agora?

Ele devia falar com o advogado pessoal dele, pois no momento ele e os membros de sua família estão seriamente expostos a acusações criminais. E como disse antes: acho que há tanta evidência adicional, que ele realmente precisa entrar num acordo com os promotores.

Os promotores federais e do estado de Nova York estão todos de olho nele e em sua família. Ele provavelmente também deveria renunciar à presidência em troca de alguma clemência. Acho que seria bem melhor para Trump negociar um acordo de confissão.

Mas é importante notar que o que se apresentou contra Stone foi um indiciamento, só isso, e não a condenação por um tribunal. Então, considerando essa ação e a evidência apresentada pela comissão Mueller, até que ponto a coisa é conclusiva?

Parece muito convincente. A equipe de Mueller avançou de forma muito deliberada, há quem diria "lenta", mas quando indicia, se assegura completamente de ter na mão aquilo de que precisa para ganhar a causa. E tem um excelente histórico em obter acordos de confissão e condenações nesses casos. E eu partiria do princípio de que não teriam apresentado esse caso se não dispusessem de evidência fortemente contundente.

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