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Arquivos da Stasi

9 de dezembro de 2011

Roland Jahn, encarregado federal do arquivo de documentos da Stasi, extinta polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, fala à DW em entrevista exclusiva sobre a importância de se recuperar a memória histórica.

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Roland Jahn, encarregado do arquivo da Stasi
Roland Jahn, encarregado federal do arquivo da StasiFoto: picture-alliance/dpa

No centro de um gigantesco complexo de escritórios no bairro de Lichtenberg, em Berlim, localizava-se o coração da polícia secreta de um Estado desaparecido – o arquivo da Stasi, com milhões de folhas de papel acumulado durante os quase 40 anos de ditadura na ex-Alemanha Oriental.

Um monumento à vigilância do Estado sobre seu próprio povo. Arquivos e mais arquivos coletados e administrados exclusivamente pelo Ministério da Segurança em nome do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED, do alemão).

Em janeiro de 1990, mulheres e homens corajosos resolveram não se deixar mais intimidar pelos grossos muros do prédio ou pelos membros da polícia secreta e ocuparam suas instalações. Eles salvaram os arquivos da destruição e exigiram que os documentos secretos fossem abertos para os cidadãos.

Assim, a polícia secreta deixou de agir. Sem o medo da opressão não há ditadura. Os cidadãos iniciaram com isso um evento único na história alemã. Pela primeira vez, uma polícia secreta se tornava transparente, ao permitir o acesso dos cidadãos aos dados coletados sobre eles próprios.

Defesa da transparência

Também não foi fácil na Alemanha transformar o slogan da revolução pacífica "Liberdade para meu arquivo", em um processo organizado para garantir o acesso aos documentos de acordo com as normas do estado de direito. Quatro meses depois da revolução, ocorreram as primeiras eleições livres da Alemanha Oriental, já claramente marcada pela influência ocidental da República Federal da Alemanha.

Cerca de um ano mais tarde, a Alemanha celebrou sua reunificação – e a abertura dos arquivos secretos foi possível mais uma vez graças a um punhado de corajosos defensoras dos direitos civis. Durante as negociações sobre a reunificação, a ideia de um manejo transparente dos documentos da polícia secreta havia ficado no fundo da gaveta.

Representantes do comitê dos cidadãos, que guardavam os documentos desde a ocupação do arquivo, invadiram novamente a sede da Stasi e fizeram greve de fome até que fosse incluída uma passagem no contrato de reunificação, que assegurou a abertura dos documentos. Eles sabiam, o quão importantes seriam esses arquivos para o futuro.

Meses mais tarde, no início de 1992, o Escritório Federal dos Arquivos da Stasi finalmente abriu suas portas ao público. Demorou um ano e meio para se aprovar uma lei que conseguisse garantir o difícil equilíbrio entre a divulgação dos arquivos da polícia secreta e a proteção da privacidade de milhões de pessoas que, sem saber, haviam sido vigiadas e espionadas pelo Estado de regime comunista.

A verdade como única opção

Há 20 anos, o Arquivo da Stasi oferece transparência em relação ao passado. E ainda hoje o diálogo sobre o passado está longe de terminar. Mas a única maneira de superar os horrores de uma ditadura é saber como ela era. É saber quem fez o quê, como e por quê. Assumir a responsabilidade por seu próprio envolvimento, no entanto, é a tarefa mais difícil. Mas isso é algo do qual não se pode fugir.

A clara designação de responsabilidades, que agora já não são mais imputáveis, é o passo necessário para a grande meta da reconciliação. Só assim aqueles que mais sofreram sob a ditadura e foram para a prisão podem fazer as pazes com a nova sociedade e curar suas feridas. Mas o reconhecimento e a nomeação de responsáveis não são importantes apenas para aqueles que foram perseguidos. Os Arquivos da Stasi funcionam como uma escola de democracia. Essa é a mensagem positiva das longas sombras do passado.

Roland Jahn
Encarregado federal do arquivo dos documentos da Stasi