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EsporteChina

Tenista chinesa Peng Shuai nega acusação de abuso sexual

7 de fevereiro de 2022

Em entrevista ao jornal francês "L'Équipe" monitorada pelo Comitê Olímpico chinês, esportista disse ter apagado "porque quis" um post em que parecia acusar membro do Partido Comunista de forçá-la a ter relações sexuais.

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Close da tenista chinesa Peng Shuai durante partida do Aberto dos Estados Unidos em Nova York, em 2014. Ela olha para o outro lado de uma quadra e segura a raquete, apenas visível em sua parte superior, com a mão esquerda. Peng está com o punho da mão direita cerrado, como se comemorasse um ponto.
Foto: Monika Graff/UPI Photo/imago images

Em entrevista ao jornal esportivo francês L'Équipe nesta segunda-feira (07/01), realizada na presença de um funcionário do Comitê Olímpico Chinês, a tenista Peng Shuai afirmou nunca ter acusado ninguém de abuso sexual e anunciado sua aposentadoria do esporte.

Em novembro, na rede social chinesa Weibo, Peng aparentou acusar um ex-dirigente do Partido Comunista Chinês de abuso sexual. O post foi rapidamente apagado da plataforma.

Apesar de visar esclarecer a situação atual de Peng, a entrevista deixou questões em aberto sobre seu bem-estar e sobre os detalhes exatos da acusação.

O que se sabe sobre o caso Peng Shuai?

Depois que o post foi removido da plataforma Weibo, Peng Shuai não foi mais vista em público durante três semanas. Em dezembro, ela divulgou uma declaração afirmando ter havido um "mal-entendido" sobre o post, e frisando que não acusara ninguém de abuso sexual.

Porém as comunidades esportiva e internacional continuaram preocupadas com o paradeiro, a segurança e a capacidade de Peng de falar livremente. A esportista chinesa, que já foi campeã de duplas em Wimbledon e no Aberto da França, não atualizou seu perfil na rede Weibo desde que o post foi apagado. Buscas por seu nome na plataforma tampouco mostram resultados recentes.

O fato de ficar longe dos olhos do público suscitou questões sobre seu paradeiro, tanto por usuários de internet quanto por esportistas e fãs fora da China – em parte por o país ter um histórico de fazer desaparecer quem denuncie os líderes do partido no poder.

O que Peng Shuai escreveu no post

Num texto extenso, Peng escreveu que Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro e membro da Comissão Permanente do politburo do Partido Comunista, a forçou a ter relações sexuais com ele, sete anos atrás, apesar de ela ter recusado repetidas vezes. Depois disso, ela teria se apaixonado por ele.

"De início, enterrei isso tudo no meu coração", escreveu Peng. "Por que você me procurou novamente, me levou à sua casa e me forçou a ter relações sexuais com você?". Zhang não comentou a acusação.

A entrevista da esportista de 36 anos ao L'Équipe ocorreu sob condições severas, definidas por funcionários olímpicos chineses. As perguntas, enviadas com antecedência, e as respostas, traduzidas a partir do chinês, tiveram que ser publicadas palavra por palavra, sem questionamentos além do roteiro estabelecido previamente.

Boletim de Notícias (07/02/22)

O jornal não questionou, por exemplo, porque a tenista teria publicado o post apenas para apagá-lo depois, "porque quis". Esse foi o primeiro encontro com a imprensa não-chinesa desde a acusação, da qual ela se distanciou.

"Abuso sexual? Eu nunca escrevi que alguém me forçou a me submeter a um abuso sexual", rebateu. "Esse post resultou num enorme mal-entendido pelo mundo de fora", disse Peng. "Desejo que o significado desse post não seja mais distorcido", afirmou.

Grande parte da longa entrevista realizada num hotel em Pequim e organizada pelo Comitê Olímpico Chinês se concentrou na carreira de Peng Shuai. Depois de várias cirurgias no joelho e sem jogar profissionalmente desde fevereiro de 2020, ela disse que não se vê voltando ao tênis profissional.

Surpresa com preocupação internacional

Indagada se teve problemas com as autoridades chinesas desde a publicação do post, Peng não respondeu diretamente, mas fez questão de separar "emoções, esporte e política". "Meus problemas românticos, minha vida privada, não deveria ser misturada com esporte e política". Em sua vida não haveria "nada especial", desde a publicação do post.

A tenista ainda agradeceu a outros esportistas de sua categoria que expressaram preocupação, incluindo Serena Williams, que venceu o Grand Slam 23 vezes e que tuitou "não devemos ficar em silêncio", em novembro, exigindo uma investigação do caso.

Grupo de apoiadores da tenista chinesa Peng Shuai usa camiseta questionando sobre seu paradeiro no Aberto da Austrália, em janeiro
Apoiadores de Peng Shuai usam camiseta perguntando sobre seu paradeiroFoto: Hamish Blair/AP Photo/picture alliance

Mostrando-se surpresa, Peng comentou: "Eu gostaria de saber por que tanta preocupação. Nunca desapareci. É que muita gente, como meus amigos e, entre eles, funcionários do COI, me mandaram mensagens, e foi totalmente impossível responder a tantas."

A Associação Feminina de Tênis (WTA, na sigla em inglês) suspendeu todos os torneios da organização na China, preocupada com a segurança de Peng. Esta disse ter estranhado receber e-mails e mensagens de uma unidade de saúde mental da WTA: "Por que eu precisaria de ajuda psicológica ou coisa do tipo?"

Movimentação do Comitê Olímpico Internacional

Segundo relatos da imprensa internacional, tanto a entrevista quanto o anúncio de que Peng encontrou o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, no último sábado, parecem tentar dispersar as persistentes preocupações internacionais sobre a tripla campeã olímpica. Temores pela segurança de Peng ameaçaram se sobrepor aos Jogos Olímpicos de Inverno que transcorrem desde a sexta-feira em Pequim.

O COI também se movimentou para desarmar a situação nesta segunda-feira. Além de citar o jantar com Bach, afirmou que Peng também assistiu a uma disputa de curling entre a China e a Noruega, acompanhada da zimbabueana Kirsty Coventry, membro do COI.

Em sua coletiva de imprensa diária, o porta-voz do COI, Mark Adams, não detalhou se o órgão acredita que Peng está se manifestando livremente ou se está sendo pressionada. "Somos uma organização esportiva, e nosso trabalho é ficar em contato com ela e, como explicamos no passado, realizar uma diplomacia pessoal e silenciosa, como temos feito."

No momento, o COI não pode julgar se deveria haver uma investigação sobre as alegações iniciais da tenista. "Acho que podemos dizer que estamos fazendo de tudo para garantir que a situação seja como deveria ser", alegou Adams.

rk/av (AFP, Reuters, AP, DW)