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Seduzido pelo ouro do mecenas, Hertha está à beira da ruína

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
11 de outubro de 2022

Em pouco mais de três anos, o sonho do "Big City Club" movido a muito dinheiro se tornou um pesadelo que deixou a equipe à beira da ruína e sua torcida à beira de um ataque de nervos, escreve Gerd Wenzel.

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Time do Hertha Berlim abraçado diante de sua torcida no estádio
Equipe do Hertha diante da torcida na partida contra o Bayer LeverkusenFoto: O.Behrendt/Contrast/IMAGO

Era para ser um inédito e revolucionário experimento do centenário clube da capital alemã. Em fins de julho deste ano, o Hertha festejava 130 anos de vida e, na semana das comemorações, "a velha senhora" fez sua estreia na temporada 2022/2023 jogando com o Eintracht Braunschweig. Era a primeira rodada da Copa da Alemanha e, para espanto da fiel torcida berlinense, o Hertha perdeu e foi eliminado do torneio.

Seria esse um mau presságio do que ainda estava por vir?

Foram muitas as expectativas geradas pelo volumoso aporte de 374 milhões de euros do investidor Lars Windhorst no decorrer dos últimos três anos. Desde setembro de 2019, o bilionário já havia investido 224 milhões de euros, aos quais foram adicionados posteriormente mais 150 milhões.

Naquela ocasião, Windhorst proclamava aos quatro ventos que o objetivo de tamanha injeção de capital novo era transformar o Hertha num "clube da primeira prateleira na Alemanha e na Europa, será um Big City Club", prometia.

Em 8 de novembro de 2019, Jürgen Klinsmann foi chamado para fazer parte do Conselho Administrativo e apenas três semanas mais tarde assumiu também o cargo de técnico. Aos jornalistas presentes na coletiva de imprensa, Klinsmann assegurava: "Estou feliz por fazer parte deste excitante projeto de futebol. Berlim não perde por esperar porque algo grandioso vai acontecer".

A saída de Klinsmann

Nenhum clube do mundo gastou mais na janela de transferências em janeiro de 2020 do que o Hertha Berlim – foram 80 milhões de euros gastos com a compra de jogadores exigidos por Klinsmann.

O experimento com Jürgen Klinsmann teve curtíssimo prazo de validade. Durou pouco mais de dois meses. Em 11 de fevereiro de 2020, o técnico anunciava, através de seu perfil no Facebook, que não tinha mais interesse em continuar no cargo. Assim, sem mais nem menos. Justificou sua decisão por supostamente não ter recebido da diretoria todo o poder que julgava necessário para exercer sua função a contento.

A intempestiva decisão de Klinsmann surpreendeu o mecenas: "Talvez como adolescente alguém possa se dar ao luxo de agir dessa maneira, mas na vida empresarial de adultos esse tipo de comportamento birrento é inaceitável". Desde então, mais cinco treinadores passariam pelo clube em pouco mais de dois anos, sinalizando o descalabro administrativo que tomou conta do clube.

 

Por ironia do destino e a exemplo de Jürgen Klinsmann, o bilionário Lars Windhorst acaba de anunciar, também via Facebook, que não existem mais condições para manter o engajamento financeiro do seu grupo empresarial Tennor com o Hertha Berlim: "Os fundamentos de uma cooperação mútua estão destruídos", declarou.

Ao mesmo tempo, Windhorst quer seu dinheiro de volta: "O clube pode recomprar as quotas que adquiri pelo valor de compra, ou seja, 374 milhões de euros". Ocioso dizer que o Hertha Berlim não tem condições de desembolsar tamanho montante e é justo perguntar: quem vai comprar as ações de Windhorst, que nem de longe valem atualmente 374 milhões de euros?

Ruína financeira e esportiva

O Hertha está praticamente falido e achar um novo investidor a esta altura numa Europa convulsionada pela guerra na Ucrânia beira a uma missão impossível. Analistas econômicos avaliam que o valor de mercado do Hertha gira em torno de 150 milhões de euros e que as quotas acionárias já estariam sobrevalorizadas quando foram adquiridas por Windhorst no biênio 2019 e 2020.

O clube agora jaz em ruínas não só financeira, mas também esportivamente. Desde a chegada do mecenas, o Hertha foi ladeira abaixo. Se em 2020 ainda ficou num honroso décimo lugar na Bundesliga, em 2021 caiu para o 14º posto e em 2022 teve que disputar a repescagem com o Hamburgo para não passar uma temporada na segunda divisão.

Hertha Berlim, fundado em 15 de julho de 1892. Hertha Berlim, com seus escândalos, seus nepotismos, suas vaidades. Esse Hertha tem um significado para muitos berlinenses, seja nas derrotas, seja nas vitórias - lá estavam juntos, chorando ou sorrindo com sua "Velha Senhora".

Em pouco mais de três anos, o sonho do "Big City Club" movido a muito dinheiro se tornou um pesadelo que deixou o clube à beira da ruína e sua torcida à beira de um ataque de nervos.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.