Scholz: adesão da Ucrânia à Otan está "fora da agenda"
14 de fevereiro de 2022O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou nesta segunda-feira (14/02) que uma eventual adesão da Ucrânia à Otan é um tema "praticamente fora da agenda" no momento, e que isso não deveria se tornar o motivo de uma crise política de grandes proporções e da crescente tensão militar entre a Rússia e o Ocidente. A declaração foi dada após uma reunião de quase três horas entre Scholz e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev.
Uma das demandas do presidente russo, Vladmir Putin, para desescalar a mobilização de cerca de 130 mil militares russos na fronteira com a Ucrânia, é uma garantia de que a ex-república soviética, que nos últimos anos vem se aproximando politicamente e economicamente do Ocidente, não será admitida como membro da Otan.
"A questão da adesão à aliança é praticamente não existente, e portanto é, de alguma forma, peculiar o governo russo estar fazendo algo que praticamente não está na agenda se tornar objeto de grandes problemas políticos", disse Scholz. "Esse é o desafio que estamos enfrentando atualmente: que algo que no momento não é relevante esteja se tornando um problema."
A fala do chanceler federal da potência econômica e país exportador de armamentos que integra a Otan, sugere dificuldades com a pretensão da Ucrânia de se tornar membro da aliança militar, e constitui um sinal para Putin.
Após a reunião com Scholz, Zelenski, por sua vez, disse que seu país continuará a buscar se tornar um membro da Otan, a despeito da irritação que isso provoca na Rússia e do ceticismo de alguns países do Ocidente.
"Hoje, muitos jornalistas e muitos líderes estão de certa forma sugerindo à Ucrânia que é possível não assumir riscos, não mencionar constantemente a questão de uma adesão futura à aliança, porque esses riscos estão associados a uma reação da Rússia. Acredito que nós devemos seguir no caminho que escolhemos."
O chefe de Estado ucraniano acrescentou que a opção de seu país não se tornar um membro da Otan "não é um sinal vindo da Ucrânia", mas de outras nações.
Apoio financeiro
Após a reunião com Zelenski, Scholz também anunciou um novo apoio financeiro alemão para a Ucrânia, no valor de 150 milhões de euros (R$ 886 milhões), e que vai acelerar a transferência de outros 150 milhões de euros referentes a um empréstimo já formalizado anteriormente.
O líder alemão enfatizou que "nenhum país do mundo apoiou financeiramente a Ucrânia de forma mais intensa como a Alemanha nos últimos oito anos". Segundo ele, nesse período a Alemanha transferiu para a Ucrânia cerca de 2 bilhões de euros, que teriam contribuído para o país se tornar "mais resiliente e independente contra influência estrangeira". "Posso garantir a vocês que estamos determinados a prosseguir com este apoio", afirmou Scholz.
Quanto a um pedido da Ucrânia para que a Alemanha autorize a exportação de armamentos para o país, Scholz apenas fez referência à lei alemã que restringe esse tipo de exportação para áreas de conflito.
Alemanha pronta a aplicar sanções
O político social-democrata alemão afirmou ainda que Berlim espera que a Rússia aceite a proposta de países do Ocidente para a realização de conversas sobre segurança, que o acúmulo de soldados russos próximos da fronteira ucraniana não era compreensível e que Moscou enfrentará sanções pesadas se houver uma invasão da Ucrânia.
"Estamos prontos para a qualquer momento tomar as decisões necessárias. [...] Se a Rússia violar a integridade territorial da Ucrânia novamente, sabemos o que fazer", reforçou. "A integridade territorial [...] da Ucrânia é inegociável para a Alemanha."
Scholz se reunirá nesta terça-feira com Putin em Moscou. O chanceler federal alemão adiantou que nessa conversa ressaltará as pesadas consequências econômicas que a Rússia vai enfrentar, se invadir a Ucrânia, as quais podem afetar, entre outros, bancos russos e o gasoduto Nord Stream 2.
Tensão crescente
Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou que a Rússia poderia invadir a Ucrânia a qualquer momento, e o presidente americano, Joe Biden, pediu aos cidadãos americanos na Ucrânia que deixem o país.
No sábado, o Ministério do Exterior da Alemanha também aconselhou cidadãos alemães a deixarem a Ucrânia, e anunciou o fechamento de seu consulado em Donetsk, no leste do país – a embaixada alemã em Kiev permanece aberta, ao menos por enquanto.
Outros países, como Reino Unido, Canadá, Noruega, Nova Zelândia, Dinamarca, Holanda, Coreia do Sul, Letônia e Estônia, também pediram a seus cidadãos que abandonassem a Ucrânia.
bl/av (DPA, AFP, Reuters)