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Saída de Mattis abre incógnita nas relações externas dos EUA

21 de dezembro de 2018

Observadores veem 'encruzilhada' na renúncia de James Mattis como Secretário da Defesa e questionam compromissos americanos com alianças internacionais. Mattis deixou claro que decidiu sair por discordar de Donald Trump.

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James Mattis
Mattis disse que vai deixar o cargo para que o presidente "possa escolher alguém que esteja mais alinhado às suas ideias"Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh

Após o anúncio pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o secretário de Defesa, James Mattis, deixará o cargo no fim de fevereiro, poderão aumentar as preocupações dos governos europeus em relação à política externa americana. 

"Há enormes preocupações quanto ao comprometimento do governo Trump para com as relações transatlânticas de segurança", afirmou o analista para o Oriente Médio Markus Kaim, do Instituto Alemão para Temas Internacionais e de Segurança. Em entrevista à DW, ele acrescentou que Mattis era considerado um garantidor da manutenção dessas relações. "Com sua saída, aumentam ainda mais as preocupações nas capitais europeias", observou.

Kaim alerta que um possível fim da presença americana na Síria poderá fazer com que os demais aliados, como Alemanha, França e Reino Unido, também removam suas tropas da Síria e do Iraque. "É simplesmente prematuro afirmar que o EI já está derrotado. Isso também prejudica os esforços internacionais para continuar combatendo o EI e, dessa forma, compromete as políticas 'internacionalistas' americanas".

Depois da divulgação, nesta sexta-feira (21/12), de planos do governo americano de também reduzir o contingente de tropas em solo afegão, Kaim avaliou que "isso mina os esforços da Otan no Afeganistão", lembrando ainda que a Alemanha anunciou recentemente que continuaria presente no país. "Não consigo realmente imaginar uma missão da Otan no Afeganistão sem os Estados Unidos", afirmou.

Saída

"O general Jim Mattis vai se aposentar, com distinção, no final de fevereiro, após ter servido ao meu governo como secretário de Defesa nos últimos dois anos", disse Trump no Twitter nesta quinta-feira (20/12).

"Durante o mandato de Jim, fizemos um progresso tremendo, especialmente no que diz respeito à compra de equipamentos de combate. O general Mattis foi de grande ajuda na hora de conseguir que os aliados e outros países paguem sua parte nas obrigações militares. (...) Agradeço a Jim por seu serviço", acrescentou Trump, anunciando que um novo nome para o cargo será indicado em breve.
O anúncio ocorre depois de Trump informar ontem que retiraria as tropas americanas da Síria. Mas, nos últimos meses, a relação entre os dois já não estava boa. O presidente, inclusive, chegou a se referir a Mattis como uma "espécie de democrata".

Segundo o jornal New York Times, Mattis chegou a se dirigir à Casa Branca na quinta-feira para tentar demover Trump da ideia de retirar os 2 mil militares americanos que atuam na Síria. Trump não se deixou convencer, e como resultado Mattis resolveu renunciar ao cargo.

Em sua carta de renúncia, Mattis deixou claro que decidiu sair do governo por discordar das visões do presidente.

"Enquanto os EUA permanecem como nação indispensável no mundo livre, não podemos proteger nossos interesses ou cumprir esse papel de maneira efetiva sem manter alianças fortes e mostrar respeito a esses aliados", escreveu o general reformado.

Mattis também afirmou que os EUA precisam ter uma ação "decidida e não ambígua" na hora de lidar com países com os quais os interesses do governo americano estão em "tensão crescente", como Rússia e China.

Em outro trecho da carta, em um claro sinal de que não concordou com as decisões recentes do ex-chefe, Mattis disse que achou correto deixar o cargo para que o presidente "possa escolher alguém que esteja mais alinhado às suas ideias"

"Como você tem o direito de ter um secretário de Defesa com opiniões mais alinhadas às suas nesse e em outros assuntos, eu creio ser o correto deixar a minha posição", escreveu Mattis.

'Trump desenfreado'

A ministra da Defesa da França, Florence Parly, elogiou Mattis, dizendo tratar-se de um "excelente soldado" e de um "parceiro para todas as ocasiões". Ela considerou "extremamente grave" a decisão de Trump de retirar suas tropas da Síria. "Não compartilhamos das análises de que o território do califado (outro nome para o "Estado Islâmico") tenha sido aniquilado", afirmou, reiterando que as operações devem prosseguir até que o "trabalho seja concluído".

"Mattis era o último a defender o que vinha sendo a política externa americana desde a Segunda Guerra Mundial", observou Norbert Röttgen, que preside o Comitê de Assuntos Estrangeiros do Bundestag (Câmara baixa do Parlamento alemão). "Isso marcará uma encruzilhada para a presidência de Trump. Agora, teremos um Trump desenfreado, o que é um sinal perigoso para o próximo ano."

"Nossa preocupação é sobre quem virá agora", disse Yue Gang, coronel reformado do Exército da China e observador militar em Pequim. "Se Trump escolher um lacaio que não queira servir como um ponto de equilíbrio a seus instintos, a preocupação é que o mundo se torne ainda mais instável."

Nos EUA, a renúncia do secretário de Defesa foi alvo de lamentações entre os líderes dos partidos Democrata e Republicano. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, elogiou a postura combativa de Mattis em relação à Rússia, mas se disse perturbado com o fato de sua saída ter ocorrido "por diferenças agudas com o presidente nesse e em outros aspectos essenciais da liderança global da América".

O senador Bob Menendez, o líder democrata no Comitê de Relações Internacionais do Congresso, disse se tratar de "uma indicação real de que a agenda de política externa do presidente Trump fracassou e continua a descender ao caos".

JPS/RC/dw/efe/ots

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