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O chanceler federal

Sabine Kinkartz
8 de dezembro de 2021

Pouco carismático e antes desacreditado pelo próprio partido, o pragmático social-democrata conseguiu conquistar o eleitorado e o posto de sucessor de Merkel. E agora assume o governo diante de grandes desafios.

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Olaf Scholz
Scholz foi ministro das Finanças e vice-chanceler federal no governo MerkelFoto: Michael Kappeler/picture alliance/dpa

A Alemanha tem um novo chanceler federal. O social-democrata Olaf Scholz foi eleito pelo Parlamento nesta quarta-feira (08/12) para chefiar a nova coalizão de governo, ao lado de verdes e liberais, colocando fim aos 16 anos do governo conservador de Angela Merkel.

Quando subiu ao palco na noite das eleições gerais de setembro, Scholz foi fortemente aplaudido por seus correligionários. Afinal, ele havia conseguido o que parecia impossível apenas alguns meses antes: fazer com que o SPD ficasse em primeiro lugar, com 25,7% dos votos.

Dois meses depois, o clima já era mais sóbrio quando Scholz voltou ao palco em Berlim. Desta vez, ao lado de seus parceiros de coalizão, para apresentar os resultados de várias semanas de difíceis negociações. Adotando um tom sério, o social-democrata leu uma longa lista de medidas imediatas para enfrentar a pandemia de covid-19, sublinhando a gravidade da crise sanitária em curso no país.

Surpresa social-democrata

Quem teria imaginado que o pouco carismático Scholz chegaria ao poder quando apresentou sua candidatura ao cargo de chanceler federal, em agosto de 2020?

O SPD aparecia então com 15% das intenções de voto, e Scholz não era popular nem mesmo dentro do próprio partido, tendo sido derrotado na disputa pela presidência da legenda no ano anterior. Não apenas porque a legenda ansiava por um líder explicitamente de esquerda. Mas porque o pragmático introvertido nunca havia conseguido conquistar o coração dos social-democratas.

De início, parecia quase insensato quando Scholz, de 63 anos, proclamou sem hesitação sua vontade de vencer e afirmou que seria o futuro chanceler. Mas a forma estoica com que ele realizou sua campanha parece ter sido um dos segredos do sucesso do novo chanceler.

Em comícios e debates, ele tentou projetar a imagem de um político com ampla experiência. E o SPD o apresentou como o sucessor natural de Merkel, em cujo último mandato Scholz foi ministro das Finanças e vice-chanceler.

Pragmático e pouco emotivo

Em 2003, o semanário alemão Die Zeit o apelidou de "Scholzomat", uma combinação de seu nome e "Automat", a palavra alemã para "máquina", aludindo à tendência do social-democrata usar o jargão tecnocrático e de ser insistente ao "vender" uma ideia.

É muito raro que Scholz demonstre emoções. Mesmo em momentos de alegria, ele exibe a contenção de um mordomo britânico, como observou uma jornalista. Pessoas que o conhecem e trabalharam com ele por bastante tempo afirmam que nunca o viram se exaltar ou gritar.

E, aos 63 anos, Scholz exibe uma autoconfiança que parece inabalável. Levante-se, não se deixe abater e nunca duvide de si mesmo. Este é seu lema.  

Durante a campanha eleitoral para o pleito deste ano, o candidato social-democrata teve que aprender que na política é preciso saber se vender, e, aos poucos, foi parecendo mais acessível, amigável e próximo do eleitorado. Ele até mesmo mudou seus gestos e expressões.

Quão social-democrata é Scholz?

Scholz é considerado um membro da ala conservadora do partido, mas nem sempre foi assim. Como líder adjunto da organização juvenil social-democrata Jusos, nos anos 1980, muitos de seus pontos de vista eram socialmente radicais e altamente críticos ao capitalismo. 

Mas já se passou muito tempo desde que Scholz ingressou no SPD como estudante do ensino médio, em 1975, e da sua eleição a deputado federal do Bundestag, em 1998. Em Hamburgo, ele se especializou em Direito empresarial, quando aprendeu muito sobre o funcionamento da economia e do empreendedorismo. Isso o marcou.

Porém, não foi apenas em termos de política econômica que Scholz acabou associado à ala mais conservadora do SPD. Como secretário-geral do SPD, ele defendeu o controverso programa de reforma do mercado de trabalho do início dos anos 2000, chamado Agenda 2010, que trouxe rígidos cortes em benefícios sociais, mas também proporcionou um caminho para o crescimento econômico nos anos seguintes.

Pandemia e coalizão como desafios

Desde 2007 Scholz tem ocupado cargos governamentais quase continuamente. Primeiro, como ministro do Trabalho, depois como prefeito de Hamburgo. Em 2018, ele se mudou de volta para Berlim como ministro das Finanças e vice-chanceler federal. Diz-se que ele já estava de olho na chefia de governo.

Na pandemia de covid-19, sua influência cresceu. Como ministro das Finanças, ele foi responsável por desembolsar bilhões de euros em fundos de emergência para ajudar a economia e os cidadãos do país. E ele soube aproveitar o momento para se projetar politicamente.

"Essa é a bazuca com a qual estamos fazendo o que é necessário agora", prometeu ele já na primavera de 2020, imediatamente após a pandemia também ter chegado à Alemanha.

O país tem capacidade de lidar financeiramente com a pandemia tem sido seu lema desde então. Até o fim de 2022, a Alemanha terá contraído 400 bilhões de euros em novas dívidas – e poderá superá-las, prometeu Scholz durante a campanha eleitoral: "Ninguém precisa ter medo disso, já conseguimos uma vez, depois da última crise em 2008/2009, e voltaremos a conseguir em pouco menos de dez anos.”

Neste outono de 2021, no entanto, está claro que a pandemia está longe de acabar. Os altos índices de infecção têm um impacto negativo sobre a economia, e o novo governo terá que contrair novas dívidas para apoiar as empresas.

Além do enorme desafio representado pela pandemia, o novo chanceler federal terá que gerir a coalizão governamental composta por três partes bem diferentes. Mesmo que a harmonia nas negociações da coalizão possa ter sido grande, certamente haverá disputas. Então Scholz deverá se lembrar de uma frase que disse certa vez como prefeito de Hamburgo: "Quem encomendar liderança comigo, irá recebê-la."