1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Quando começam a cair os juros?

11 de abril de 2023

Patamar elevado da taxa Selic, o mais alto desde 2016, vem gerando críticas do governo e de setores produtivos. Economistas avaliam que juros podem começar a cair no segundo semestre.

https://p.dw.com/p/4PuV5
Fachada do Banco Central do Brasil
Foto: Pedro Ladeira/AFP

O governo brasileiro acredita que a nova regra fiscal tende a impactar de forma positiva a política de juros. Na avaliação de economistas, contudo, talvez o Banco Central (BC) não se sinta seguro sobre os possíveis impactos do recém-anunciado arcabouço fiscal, o suficiente para cogitar iniciar o relaxamento da política monetária.

taxa básica de juros da economia, chamada Selic, está hoje em 13,75%, a mais alta desde 2016. Ela permanece no mesmo patamar nas cinco últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Projeções semanais, colhidas pelo BC com quase cem consultorias e instituições do mercado financeiro, apontam que a taxa chegaria ao fim do ano em 12,75%. A Selic foi criada em 1979 para controlar a inflação e é um parâmetro da situação econômica do país.

"É natural que neste processo ocorra um ajuste de convergência, uma melhora das expectativas que dialoga positivamente também com a política monetária. Isso é muito importante, pois também impacta o custo da dívida pública", disse, durante o lançamento do arcabouço, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron.

Os principais analistas que acompanham macroeconomia e finanças públicas veem com reservas o otimismo governamental.

"O trabalho apenas se inicia e, dados os riscos envolvidos em entregar os resultados que o arcabouço fiscal propõe, corre-se o risco de o Banco Central ter dúvidas sobre a viabilidade da nova regra e por isso poder atrasar ainda mais a queda de juros nos próximos anos", avalia o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Ele trabalha com a Selic em 12,25% no fim deste ano e em 10% em 2023. "Mas queda maior do que isso segue nas mãos do Executivo e do Congresso", conclui.

Fabio Giambiagi, pesquisador do  Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), conta que vem alertando desde o ano passado que, independente do vencedor das eleições presidenciais, o governo eleito teria de controlar o grau de ansiedade quanto aos juros básicos da economia, a taxa Selic.

Segundo semestre?

Nesse meio tempo, a expectativa do mercado para inflação futura saltou de 3% para 4% e, em paralelo, o conflito do Executivo com o BC escalou.

"Embora o ideal do meu ponto de vista seria que o governo recolhesse os flaps e deixasse de falar [sobre o BC], a gente sabe como é o mundo real da política. Não acho que isso vá acontecer", afirma o pesquisador do FGV Ibre.

Giambiagi antevê, contudo, que o aperto monetário pode até começar a ser relaxado ainda durante o segundo semestre deste ano. "Se você olhar para o modelo tradicional, os juros teriam que ficar em 13,75% até perto do final do ano. Mas eu acho praticamente impossível isso acontecer no atual contexto. Então os juros poderão começar a cair ao longo do segundo semestre do ano. Os juros poderão cair um pouco antes do que a prudência técnica recomendaria", conclui.

O patamar elevado da taxa vem gerando críticas crescentes do governo e setores produtivos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva critica abertamente o BC por manter os juros altos, mas o BC aponta que só reduzirá os juros quando houver sinais consistentes de queda da inflação.

Ainda sobre as expectativas, Giambiagi avalia que será difícil haver uma injeção de confiança com base no que foi anunciado na proposta do arcabouço. "Porque você fez um anúncio de déficit primário de 0,5% do PIB para este ano, que vai ser muito difícil de alcançar. Então, provavelmente já na saída, vamos ter um ano pior do que o previsto. O que não quer dizer que o número para o ano que vem não possa ser alcançado", afirma.

O economista reforça que tudo dependerá do conjunto de medidas contempladas no arcabouço fiscal e seu detalhamento, para os próximos meses, lembrando que já estamos no quarto mês do ano.