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Putin critica Ocidente e minimiza risco de conflito nuclear

27 de outubro de 2022

Líder russo diz que não se arrepende de ter enviado tropas à Ucrânia e prega o fim da hegemonia ocidental. Ele diz que não têm favorito para as eleições no Brasil e que mantém boas relações com Lula e Bolsonaro.

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Presidente russo, Vladimir Putin, gesticula durante uma entrevista
Líder russo, Vladimir Putin, acusa Ocidente de acirrar tensões nucleares. "Quem semeia vento, colhe tempestade", afirmou.Foto: Sergei Karpukhin/AP/picture alliance

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o mundo enfrenta sua década mais perigosa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e acusou o Ocidente de praticar chantagem nuclear contra seu país.

Putin fez uma aparição nesta quinta-feira (27/10) no think tank Clube de Debates Valdai, uma entidade intimamente ligada ao Kremlin, onde falou sobre vários temas, desde a guerra na Ucrânia até as eleições no Brasil.

O líder russo pregou o fim da hegemonia ocidental e minimizou o risco de um conflito nuclear.

Guerra na Ucrânia

Putin classificou o conflito na Ucrânia como uma batalha entre o Ocidente e a Rússia pelo destino da segunda maior nação eslava. Ele disse se tratar, em parte, de uma guerra civil, uma vez que russos e ucranianos seriam "um só povo", algo que Kiev rejeita categoricamente.

Ele afirmou que somente a Rússia seria capaz de "garantir a integridade territorial" ucraniana. Putin lamentou as perdas russas nas frentes de batalha, mas disse mas que o Exército de Kiev teria sofrido "fortes prejuízos" durante os oito meses da guerra.

Dezenas de milhares de pessoas morreram no conflito na Ucrânia, que levou o Ocidente a impor as mais pesadas sanções contra Moscou em toda a história.

Putin, porém, disse que não se arrepende de ter enviado suas tropas para o país vizinho. Ele acusou o Ocidente de provocar a guerra e fazer um jogo geopolítico "perigoso, sangrento e sujo" que semeia o caos no mundo.

A Rússia invadiu o país vizinho em 24 de fevereiro, dando início ao maior conflito com o Ocidente desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, no auge da Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética estiveram à beira de uma guerra nuclear.

"Decadência ocidental"

"O período histórico da dominância do Ocidente sobre as questões globais está no fim", afirmou. "Estamos chegando a uma fronteira histórica. À nossa frente está a década mais imprevisível, mais perigosa, e ao mesmo tempo, mais importante, desde o fim da Segunda Guerra."

"O poder sobre o mundo é o que o assim chamado Ocidente colocou em jogo, mas esse jogo é perigoso, sangrento e sujo", disse Putin. "Quem semeia vento, colhe tempestade."

Putin se disse convencido de que "mais cedo ou mais tarde, os novos centros da ordem mundial multipolar e o Ocidente terão de começar a conversar de maneira igual sobre o futuro que compartilharemos. Quanto antes, melhor."

Ele acusa o Ocidente de tentar impor ao resto do mundo seu modelo de sociedade e menosprezar, em especial, a Ásia.

"O Ocidente alega que seus valores e sua visão de mundo seriam, supostamente, universais. É dessa forma que se comportam", analisou Putin.

O russo pediu liberdade para outras culturas e perspectivas políticas, ao mesmo tempo em que, em seu próprio país, a oposição e a imprensa crítica ao governo são brutalmente reprimidas.

Ameaça nuclear e "bomba suja"

O russo também culpou o Ocidente pela agravamento das tensões, e disse que o risco de um conflito atômico existirá enquanto houver as armas nucleares. Ele, no entanto, assegurou que a doutrina nuclear russa é voltada para a defesa.

Ao ser perguntado sobre a comparação do momento atual com a crise dos mísseis em Cuba, ele disse que não quer ser colocado na mesma posição do antigo líder soviético Nikita Kruschev, responsável pelo agravamento das tensões, juntamente com o presidente americano John F. Kennedy.

Putin repetiu a alegação de que a Ucrânia estaria preparada para detonar a chamada "bomba suja", capaz de disseminar radiação em uma ampla área, com a intenção de atribuir a culpa a Moscou. Ele rejeitou a alegação feita por Kiev de que a denúncia significaria, na verdade, que os russos já teriam planos para utilizarem eles mesmos esse armamento.

"Não precisamos disso. Não faria sentido, de modo algum, fazermos isso", minimizou Putin. Ele pediu que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realize, o mais rápido possível, uma inspeção nas instalações nucleares ucranianas, uma vez que Kiev, segundo disse, estaria "fazendo de tudo para encobrir os traços da preparação" da "bomba suja".

Lula ou Bolsonaro?

Ao ser perguntado por um repórter da Folha de S. Paulo se tem alguma preferência entre os dois candidatos à presidência no Brasil, Putin disse que mantem boas relações tanto com Luiz Inácio Lula da Silva quanto com Jair Bolsonaro.

"Sabemos que eles têm consenso na relação com a Rússia, apesar de situações difíceis dentro do país. Não interferimos em processos políticos internos", afirmou, citado pela Folha.

O Brasil "é o nosso parceiro mais importante na região, e assim continuará. Faremos tudo para que essas relações se desenvolvam mais."

rc (DPA, Reuters, AFP)