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Premiê do Haiti demite promotor que o liga a morte de Moise

15 de setembro de 2021

Investigação aponta que Ariel Henry teria falado por telefone com principal suspeito pelo crime logo após assassinato. Premiê nega envolvimento e aponta "táticas diversionistas".

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Ariel Henry
Henry foi nomeado primeiro-ministro dias antes da morte do presidente Jovenel MoiseFoto: Matias Delacroix/AP/picture alliance

O primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, exonerou nesta terça-feira (14/09) o chefe do Ministério Público do país, Bed-Ford Claude, após ele o acusar de envolvimento no assassinato do presidente Jovenel Moise, ocorrido em julho.

A decisão de Henry foi tomada horas depois de Claude pedir a uma Corte que preside o inquérito sobre o assassinato do presidente que indiciasse o primeiro-ministro.

"Tenho o prazer de informá-lo que foi decidido exonerá-lo de seu cargo", informou o primeiro-ministro ao promotor, em uma carta divulgada ao público.

A iniciativa tem potencial para provocar mais desestabilização no país, que tenta voltar à normalidade após o assassinato do presidente e um forte terremoto em agosto.

Telefonemas suspeitos

Claude havia pedido o indiciamento do primeiro-ministro devido a supostos telefonemas que Henry teria feito a um dos principais suspeitos pela morte do presidente nas horas após o assassinato.

"Há elementos comprometedores suficientes que formam a [minha] convicção sobre a conveniência de processar o sr. Henry e solicitar seu imediato indiciamento", escreveu Claude em uma petição endereçada a um tribunal de Porto Príncipe.

Em um segundo ofício, enviado ao diretor do órgão de migração do Haiti, Claude solicitou que Henry fosse proibido de deixar o país "por sérias suspeitas relativas ao assassinato do presidente da República".

Henry já havia sido intimado a depor sobre as supostas conversas que teve apenas algumas horas após o assassinato de Moise com Joseph Badio, ex-funcionário do governo procurado em conexão com o assassinato.

O telefone de Badio foi supostamente rastreado até a área próxima à residência de Moise, quando ele ligou duas vezes para Henry na madrugada de 7 de julho, depois que o presidente havia sido morto a tiros por pistoleiros.

Segundo Claude, os telefonemas ocorreram às 4h03 e às 4h20 e duraram um total de sete minutos. Ele também mencionou que um funcionário do governo havia postado no Twitter no mês passado uma mensagem afirmando que Henry disse nunca ter conversado com Badio.

Badio é procurado pela polícia e está foragido. Ele trabalhava na unidade anti-corrupção do Ministério da Justiça, e havia sido demitido em maio após acusações de ter violado regras éticas.

Moise, uma figura política controversa, foi morto na noite de 6 para 7 de julho, quando um grupo armado invadiu sua residência particular na capital haitiana.

Na segunda-feira, o ministro da Justiça, Rockfeller Vincent, já havia requisitado proteção policial a Claude, pois o promotor vinha recebendo "graves e perturbadoras" ameaças nos últimos cinco dias. O juiz responsável pelo caso, Garry Orelien, tem três meses para avaliar os indícios e decidir como prosseguir.

Disputa de poder

Roberto Fatton, um especialistas na política do Haiti e professor na Universidade de Virgina, nos Estados Unidos, afirmou que havia uma clara disputa dentro do governo entre Henry e os apoiadores de Moise.

"Temos uma situação muito confusa, uma disputa por poder no momento, e veremos quem irá vencer", disse. "Ainda não está claro qual será a direção, e não está claro o que a comunidade internacional acha disso tudo."

Henry havia sido nomeado por Moise como primeiro-ministro dias antes da morte do presidente, e prestou juramento em 20 de julho comprometendo-se a melhorar a situação de segurança do país, apurar o assassinato e organizar eleições há muito adiadas.

Legalmente, o primeiro-ministro não pode ser processado, a menos que o presidente autorize, mas devido à morte de Moise o Haiti não tem atualmente um presidente.

Até agora, 44 pessoas, incluindo 18 colombianos e dois americanos descendentes de haitianos, foram presos em conexão com a investigação sobre o assassinato. Nenhum dos guardas de segurança do presidente foi ferido no ataque.

Henry criticou no sábado o pedido para que ele fosse interrogado: "Essas táticas diversionistas, pensadas para criar confusão e impedir que a Justiça siga o seu curso com calma, não continuarão", afirmou

"Os verdadeiros culpados, os que planejaram o odioso assassinato do presidente Jovenel Moise e aqueles que o ordenaram, serão encontrados, levados à Justiça e punidos por suas ações", disse.

bl (AFP)