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Por que a Crimeia é chave na contraofensiva ucraniana

Roman Goncharenko
15 de setembro de 2023

Kiev tem intensificado seus ataques contra a península anexada por Moscou, bombardeando posições militares russas com drones e mísseis de cruzeiro. Por que a região é considerada crucial para a guerra?

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Porto com cidade ao fundo e fumaça subindo de edifício
Fumaça sobre a Crimeia após ataque a Sebastopol em 13/09/2023Foto: IMAGO/ITAR-TASS

Pela segunda vez consecutiva, as tropas ucranianas atacaram posições militares russas na península anexada da Crimeia na manhã desta quinta-feira (14/09). Segundo a mídia ucraniana, o alvo era um sistema antiaéreo S-300 ou o ainda mais moderno S-400 próximo à cidade de Yevpatoria.

Seria o segundo sistema desse tipo atacado na Crimeia em apenas algumas semanas. Desta vez, os militares russos relataram apenas um ataque de drone supostamente repelido, sem detalhes.

Na noite anterior, a Ucrânia relatou um ataque espetacular em Sebastopol, a principal base da Frota do Mar Negro. Segundo relatos de Kiev, vários mísseis de cruzeiro atingiram um navio de guerra e um submarino. Ambos estão gravemente danificados, mas Ministério da Defesa da Rússia anunciou que seriam reparados.

Ucrânia destrói ponte de Kerch

Há semanas os militares ucranianos vêm aumentando seus ataques à Crimeia, os mais intensos e onerosos para o lado russo, até agora. Depois de ser  anexada ilegalmente em 2014, nos anos seguintes a península,foi transformada pela Rússia numa fortaleza militar, com diversas bases da Marinha e da Força Aérea.

Pouco antes do início da invasão russa, em fevereiro de 2022, o Ministério da Defesa da Ucrânia estimou o número de soldados russos na Crimeia em 32 mil. Consta que lá também estariam estacionadas armas nucleares.     

A Ucrânia atacou a península em peso pela primeira vez em agosto de 2022, atingindo um aeroporto militar perto de Saki e destruindo alguns aviões de combate.

Em outubro, a ponte de Kerch foi explodida pela primeira vez . Desde então, a construção, que é a mais importante rota para o abastecimento das tropas russas, tem sido repetidamente atacada, mais recentemente por drones marítimos.

Base da Frota do Mar Negro

Porque a Crimeia é tão crucial para ambos os lados? Para além da importância simbólica ressaltada repetidamente pelo presidente russo, Vladimir Putin, a península é importante sobretudo do ponto de vista militar.

Ponte com trem em chamas e partes da construção caídas no mar
Ponte de Kerch parcialmente destruída após detonações, em outubro de 2022 Foto: AFP/Getty Images

A Frota do Mar Negro ali estacionada está atacando cidades ucranianas com mísseis de cruzeiro Kalibr – que alcançam desde o interior do país até a fronteira da UE. O mesmo se aplica às aeronaves estacionadas na Crimeia com os seus mísseis.

A Crimeia também desempenha um papel central no abastecimento das tropas russas no sul da Ucrânia. Afinal, sem a Crimeia, seria difícil Moscou implementar o bloqueio naval dos portos ucranianos.

Imediatamente após a invasão, a Rússia conseguiu ocupar áreas maiores da Crimeia e garantir uma ligação terrestre com o continente russo. Desde meados de 2023, o exército ucraniano tem tentado cortar essa conexão, através de sua contraofensiva.

Entre outras coisas, os militares estão atacando todas as pontes que ligam a Crimeia ao continente. As armas de precisão ocidentais são utilizadas principalmente para este fim, incluindo mísseis de cruzeiro britânicos e franceses.

Retomar a Crimeia e depois negociar?

O comandante-chefe do Exército da Ucrânia, general Valeriy Zalushnyj, descreveu a Crimeia como um "fator-chave” na guerra contra a Rússia.

A retomada da península enfraqueceria significativamente a Rússia, mas não garantiria um fim militar para a guerra. Saluzhny alertou que a Rússia poderia continuar com os disparos a partir de seu próprio território mesmo depois de perder a Crimeia.

Mesmo assim, o presidente Volodimir Zelenski ainda espera conseguir um avanço significativo na área. Segundo ele, a guerra começou na Crimeia e terminará lá. A melhor opção para Kiev seria avançar para a Crimeia e depois negociar a retirada russa. Neste momento, porém, é difícil imaginar o Kremlin concordando com isso.