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Pandemia agravou crise humanitária global, diz ONU

1 de dezembro de 2020

Relatório prevê que 235 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária em 2021, após covid-19 causar "carnificina" nos países mais vulneráveis. Em várias regiões, cresce o risco de fome extrema.

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Crianças e adolescentes ao lado de um avião da ONU no Sudão do Sul
"Pandemia gerou uma carnificina nos países mais frágeis e vulneráveis", diz chefe da agência humanitária da ONUFoto: Maciej Moskwa/NurPhoto/picture-alliance

A agência humanitária da ONU alertou nessa terça-feira (01/12) que o número de pessoas que necessitarão de auxílio em 2021 deve chegar a 235 milhões, após o aumento sem precedentes dos pedidos de ajuda e assistência humanitária neste ano, em razão da pandemia de covid-19.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês) calcula um aumento de 40% no número de pessoas que necessitarão de assistência no próximo ano, em comparação com 2020.

Segundo o relatório anual Panorama Global Humanitário, uma em cada 33 pessoas precisará de ajuda em 2021. O aumento não se deve apenas ao coronavírus, mas também a vários desafios globais, como conflitos, migração forçada e os impactos do aquecimento global.

A entidade afirma que, para que o auxílio possa atingir 160 milhões de pessoas em 56 países, serão necessários 35 bilhões de dólares (cerca de R$ 183 bilhões). Esse montante corresponde a mais do que o dobro do valor recorde de 17 bilhões de dólares arrecadado para a ajuda humanitária internacional em 2020, além de ser considerado uma meta improvável de ser atingida.

"O quadro que vemos neste ano traz a perspectiva mais sombria e desoladora que já definimos até agora. Isso ocorre porque a pandemia gerou uma carnificina nos países mais frágeis e vulneráveis", afirmou o secretário-geral do Ocha, Mark Lowcock. "O aumento se dá quase que totalmente em razão da covid-19", ressaltou.

Retorno da fome extrema

Pela primeira vez desde os anos 1990 a pobreza extrema deve aumentar, em meio à queda da perspectiva de vida. Além disso, o total de mortes por ano em consequência da aids, tuberculose e malária pode dobrar.

Segundo Lowcock, "possivelmente o mais alarmante é a ameaça do retorno da fome extrema, potencialmente em múltiplas regiões". Com apenas uma situação semelhtante registrada no século 21, ocorrida na Somália, ele afirma que a inanição em massa, que parecia ter sido "varrida para a lata de lixo da história", poderá voltar a ocorrer.

Países como o Iêmen, Burkina Faso e Sudão do Sul, além do nordeste da Nigéria, já estão à beira da fome extrema, enquanto outras nações como o Afeganistão e a região do Sahel são consideradas como "potencialmente bastante vulneráveis", segundo o chefe do Ocha.

"Se atravessarmos 2021 sem grandes ocorrências de fome extrema, já será uma grande conquista", avalia Lowcock. Segundo o relatório, até o final de 2020 o número de pessoas em todo o mundo em risco agudo de falta de alimentos poderá chegar a 270 milhões, o que representaria um aumento de 82% em relação ao período pré-pandemia.

A Síria e o Iêmen encabeçam a lista de países com maior carência de ajuda humanitária. A ONU almeja levantar quase 6 bilhões de dólares para assistência a cidadãos sírios dentro e fora do país, abalado por quase uma década de conflitos.

Além disso, outros 3,5 bilhões serão necessários para o auxílio de quase 20 milhões de iemenitas, no país que atravessa uma das crises humanitárias mais graves de todo o mundo.

RC/afp/ap