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Mais instabilidade à vista no Brasil

26 de outubro de 2018

Quem quer vença a eleição deste domingo não devolverá a estabilidade política ao país. O mais provável, porém, é que o Brasil siga o exemplo britânico: votar e depois se arrepender, opina a jornalista Astrid Prange.

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Camisa com o rosto de Bolsonaro é vendida em São Paulo
Camisa com o rosto de Bolsonaro é vendida em São PauloFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Para uns ele é "Hitler dos trópicos", para outros um "messias", como seu nome do meio sugere: Jair Messias Bolsonaro, o candidato de extrema direita favorito na eleição presidencial deste domingo (28/10), deve, segundo as pesquisas, sair vencedor. Seu triunfo representaria para o Brasil um "exit" da democracia, um desastre para a liberdade e o Estado de Direito – apenas 33 anos depois do fim da ditadura militar.

O possível "Braxit" seria a consequência mais recente de uma crise política que já se estende por cinco anos e de uma campanha eleitoral com traços antidemocráticos. No Brasil, a força destrutiva das fake news teve impacto indiscutível, descarregado, em grande parte, no ódio ao PT de Fernando Haddad.

O Brasil não é o primeiro país onde campanhas de ódio influenciam processos eleitorais. Mas o enorme alcance do Twitter, Facebook e, sobretudo, Whatsapp no maior país da América do Sul gerou um terremoto político, cuja força acabou sendo subestimada pelas mídias tradicionais e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A campanha eleitoral brasileira faz lembrar a campanha do Brexit de 2016: uma trupe profissional de propaganda digital dispara notícias falsas, sem ser punida, sabendo muito bem que uma correção dessa avalanche de desinformação não é mais possível.

Essa tragédia está longe do fim. Afinal, quem quer vença a eleição deste domingo não devolverá a estabilidade política ao Brasil. No improvável cenário da vitória de Haddad, o resultado das urnas seria posto em dúvida por apoiadores de Bolsonaro, o que poderia dar origem a uma onda de violência.

Já a vitória de Bolsonaro sofreria com três fatores: ele vai encontrar uma resistência ferrenha, tanto em parcelas do Congresso como de parte da sociedade civil. A posse do seu vice, o general Hamilton Mourão, na Presidência não pode ser totalmente descartada diante das condições de saúde de Bolsonaro, originadas da facada que ele sofreu durante a campanha eleitoral.

O fator mais pesado, porém, seria a denúncia de fraude eleitoral encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE): a acusação afirma que a campanha de Bolsonaro recebeu o apoio ilegal de empresas, que teriam financiado uma ampla disseminação de notícias falsas nas mídias sociais já antes do primeiro turno. Se as investigações comprovarem que houve crime eleitoral, a candidatura de Bolsonaro poderia, em tese, ser cassada, e a eleição, anulada.

Ao menos na teoria, não há o que discutir: um resultado eleitoral influenciado por fake news não pode ser válido, pois, sem as notícias falsas, o resultado provavelmente seria outro. A questão central, porém, é outra: o tribunal estaria em condições de anular e mandar repetir a eleição presidencial?

O Brasil teria a chance de deter a manipulação digital. O país poderia se tornar referência para a vitória da democracia sobre as fake news e os misantropos que pregam o ódio nas redes sociais. Poderia assumir um papel precursor na já mais do que atrasada regulamentação de plataformas como Facebook, Whatsapp, Twitter e afins.

Poderia. O mais provável, porém, é que o Brasil siga o exemplo britânico: votar e depois se arrepender. Um Braxit teria consequências tão desastrosas para o Brasil como o Brexit para o Reino Unido. Na melhor das hipóteses, o país está diante de mais quaro anos de paralisia política e insatisfação. Na pior, está diante do início de uma ditadura.

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