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Opinião: A normalidade do populismo na Áustria

19 de dezembro de 2017

Os nacionalistas de direita já são há muito socialmente aceitáveis ​​e estão nos mais altos postos de governo. Na União Europeia, Viena é antes regra do que exceção - e por isso não desperta tanta preocupação.

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"A Áustria tem memória curta?" Cartaz faz trocadilho com nome do novo premiê
"A Áustria tem memória curta?" Cartaz faz trocadilho com nome do novo premiêFoto: Getty Images/AFP/J. Klamar

A posse do novo gabinete de governo conservador-populista pode ter levado a protestos nas ruas de Viena, mas os austríacos não parecem realmente chocados com o casamento entre os democrata-cristãos do Partido Popular (ÖVP) e os nacionalistas de direita do Partido da Liberdade (FPÖ).

A república alpina já se acostumou com os nacionalistas "libertários". O FPÖ tem representação em governos regionais, em muitas assembleias legislativas, e já teve responsabilidade governamental por duas vezes em nível federal.

Em 2000, o FPÖ se aliou aos conservadores do ÖVP. Em 1980, eles fizeram uma coalizão com os social-democratas, naquela época ainda com um perfil nacional-liberal. A guinada em direção ao populismo só aconteceu na década de 1990 com o seu então presidente Jörg Haider.

Para tornar possível a nova coalizão com os conservadores, o ambicioso presidente do ÖVP, Sebastian Kurz, reformulou completamente o partido, adaptando-o a seu gosto e movendo-o um pouco para a direita. Cedo e instintivamente, Kurz reconheceu como decisivo e tomou para si o tema da migração.

Assim, Kurz puxou o tapete do FPÖ, mantendo-o à distância como terceira força no Parlamento austríaco e forçando o chefe dos populistas de direita, Heinz-Christian Strache, a dar pequenos passos para a esquerda. Não se deve esquecer que o FPÖ ainda estava no topo das pesquisas de intenção de voto há um ano.

A tarefa de Sebastian Kurz, que, com seus 31 anos, traz sem dúvida um novo impulso à Chancelaria Federal, é agora cercar o partido de orientação mais à direita e cercear perigosas lideranças nacionalistas. De qualquer forma, haverá um endurecimento da legislação e procedimentos de asilo na Áustria. A migração deve ser largamente interrompida. Tanto o islã quanto os imigrantes muçulmanos serão observados de forma muito mais crítica. Esse é o preço da coalizão que o versátil Kurz pagou de bom grado.

Afinal, foi ele quem, como ministro do Exterior da Áustria, assegurou que a rota dos Bálcãs fosse fechada para os migrantes no início de 2016. Ele indicou a direção, enquanto a chanceler federal alemã ainda estava vacilando. Atualmente, no entanto, Alemanha e Áustria estão alinhadas com um curso que na União Europeia é: fechar as fronteiras externas e, sempre que possível, realocar o problema da migração para países de trânsito. A este respeito, nada impede uma cooperação próspera entre Kurz e Merkel.

Para os Estados da Europa Ocidental e, portanto, para a UE, é alarmante que a Áustria possa se oferecer agora como aliada dos quatro renitentes países do Grupo de Visegrad – Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria. Juntos, eles poderiam apostar na carta nacionalista e mostrar o dedo médio em direção a Bruxelas. Os partidos da coalizão em Viena pouco querem saber das reformas e dos reforços propostos pelo presidente da França, Emmanuel Macron, e pela Comissão Europeia para a zona do euro. Eles são por menos Europa, mas defendem que ela deve ser melhor.

É reconfortante saber que, como chanceler federal, Sebastian Kurz permanece quase como ministro responsável pelos assuntos europeus e por tudo que tem a ver com a União Europeia. Provavelmente, a Áustria se esforçará por um acordo com a Rússia. Afinal de contas, o FPÖ está perto dos nacionalistas pró-Rússia na Europa, principalmente a francesa Frente Nacional e a alemã AfD. No entanto, como ministro do Exterior, Kurz defendeu a Ucrânia e sua soberania estatal. Ainda não se sabe se ele vai continuar a fazer isso como chanceler federal.

No resto da Europa, não houve gritos nem mesmo protestos contra a guinada à direita na Áustria, ao contrário de 2000, quando os chefes de governo social-democratas na UE ainda tentaram – sem sucesso – impor sanções contra os austríacos. Isso se deve principalmente ao fato de que, 17 anos depois, seja absolutamente normal que populistas de direita governem com maioria absoluta em países como a Polônia ou a Hungria, ou que detenham participação no governo, como na Grécia, Eslováquia, República Tcheca, Bélgica, Bulgária ou Finlândia.

Em muitos outros países, os populistas de direita estão representados no Parlamento. No Reino Unido, eles iniciaram o Brexit. Na França, eles chegaram ao segundo turno das eleições presidenciais. Como o último grande país da UE, a Alemanha perdeu sua inocência, por assim dizer, em setembro último, depois que a eurocética AfD conseguiu chegar como terceira força ao Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão.

No geral, no entanto, cai uma peça de dominó após a outra. Isso já está tendo impacto nas políticas da União Europeia como um todo e terá ainda mais implicações. O próximo grande teste é a disputa sobre a realocação de refugiados e a legislação sobre refúgio. Quem ficará do lado do Grupo de Visegrad, que não quer mostrar nenhuma solidariedade? Talvez a Áustria?

De qualquer forma, o novo vice-chanceler e o líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache, não fazem nenhum segredo de sua abordagem nacionalista. Ele acha que o Brexit é uma coisa boa e que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, deve se demitir. Ele quer manter a bancada comum com a Frente Nacional francês no Parlamento Europeu. Somente num ponto ele se deixou convencer por Sebastian Kurz. Não haverá referendo sobre a retirada da Áustria da UE (conhecida por Öxit). Em contrapartida, o FPÖ exigiu que se possa continuar fumando nos bares da Áustria. Fumar em vez de Öxit! As pessoas são pragmáticas no bloco de direita.

O jornalista Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas. 

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Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.