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A Muralha da China sustenta Putin

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Roman Goncharenko
23 de março de 2023

Ao visitar Moscou, o líder chinês, Xi Jinping, deixou claro seu apoio ao presidente russo, Vladimir Putin – inclusive na guerra na Ucrânia. Não é um bom sinal para a diplomacia, opina Roman Goncharenko.

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Xi e Putin dão as mãos
O presidente chinês, Xi Jinping, se encontra com o presidente russo, Vladimir Putin, em MoscouFoto: SERGEI KARPUKHIN/AFP

Vladimir Putin está contra a parede na guerra da Ucrânia. Seu exército está fazendo pouco progresso, a economia russa está gemendo sob sanções ocidentais e o mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) isolou o presidente da Rússia como nunca.

Mas, enquanto essa parede for a Muralha da China, o chefe do Kremlin continuará com esperança de uma vitória e de uma nova ordem mundial. A visita do chefe de Estado da China, Xi Jinping, a Moscou provavelmente deu um novo impulso a Putin.

Não poderia ter sido mais simbólico. A visita de Xi ocorreu quase exatamente nove anos depois da anexação da Crimeia pela Rússia. Pouco antes, Putin havia voado pela primeira vez à cidade ocupada e totalmente devastada de Mariupol – onde ocorreram alguns dos piores crimes de guerra.

O chefe de Estado chinês esteve na Rússia para uma visita de três dias como se a guerra brutal na Ucrânia não estivesse acontecendo. A viagem foi ladeada por artigos de jornal nos quais Xi e Putin invocaram sua amizade e a estreita parceria de seus países, que ficaram "ombro a ombro".

China mantém a economia russa funcionando

O resultado mais visível do encontro é ainda o incremento nas relações comerciais. Elas ligarão a Rússia, enfraquecida pela guerra na Ucrânia, ainda mais estreitamente à China, ao mesmo tempo em que permitirão a Moscou continuar travando a guerra. A China está comprando cada vez mais matérias-primas russas e vendendo cada vez mais mercadorias para Moscou. As empresas chinesas agora atendem a mercados que antes da guerra eram dominados por empresas ocidentais.

Roman Goncharenko
Roman Goncharenko, editor da DW

Por outro lado, os resultados das negociações sobre a mais recente iniciativa diplomática da China para a Ucrânia são pouco visíveis, o que leva à suspeita de que a proposta de 12 pontos de Pequim, que Putin descreveu como a "base para uma solução pacífica do conflito", não tenha sido totalmente séria. Caso contrário, não teria ocorrido apenas um ano após a invasão e não teria omitido a questão central – a retirada completa das tropas russas. Congelar a guerra neste ponto seria uma vitória para Putin. Desta forma, o quão sério Xi realmente está falando sobre sua oferta de mediação só ficará realmente claro depois de suas conversas com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Essa foi uma daquelas visitas em que só depois se compreende o que realmente se discutiu a portas fechadas. É de se temer que a principal preocupação de Putin fosse informar Xi sobre seus possíveis próximos passos na Ucrânia – semelhante ao que provavelmente foi feito antes do começo da invasão em fevereiro de 2022.

A Rússia pode intensificar as ofensivas no front nas próximas semanas, com consequências brutais para o povo ucraniano. Se for esse o caso, Moscou obviamente quer a China ao seu lado, embora de forma invisível para o mundo exterior.

Pequim tentará evitar uma derrota russa

O Ocidente está assistindo a essa aliança cada vez mais forte com surpresa e falta de ideias. Por interesses econômicos e esperança de mediação diplomática, ainda se abstém de duras críticas.

Quem sabe se suponha que a China se distanciará de Moscou assim que uma clara derrota de Putin na guerra se torne previsível. Talvez então a Muralha da China às costas de Putin desmorone.

No entanto, outro cenário parece mais provável: a China certamente tentará impedir uma derrota russa a todo custo, seja por meio da diplomacia, seja pelo fornecimento aberto de armas. O Ocidente deve se preparar para isso.

Não muito tempo atrás, costumava-se dizer em Berlim e em outras capitais ocidentais: "Não devemos empurrar a Rússia para os braços da China". Um pensamento ingênuo: isso já havia acontecido. O abraço deles está ficando cada vez mais apertado, e o Ocidente não terá sido capaz de impedir essa aproximação. A visita de Xi a Moscou só tornou isso mais visível.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Como a China pode resolver a guerra – ou gerar uma maior