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Tailândia

12 de abril de 2009

A luta pela democracia escapou ao controle na Tailândia. Antagonismo entre governo e oposição é implacável e política passou a se fazer no meio da rua, analisa Bernd Musch-Borowska.

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Os manifestantes na Tailândia conseguiram colocar o governo do país numa situação absolutamente vergonhosa. Depois que centenas de opositores de camisas vermelhas romperam as barreiras policiais e invadiram os centros de conferência, o premiê Abhisit Vejjajiva foi obrigado a interromper o encontro de cúpula da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático] em Pattaya. No balneário foi declarado estado de emergência e os chefes de Estado e governo convidados para o encontro tiveram que deixar o local de helicóptero.

Os camisas-vermelhas, adeptos do ex-premiê Thaksin Shinawatra, aprenderam com os manifestantes de camisas amarelas como é possível atingir seus objetivos na Tailândia. No ano passado, manifestantes desta outra facção política bloquearam meses a fio a sede do governo e, no fim, ocuparam até mesmo o aeroporto internacional de Bancoc, exibindo dessa forma para todo o mundo a incapacidade de ação do governo de então.

Nenhum governo na Tailândia, seja de uma ou outra facção, pode se permitir agir com violência contra os manifestantes. Pois tanto os camisas-vermelhas quanto os camisas-amarelas são pessoas simples do povo. São donas-de-casa, comerciantes, operários e estudantes que estão convencidos de estar lutando pela democracia na Tailândia e e não reconhecem a legitimidade de um governo ligado à corrente política rival. Por trás desses manifestantes estão pessoas influentes e ricas, que financiam o combate surpreendentemente pacífico nas ruas. De um lado, o ex-premiê Thaksin, que foi condenado a dois anos de prisão após ter sido deposto por um golpe militar por abuso de poder, e seus partidários incitados a deixar o país. De outro lado, estão os representantes de uma elite burguesa e monarquista, que perdeu sua influência política durante a dominação de Thaksin, eleito majoritariamente por uma população rural.

Nenhum dos dois lados está mais certo que o outro. Sem dúvida, Thaksin havia sido eleito democraticamente por uma maioria dos tailandeses. O mesmo vale para os partidos que o apoiam, aos quais pertencem os camisas-vermelhas. Thaksin, porém, abusou do sistema democrático em prol de seu enriquecimento pessoal e da ampliação de seu próprio poder. Quando ele se intrometeu na distribuição dos postos militares, o comando das Forças Armadas encerrou seu governo e colocou no poder, através de um golpe militar, um chefe de governo popular.

O atual governo de Abhisit Vejjajiva chegou ao poder através da Constituição instaurada pelos militares, depois que o partido do governo, fiel a Thaksin, foi judicialmente dissolvido em decorrência de fraudes eleitorais. E depois que Abhisit formou uma coalizão com dissidentes do partido de Thaksin. Os camisas-vermelhas veem nisso uma conspiração política.

No momento, não se pode vislumbrar uma solução para a crise. A um governo que se deixa manipular por uma turba descontrolada nas ruas e não consegue nem garantir a segurança pública, não resta outra coisa senão a renúncia. Com isso, as reivindicações dos manifestantes seriam satisfeitas, mas o problema não estaria de forma alguma resolvido.

Thaksin comprou sua popularidade com presentes eleitoreiros à população rural e é adorado por essas pessoas como um semideus, quase da mesma forma como adoram o rei tailandês, que observa em silêncio os acontecimentos no seu país. Thaksin deu uma voz política às pessoas simples que moram no campo. A velha elite o acusa de tentar transformar a monarquia constitucional da Tailândia numa república. E consta que influentes assessores do rei teriam, exatamente por isso, dado início ao golpe militar há quase três anos. Em caso de novas eleições, é provável que o partido de Thaksin vença as eleições com larga maioria, o que iria mobilizar mais uma vez os camisas-amarelas.

A Tailândia não se encontra apenas numa crise política, mas numa encruzilhada. Hoje, luta-se nas ruas pelo caminho a ser seguido pelo país após a morte do rei idoso e enfermo.

Autor: Bernd Musch-Borowska

Revisão: Simone Lopes