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Opinião: Derrota da democracia na Turquia

15 de julho de 2017

Desde a tentativa de golpe de Estado há um ano, a Turquia mudou drasticamente. Essa mudança, no entanto, já havia se iniciado muito antes, opina Rainer Hermann, do jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung".

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Türkei | Erdogan feiert Jahrestag des Putschversuches
Presidente Erdogan se deixa celebrar como herói, no primeiro aniversário de tentativa de golpeFoto: picture-alliance/AA/B. E. Gurun

Já a forma de lembrança mostra como a Turquia se distanciou da Europa. Pois a liderança turca encenou neste fim de semana o primeiro aniversário da fracassada tentativa de golpe de Estado com uma multidão e uma pompa vistas somente em países socialistas.

Deveria ser celebrada a "vitória da democracia", e ao mesmo tempo, a Turquia se despede dela. Pois, naquele país, tudo leva ao presidente Recep Tayyip Erdogan. Desde aquela noite de 15 de julho de 2016, o presidente turco se deixa celebrar como o herói que refundou a Turquia com a derrota do golpe.

Embora os turcos tenham elegido repetidamente Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) desde 2002, eles sempre rejeitaram o seu projeto de uma "nova Turquia" com um sistema presidencialista que deveria alterar a democracia parlamentar. Em seguida, a fracassada tentativa de golpe desencadeou há um ano o momento de substituir a "República de Atatürk" [criador da Turquia moderna] pela "República de Erdogan".

Autor Rainer Hermann
Rainer Hermann é redator do jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" ("FAZ")Foto: picture-alliance/dpa

A primeira república foi uma democracia imperfeita, mas a nova república não é liberal nem democrática. Ela se baseia no mito de que a "nação" se une em torno de Erdogan. Quem fizer críticas ao governante turco e à sua agenda política religiosa-conservadora é considerado inimigo da "nação".

O estado de emergência facilitou estigmatizar e perseguir tais críticos e dissidentes como "terroristas". Após a tentativa de golpe, as demissões e prisões assumiram uma escala impressionante. No entanto, isso já havia se iniciado em 2014 como reação de Erdogan às investigações de corrupção em seu entorno. Desde então, foram elaboradas listas de pessoas que agora foram demitidas ou presas.

O líder oposicionista Kemal Kilicdaroglu, do Partido Republicano do Povo (CHP), cedo classificou os acontecimentos como um "golpe controlado". Segundo Kilicdaroglu, Erdogan tinha conhecimento dos planos de golpe, como também detinha o controle sobre eles – mesmo assim, ele não fez nada para detê-los.

Embora a "marcha pela justiça", iniciada pelo líder da oposição e que nas últimas semanas foi de Ancara até Istambul, não venha a abalar Erdogan, ela é motivo de esperança. Durante muito tempo, o CHP foi o incrustado partido governista – agora ele se reinventa como partido anti-establishment contra a atual legenda corrupta e no poder AKP.

Erdogan lhe mostrou os limites: o vice de Kilicdaroglu foi recentemente condenado a 25 anos de prisão. Não se pode falar definitivamente de uma "vitória da democracia" na Turquia. Nem neste fim de semana nem depois.