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Opinião: O crepúsculo de Merkel já começou?

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Felix Steiner
29 de setembro de 2015

Até há pouco tempo, ela parecia imbatível. Mas a queda de popularidade que se seguiu à abertura das fronteiras alemãs aos refugiados lança dúvidas sobre o futuro político da chanceler, opina o articulista Felix Steiner.

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Articulista da DW Felix Steiner

A história se repete? Entre Angela Merkel e dois de seus antecessores existem, ao menos, alguns paralelos.

Primeiro paralelo: Willy Brandt de joelhos diante do memorial aos heróis do gueto de Varsóvia, em 7 de dezembro de 1970. O que hoje é considerado o símbolo máximo da política de distensão do governo Brandt não foi algo planejado, mas um gesto espontâneo do então chanceler federal: "Tive a sensação de que inclinar a cabeça não seria suficiente."

A partir de semelhante impulso espontâneo, há três semanas, a chanceler federal Angela Merkel decidiu permitir a entrada na Alemanha de refugiados que se aglomeravam em condições catastróficas na Hungria. E, da mesma forma que Brandt, ela não combinou com ninguém a decisão. Ela a tomou, simplesmente, porque seus sentimentos (sua consciência?) lhe diziam: "Como está não pode continuar!"

Hoje poucos estão cientes de que Brandt também não foi nem um pouco elogiado por seus contemporâneos. "Brandt devia se ajoelhar?", indagou a revista Der Spiegel uma semana depois e divulgou, ao mesmo tempo, o resultado da enquete: somente 41% dos alemães-ocidentais consideraram adequado o gesto do então chefe de governo, enquanto 48% o viram como exagerado.

O juízo de valor positivo, a classificação de gesto histórico veio com atraso. Quase exatamente um ano depois, Brandt foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Na ocasião, esse fato também não foi compreendido, muito menos bem-recebido por muitos cidadãos do país em meio ao debate extremamente acalorado sobre a política para o Leste do governo alemão-ocidental da época. Será que Merkel agora pode ter esperanças de receber um telefonema de Oslo?

Segundo paralelo: a política econômica de Gerhard Schröder. Quem hoje perguntar por que a situação econômica da Alemanha está muito melhor do que a maioria de seus países vizinhos vai ouvir em uníssono, de todos os especialistas, a alusão à política de reformas do governo Schröder entre 2003 e 2005.

Desde então, milhões de novos postos de trabalho foram criados, a economia está crescendo, a arrecadação de impostos voltou a jorrar. Na ocasião, as reformas do governo de coalizão entre verdes e social-democratas transformaram a Alemanha, o então "doente da Europa", no motor da economia do continente. Mesmo os conservadores e liberais, que nunca tiveram a coragem de tomar medidas tão drásticas, olham hoje com respeito para Schröder.

Para Schröder, a história tem um lado trágico: a agenda de reformas lhe custou o cargo e é Merkel quem colhe, hoje, os frutos de seu trabalho. Pois todos que elogiaram a chamada "Agenda 2010" nunca votaram e jamais votarão no Partido Social-Democrata (SPD). E foi justamente esse SPD que, na ocasião quase destruiu a política de seu então presidente e, até hoje, não se recuperou realmente desse feito.

Hoje, os ressentimentos e as críticas ao curso tomado por Merkel na crise dos refugiados, que se ouvem principalmente nos círculos conservadores, evocam a situação do SPD de dez anos atrás: os elogios vêm do lado errado, já que não era o eleitorado dos conservadores que estava recebendo com palmas os refugiados nas principais estações ferroviárias da Alemanha!

Os dois paralelos têm algo em comum: tanto o governo Brandt como o de Schröder entraram em crise. Crise que se manifesta em atritos internos, citações venenosas e provocações, como o convite ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, um crítico de Merkel, feito pelo presidente da União Social Cristã (CSU), um aliado da chanceler. Já a resposta de Merkel pode ser encontrada numa declaração desta semana: "Pra mim tanto faz se eu tenho alguma culpa pela onda de refugiados, agora eles estão aí!". Pelo jeito, ela está com os nervos à flor da pele.

Mas tudo são somente indícios. Porém, se há apenas algumas semanas o SPD debatia quem iria enviar para perder a próxima eleição contra Merkel, de repente parece que – à luz da crise migratória – o crepúsculo da mulher mais poderosa do mundo à frente da chancelaria federal em Berlim já começou. Só o final ainda está em aberto: renúncia no atual período legislativo (como Brandt) ou derrota eleitoral em dois anos (como Schröder)?