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A absurda represália de Trump contra as redes sociais

Autorenbild l Kommentatorenbild DW Carla Bleiker PROVISORISCH
Carla Bleiker
29 de maio de 2020

Advertência contra tuítes mentirosos do presidente dos EUA desencadeou um decreto que ameaça o futuro das redes sociais – em nome da liberdade de expressão. Seria risível, se não fosse tão sério, opina Carla Bleiker.

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Charge de Sergey Elkin mostra Donald Trump perseguindo o logo do Twitter

O presidente americano, Donald Trump, está envolvido em mais uma guerra mesquinha na internet. Desta vez, quem atraiu sua ira foi o Twitter, o veículo que ele mais usa para comunicar. No passado, já se queixara diversas vezes de que a plataforma cercearia a liberdade de usuários conservadores, e agora ela é alvo de sua agressão política mais recente. Na noite de quinta-feira (28/05), Trump assinou uma ordem executiva questionando direitos importantes das redes sociais.

Um dos pontos principais visa uma lei que protege Twitter, Facebook e companhia de ações jurídicas, ao eximi-las de responsabilidade por conteúdos postados pelos usuários. Agora Trump coloca em questão essa imunidade. Caso faça passar a nova norma, as redes terão que controlar com muito mais rigor o que é publicado em suas páginas, tornando praticamente inevitável uma censura de fato.

Ironicamente, isso poderia afetar precisamente tuítes, diga-se, "exaltados" como os do presidente. Porém ele parece não ter refletido sobre a questão. Seria risível, se não fosse tão sério.

"Um pequeno punhado de monopólios de mídia social controla uma vasta porção de toda a comunicação pública e privada nos Estados Unidos", alegou Trump ao apresentar o decreto na Casa Branca. "Elas têm tido poderes para censurar, restringir, editar, moldar, esconder e mudar virtualmente qualquer forma de comunicação entre cidadãos ou grandes audiências públicas."

Ele prometeu cuidar para que essas redes não recebam mais verbas dos contribuintes, e não permitir que elas continuem aterrorizando os cidadãos americanos.

O pavio da polêmica foi uma advertência anexada pelo Twitter a duas mensagens em que Trump esbravejava contra a votação pelo correio. Os usuários que clicassem no link recebiam a explicação de que o voto postal está longe de ser tão passível de fraude quanto o bilionário afirmava.

É claro que este não gostou nem um pouco de ter suas afirmações falsas expostas publicamente – ainda mais no veículo em que até agora tem podido difundir, livremente, ódio, meias verdades e inverdades.

Agora o presidente aproveita essa suposta ofensa pessoal como pretexto para investir contra as redes sociais, afirmando que elas sempre teriam tomado partido contra políticos conservadores! E isso vindo de um homem que, como nenhum outro político, utiliza o Twitter para suas tiradas de ódio contra quem pense diferente. O absurdo não tem limites.

Deixando de lado o alarde trumpista, contudo, está na hora de Twitter, Facebook e companhia se perguntarem como vão lidar com afirmativas políticas falsas de seus usuários, em especial às portas de um evento como a eleição presidencial americana. No último pleito, as mentiras propagadas no Facebook contribuíram para a derrota da democra Hillary Clinton.

Não foi surpresa a reação de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, à briga com o Twitter, dizendo não ver que seja responsabilidade das redes sociais verificar a veracidade de declarações políticas. No entanto, para ter eleições justas, advertências como as anexadas aos tuítes de Trump são de valor inestimável. O Twitter não deveria dar fim ao fact checking, mas sim ampliá-lo. A políticos de todas as facções.

Carla Bleiker é correspondente da DW em Washington.

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