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Operação da PF atinge todas as alas do PMDB

Jean-Philip Struck15 de dezembro de 2015

Aliados de Dilma Rousseff, como Renan Calheiros, também estão entre os alvos da ação. Segundo especialistas, sigla pode retaliar caso se sinta acuada, o que aumenta risco de instabilidade no governo.

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Brasilien Festnahme Eduardo Cunha Parlamenstpräsident
Agentes da Polícia Federal cumprem 53 mandados de busca e apreensão em em sete estados e no Distrito FederalFoto: Reuters/U. Marcelino

Embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenha sido o alvo mais notório da mais nova fase da Operação Lava Jato deflagrada nesta terça-feira (15/12), a ação da Polícia Federal também conseguiu atingir as principais alas do PMDB – inclusive setores que ainda estão alinhados com o governo. Segundo especialistas, a nova etapa pode ter efeitos graves para o Planalto e provocar desde uma nova paralisia no governo até uma debandada dos membros da sigla que ainda apoiam Dilma Rousseff.

Além de realizar buscas na residência de Cunha, os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão nas casas dos ministros Celso Pancera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Alves (Turismo). Pancera é ligado à ala fluminense do PMDB e foi indicado ao cargo pelo deputado Leonardo Picciani, um dos mais notórios aliados de Dilma no partido. Já Alves continuava defendendo o governo no início desta semana. O ministro também é ligado ao vice-presidente Michel Temer, que está praticamente rompido com o governo e vem sendo cortejado por membros da oposição. Outro atingido pela operação foi o senador Edison Lobão, da ala maranhense do PMDB, ainda alinhada com o governo.

Entre os mais notórios membros favoráveis ao governo atingidos pela PF nesta terça-feira está o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é tido como um dos principais aliados de Dilma com força para barrar o impeachment. Agentes realizaram uma ação de busca e apreensão na sede do diretório do PMDB em Alagoas, que é comandado por Calheiros. A PF também realizou ações contra o deputado Aníbal Gomez (PMDB-CE) e Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, ambos ligados a Calheiros.

De acordo com especialistas, a ação que atingiu Calheiros pode precipitar o início de um novo conflito do senador com o Planalto. Apesar de não compactuar com o colega de partido Cunha, Calheiros sempre esteve alinhado com o deputado quando se tratou de acusar a Procuradoria-Geral da República e a PF de seletividade nas ações da Lava Jato. No início do ano, quando o nome do senador apareceu pela primeira vez na lista de suspeitos de integrar o núcleo da quadrilha que desviou recursos da Petrobras, Calheiros acusou o governo de influenciar as investigações da Lava Jato.

Como consequência, o senador retaliou o governo e chegou a devolver ao planalto uma medida provisória que fazia parte dos esforços de ajuste fiscal. A tensão provocada pelo episódio entre o Planalto e o senador só esfriou após meses de negociações.

"Apesar de ter atingido Cunha, que é um notório inimigo do Planalto, a operação também acertou em cheio vários membros da sigla que ainda estavam com o governo. Isso deve provocar uma reação do partido. Uma das consequências pode ser a saída de vez daqueles que ainda seguem ocupando ministérios e outros cargos do governo", afirma o cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Já o cientista político Renato Perissinotto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a nova fase deve no mínimo complicar ainda mais a relação do PMDB com o Planalto. "O efeito imediato deve ser uma nova paralisia nas relações entre o partido e o governo. O PMDB costuma retaliar quando se sente acuado. Alguns setores podem passar a cobrar uma posição mais dura do vice-presidente Michel Temer, que já está em conflito com o governo", afirma.

Em nota, o Planalto afirmou que espera que os fatos investigados "sejam esclarecidos o mais breve possível, e que a verdade se estabeleça". No passado, vários membros do PT criticaram as ações da PF e acusaram o órgão e a PGR de agirem de maneira seletiva contra o partido.

De acordo com Perissinotto, isso não deve fazer qualquer diferença. "Os nomes influentes do PMDB não ligam se as operações da PF também costumam atingir petistas. É claro que a presidente Dilma Rousseff nunca tentou interferir nas ações, nem para livrar membros do seu partido e nem para atingir adversários, mas isso não faz diferença nos cálculos do PMDB", afirma.

Em coletiva de imprensa, Cunha descartou uma possível renúncia e disse ter ficado surpreso com a operação da PF nesta terça-feira. "Não estou nem um pouco preocupado. Normal, natural, mas estranho profundamente essa concentração no PMDB", disse ele. "Todo dia tem denúncia e caixa 2 do PT. De repente, fazer uma operação com o PMDB causa estranheza a todos nós. Quem for um pouco inteligente sabe que no dia de hoje, às vésperas da decisão do processo de impeachment, tem alguma coisa de estranha no ar."