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Irmandade Muçulmana

7 de fevereiro de 2011

Observadores afirmam que temores de "islamização do Egito" são infundados, pois a Irmandade Muçulmana estaria aberta a princípios democráticos e disposta a dialogar com outros grupos oposicionistas.

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Manifestantes da Irmandade Muçulmana no CairoFoto: AP

Para o Ocidente, o presidente egípcio Hosni Mubarak sempre representou a garantia de que fundamentalistas se manteriam longe do poder. No entanto, diante da enorme pressão sobre Mubarak, o temor da "islamização" do Egito paira sobre os países ocidentais.

Para o especialista em assuntos islâmicos, Lutz Rogler, o medo é infundado. Rogler argumenta que o movimento Irmandade Muçulmana, que existe já há mais de 80 anos, passou por transformações. A Irmandade não é mais um grupo militar. "Pois dentro do movimento há diferentes gerações e correntes. Além disso, o movimento se abriu para princípios democráticos e cooperação com outras forças de oposição."

Valores democráticos

A Irmandade Muçulmana foi fundada em 1928 pelo professor de ensino fundamental Hassan Al Banna como um movimento de reforma. O objetivo era a construção de uma sociedade baseada em princípios islâmicos.

Somente depois da Segunda Guerra, a organização se desenvolveu como um movimento de massa no Egito. Mas após um atentado frustrado contra o presidente Gamal Abdel Nasser, a Irmandade se dissolveu em 1954 e muitos de seus membros foram executados.

Foi no fim da década de 1970 que o grupo voltou à cena política e formou-se, desde então, como uma forte força de oposição. Além do engajamento político, o movimento também construiu hospitais e instalações sociais, o que fortaleceu sua posição entre as camadas mais pobres da população.

Como partido, a Irmandade também continuou proibida durante o governo de Mubarak. Ainda assim, o movimento apoiou a candidatura de políticos independentes ao Parlamento egípcio, detendo assim, de fato, um quinto dos assentos desde 2005.

Não é uma revolução islâmica

Já há dias, a Irmandade Muçulmana participa dos protestos a favor da liberdade e democracia no Egito. No entanto, as manifestações não devem ser vistas como uma revolução islâmica, diz a versão oficial. Hilmi Jazzar, um dos líderes da organização, nega veementemente as alegações de que a Irmandade estaria esperando apenas o momento certo para tomar o poder.

Segundo Jazzar, a organização aguarda a chance, juntamente com todos os outros partidos, de ser eleita pela população. "Então, o mundo verá um exemplo de democracia da qual a Irmandade Muçulmana fará parte, sem dominá-la."

Influência

Apesar do esforço da Irmandade Muçulmana de se mostrar como um partido democrático moderado, o Ocidente teme que, após a saída de Mubarak, o país sofra com um vácuo de poder. A ausência de uma liderança política pode ser usada pelos islâmicos para chegar ao poder, acredita-se.

Uma preocupação não compartilhada por Lutz Rogler. "A influência da Irmandade Muçulmana nos protestos no Egito foi superestimada. Eu acredito também que o Ocidente tem uma preocupação exagerada ao temer uma possível participação islâmica num futuro governo." E caso haja, de fato, eleições livres, é incerta a quantidade de votos que a Irmandade Muçulmana conseguiria, adiciona o pesquisador.

Mudança liberal

Na visão de muitos observadores, a liderança da organização não está familiarizada com os desejos e exigências da maioria dos jovens manifestantes. Para o cientista político Hamed Abdel Samad, os conceitos e programas da Irmandade Muçulmana são pouco atraentes para a juventude egípcia.

O próprio Samad foi, na juventude, membro do movimento. O especialista acredita que a atual aproximação entre todos os partidos nas ruas do Cairo irá levar a uma mudança liberal dentro da Irmandade Muçulmana.

"A velha guarda pertence de fato à era Mubarak. Mas existe uma nova geração, que agora sai às ruas", argumenta Samad. A conscientização dessa nova ala da Irmandade Muçulmana acaba se fortalecendo e se renovando durante as demonstrações. "Em torno de si, eles veem agora mulheres bonitas sem véu e politicamente ativas. E aos poucos as pessoas estão se acostumando com isso."

Autores: Nader Alsarras / Stephanie Gebert (np)
Revisão: Carlos Albuquerque