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O papel da vacinação infantil no combate à pandemia

Tetyana Klug | Kathrin Wesolowski | Ines Eisele
30 de maio de 2021

Alguns países, inclusive a Alemanha, já estão inoculando jovens a partir de 12 anos contra o coronavírus. Mas elas têm mesmo que ser vacinadas? É seguro? A DW checa os fatos.

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Menino recebe injeção de uma jovem, cartazes de vacinação ao fundo
Vacinação de crianças e adolescentes é um tema sobre que não há unanimidadeFoto: Martin Bernetti/Getty Images/AFP

Qual é a situação das vacinações contra covid-19 para crianças e adolescentes na Alemanha e na União Europeia?

As vacinas BioNTech/Pfizer e Moderna já estão liberadas na UE para os adolescentes de 12 a 17 anos. A firma Moderna assegura que, num estudo clínico nessa faixa etária, seu produto apresentou eficácia de 100% e bom grau de tolerância.

Na Alemanha, a Comissão Permanente para Vacinas da Alemanha (Stiko) só aconselha a vacinação entre 12 e 17 anos de idade para os que, "devido a doenças pregressas, tenham risco maior de um quadro clínico grave de covid-19". A política alemã não partilha essas reservas: na segunda-feira (02/08), os secretários de Saúde estaduais decidiram liberar a inoculação de maiores de 12 anos, em geral.

Segundo o ministro da Saúde Jens Spahn, mais de 900 mil nessa faixa etária, ou cerca de um quinto, já receberam pelo menos uma dose.

E em outros países?

Também o Reino Unido tem agido até agora com cautela: os maiores de 12 anos podem se vacinar se apresentam risco de desenvolver covid-19 grave, ou se vivem com alguém cujo sistema imunológico esteja muito enfraquecido.

Nos Estados Unidos e Canadá, a vacina produzida pelas empresas Pfizer e BioNTech/Pfizer está sendo aplicada desde maio em adolescentes e crianças mais velhas. Só nos EUA, mais de 4,4 milhões de jovens de 12 a 15 anos já foram inteiramente vacinados, e 3,8 milhões receberam uma primeira dose.

Também outros Estados já liberaram os imunizantes contra o novo coronavírus para essa faixa etária, entre os quais Japão e Israel.

Meninos segura o braço após receber injeção
EUA apostam na inoculação dos adolescentes contra o novo coronavírusFoto: Jeff Gritchen/Media News Group/Getty Images

Por que se continua debatendo sobre a vacinação dos menores de idade?

Em vários países transcorrem controvérsias quanto à utilidade da vacinação de crianças e adolescentes contra a covid-19, não havendo unanimidade entre os especialistas. Assim, na própria Alemanha, a comissão Stiko confirmou seu posicionamento cauteloso, justificado pela falta de dados.

A DW analisou alguns argumentos difundidos sobre o assunto. Qual é o papel dos adolescentes de 12 a 15 anos no combate a pandemias? Quão suscetíveis são à covid-19? Quão seguros são os medicamentos para crianças e adolescentes? A DW concentrou-se apenas nos fatos: questões éticas de risco-benefício e de direitos fundamentais infanto-juvenis não foram examinados nesta checagem.

Não bastaria vacinar os adultos para proteger as crianças através da imunidade de rebanho?

A suposição de que as crianças podem ser protegidas contra a covid-19 vacinando adultos isoladamente está errada. Estatisticamente, a proporção de crianças e adolescentes na população mundial é alta demais para ser deixada de lado, ao se considerar a meta de imunidade de rebanho contra a covid-19 através da vacinação.

Ainda em meados de 2020, a OMS considerava suficiente uma taxa de vacinação de 60% a 70% para a imunidade coletiva. Atualmente, muitos especialistas, inclusive o principal imunologista americano, Anthony Fauci, corrigiram esse número para 85%. E, considerando as novas variantes, até expressaram dúvidas sobre a possibilidade de atingir esse objetivo.

Na Alemanha, o chefe do Instituto Robert Koch (RKI), de controle e prevenção de doenças, Lothar Wieler, presume que "bem mais de 80%" da população devem ser imunizados, pela vacinação ou recuperação da covid-19, até que a pandemia possa ser superada.

Seringa a ser enfiada em ampola de vacina e menino segura o braço ao fundo
Na Alemanha, quase 1 milhão de menores entre 12 e 17 anos já receberam pelo menos uma doseFoto: Frank Hoermann/SvenSimon/picture alliance

Entretanto, segundo estimativas do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UN DESA, na sigla em inglês), o total de crianças e adolescentes até 17 anos é de cerca de 2,35 bilhões, ou 30,2%, da população mundial.

A proporção daqueles abaixo de 18 anos na Alemanha é significativamente menor, ficando em 16,4% da população. Portanto, pode-se supor que, nesse caso, bastaria a vacinação de todos os adultos: afinal, cerca de 62% da população já recebeu pelo menos uma dose.

No entanto, a Associação dos Pediatras (BVJK) do país recomenda veementemente a vacinação para jovens entre 12 e 16 anos, considerando a meta numérica para a imunidade de rebanho, já que nem todos o adultos do país se dispõem a ser inoculados.

Há preocupações semelhantes em outros países, confirma Karina Top, pesquisadora canadense de vacinas e docente de infecciologia pediátrica da Universidade Dalhousie. "Alcançar a imunidade de rebanho depende de um número suficiente de adultos se vacinar. E, como muitos países se preocupam por muitos adultos não quererem ser vacinados, é importante imunizar crianças e adolescentes."

Na Alemanha, o RKI já não considera mais "realista" a meta de um imunidade coletiva "no sentido da eliminação, ou mesmo erradicação" do vírus Sars-Cov-2.

Crianças e adolescentes estão fora de perigo, por seus quadros clínicos serem menos graves e a taxa de mortalidade, menor?

Generalizar que crianças e adolescentes não desenvolvem quadros graves é enganoso. É verdade que, de acordo com especialistas, a maioria dos pacientes infantis tem evolução assintomática ou leve da doença.

Por exemplo, um estudo italiano de 2020 concluiu que adolescentes com menos de 18 anos têm menor risco de adoecer gravemente: de 3.836 menores doentes, 4,3% tiveram um curso grave e quatro morreram. Cardiologistas pediátricos internacionais afirmam que apenas de 0,6% a 2% das crianças precisam ser tratadas em unidades de terapia intensiva. E insuficiência cardíaca também é muito rara nelas, após infecções.

A Academia Americana de Pediatria informa que 3,85 milhões de crianças dos EUA testaram positivo para a covid-19, desde o início da pandemia. Destas, uma parcela de cerca de 0,1% a 1,9% teve que ser hospitalizada. No total, apenas cerca de 0,03% dos menores infectados morreu.

De acordo com o Ministério da Educação da Alemanha, as crianças são infectadas com a mesma frequência que os adultos, mas em princípio adoecem mais raramente. "Essa diferença de fundo etário também é conhecida em outras doenças infecciosas, sendo atribuída ao fato de as células imunológicas de crianças e adolescentes reagirem aos patógenos de modo diferente das dos adultos", consta do site do órgão. O sistema imunológico parece se tornar menos eficaz com a idade. No entanto, ainda não se investigou se isso também se aplica a uma infecção com o coronavírus.

Pessoas de máscara andando na rua
Será difícil atingir imunidade de rebanho sem a vacinação de criançasFoto: Michael Gstettenbauer/imago images

É possível usar o mesmo imunizante contra covid-19 em crianças e adultos?

Os estudos sobre os efeitos das vacinas contra o coronavírus em pacientes menores de idade são muito limitados, no momento, já que as substâncias costumam ser primeiramente testadas em adultos.

A vacina BioNTech/Pfizer para aqueles entre 12 e 15 anos foi aprovada pela EMA com base num estudo com 2 mil participantes. Das cerca de mil que receberam a vacina, nenhuma foi diagnosticada com covid-19. No grupo que recebeu um placebo, 16 foram infectadas.

No Canadá e EUA, o mesmo medicamento foi aprovado após um estudo com 2.260 participantes da mesma idade, dos quais 1.131 receberam a vacina. De acordo com a empresa, ela seria 100% eficaz nessa faixa etária – mais do que em qualquer outro grupo testado até agora.

A pesquisadora canadense de vacinas Karina Top considera adequado o número comparativamente pequeno de participantes do estudo. "Temos muitos dados e experiência de jovens de 16 anos ou mais que participaram dos estudos maiores. Conta também a experiência com as doses já aplicadas em todo o mundo:

Mais de 100 milhões de doses da BioNTech/Pfizer foram aplicadas em todo o mundo, então temos experiência e informações sobre sua eficácia e segurança." Sobretudo os resultados semelhantes na faixa entre 16 e 25 anos justificaram a extensão àqueles de 12 a 15 anos, afirma a indecciologista.

"Mesmo assim, precisamos monitorar continuamente a segurança das vacinas, depois de aprovadas para aplicação na população. Porque, mesmo que não se constatem eventos adversos raros em 30 mil pacientes, eles podem ocorrer entre 100 mil ou 1 milhão”, alerta a cientista.

E os menores de 12 anos?

Quanto à vacinação de menores de 12 anos contra a covid-19 tanto Karina Top quando o pediatra alemão Axel Gerschlauer estão de acordo: a aplicação direta de uma vacina para adultos em crianças não é possível.

Por si só, não é incomum o mesmo tipo de vacina ser usado em ambos, explica a cientista canadense. Às vezes, como no caso do imunizante contra o tétano, a fórmula para bebês é diferente daquela para crianças e adolescentes. Outras vacinas usam números diversos de doses para diferentes grupos de idade.

"Por exemplo, com a vacina contra o HPV [vírus do papiloma humano], podemos dar duas doses aos menores de 14 anos, pelo menos no Canadá. Mas os acima de 15 anos precisam da terceira dose, porque a reação não é tão forte." Ou seja: o sistema imunológico das crianças pequenas reage às vacinas diferente do de adolescentes e adultos.

Portanto, é necessário uma análise detalhada da dosagem segura e eficaz para cada vacina. A BioNTech/Pfizer conduz atualmente estudos com crianças entre seis meses e 11 anos. Também a Moderna, AstraZeneca e Johnson & Johnson também testam seus produtos em crianças menores, mas ainda não há resultados.

Então: deve-se vacinar as crianças contra o vírus Sars-Cov-2?

Para além dos dados e das opiniões dos especialistas, esta é uma decisão individual que os responsáveis devem esclarecer junto ao médico de família ou pediatra. Considerando os casos individuais, os clínicos podem estimar melhor tanto as vantagens quanto os riscos da vacinação para o jovem paciente e fazer uma recomendação.

Este artigo foi publicado em maio e atualizado pela última vez em 4 de agosto de 2021.