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O "príncipe" alemão preso por tramar golpe de Estado

Elizabeth Schumacher
8 de dezembro de 2022

Membro da antiga aristocracia alemã, empresário bem-sucedido do setor imobiliário, produtor de vinho, suspeito de liderar uma célula terrorista de extrema direita: Heinrich 13º, de 71 anos, foi preso na quarta-feira.

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Policiais levam Heinrich 13º preso
Heinrich 13º é acusado de ser organizar um golpe de EstadoFoto: Boris Roessler/dpa/picture alliance

Há mais de um século, os ancestrais de Heinrich 13º, "o príncipe Reuss", governavam a cidade de Gera e seus arredores, onde hoje é o estado da Turíngia, no leste da Alemanha. Se Heinrich tivesse conseguido o que planejava – um golpe de Estado armado contra o governo alemão –, ele teria conquistado isso e muito mais.

"Conheça o homem que quer se tornar o rei da Alemanha", escreveu em sua conta no Twitter o político da legenda A Esquerda Dietmar Bartsch.

No entanto, ele acabou sendo preso pela polícia alemã na quarta-feira, junto com outras 24 pessoas,

Heinrich e os outros suspeitos presos pertencem ao movimento de extrema direita Reichsbürger ("Cidadãos do Império Alemão", em tradução literal). Além de propagar teorias de conspiração, os membros do grupo rejeitam a Constituição alemã do pós-guerra e pedem a queda do governo.

Estima-se que o movimento possua cerca de 21 mil integrantes. Eles acreditam que a Constituição alemã, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, e o parlamento do país, o Bundestag, fazem parte de um sistema criado pelos Aliados no fim da Segunda Guerra Mundial para tornar a Alemanha um Estado vassalo de seus interesses.

Golfe, imóveis e teorias de conspiração

Heinrich 13º, o "príncipe", de 71 anos, divide seu tempo entre Frankfurt, onde está a sede de sua empresa imobiliária, e seu pavilhão de caça na Turíngia, onde abrigou simpatizantes do Reichsbürger e um clube de golfe. Ele também é produtor de vinho.

Entre a organização de clubes de golfe para elites locais e a venda de imóveis de luxo, Heinrich encontrou tempo para dar uma palestra sobre temas do movimento no World Web Forum, em Zurique, na Suíça, em 2019.

Defensor da volta da monarquia, Heinrich reiterou a crença de que, por não existir um tratado de paz no fim da Segunda Guerra Mundial, a atual República Federal da Alemanha democrática não tem uma base legal válida. Depois, soltou várias alegações antissemitas contra a família Rothschild antes de concluir que o único passo lógico seria voltar ao tempo do Império Alemão, cujo kaiser (imperador) teria sido afastado do poder há 100 anos contra a vontade do povo.

Horrorizados, os participantes deixaram a palestra ou vaiaram o "príncipe", que havia sido convidado para discursar na conferência global para líderes empresariais, digitais e políticos no último minuto, após uma desistência.

Processo contra o governo alemão

Amante do automobilismo, com cinco irmãos, e parceiro de uma modelo russa, Heinrich fez campanha durante anos para a reconstrução do mausoléu de sua família no centro de Gera. Pelo lado materno, ele é neto do duque Adolf Friedrich de Mecklenburgo (1873-1969), o último governador da antiga colônia alemã do Togo, na África.

Assim como outros membros de sua família, ele tentou receber uma indenização do Estado alemão por bens culturais e obras de arte expropriadas no século 20. Em 2017, um grupo de herdeiros recebeu 3,1 milhão de euros.

Tentativas posteriores de Heinrich de processar o governo alemão para reaver terras e propriedades, que ele afirma serem suas por direito inato, falharam. Ele gastou grandes somas de dinheiro nesta cruzada e começou a alegar ser vítima de uma conspiração do sistema judicial.

Enquanto processava o Estado, o "príncipe" coordenava uma "tropa de defesa da pátria", que, segundo os serviços de segurança, possuía algumas de dezenas de membros planejando um golpe armado. Entre seus companheiros suspeitos estão ex-membros e atuais integrantes das forças armadas e da polícia.

De acordo com a imprensa local, conhecidos do "príncipe" disseram não imaginar que ele pudesse ser o líder de um grupo terrorista de extrema direita. Sua família, no entanto, já havia se distanciado dele no verão de 2022, quando ele se reuniu com um prefeito simpático à causa Reichsbürger.

Um porta-voz dos Reuss, cuja história familiar remonta 700 anos, afirmou à época que Heinrich considerava um "velho confuso".

“Receio que ele agora seja um teórico da conspiração, um velho confuso", disse Heinrich 14° de Reuss, que fala pela Casa de Reuss, ao canal MDR na época, acrescentando que Heinrich 13° já havia rompido todos os laços com o família mais de uma década antes. (Os membros masculinos da família são tradicionalmente chamados de Heinrich e com numerais para diferenciá-lo e o porta-voz não é filho de Heinrich 13°)

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a primeira Constituição democrática alemã aboliu oficialmente a realeza e a nobreza, além de seus respectivos privilégios legais e imunidade. Atualmente, a nobreza não é mais conferida, e a Constituição rejeita privilégios legais a integrantes de antigas famílias nobres.

Rússia nega envolvimento

De acordo com autoridades, os colegas suspeitos de Heinrich incluem homens e mulheres na maioria alemães. Eles já tinham até um esboço para a organização do governo após o golpe. Heinrich 13º seria o novo chefe de Estado.

Segundo os promotores, Heinrich tentou entrar em contato com representantes da Rússia na Alemanha, mas não há indícios de que as pessoas com quem ele entrou em contato tenham reagido positivamente.

Em seu vídeo de 2019, distribuído em canais QAnon e Reichsbürger, Henrich disse ser parente da antiga casa imperial russa dos Romanov por meio de sua mãe e que essa era "uma das razões pelas quais gostava da Rússia”.

A parceria de Reuss, a russa Vitalia B., também foi presa. Segundo a promotoria alemã, ela é suspeita de ter "apoiado a associação, em particular, ajudando o acusado a estabelecer contatos com representantes do governo da Rússia".