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O FMI e a Argentina: de quem é a culpa?

Paulo Chagas8 de janeiro de 2002

O Fundo Monetário Internacional tem sido criticado, tanto por parte de liberais quanto de conservadores, pela falência do modelo econômico argentino. As opiniões divergem.

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Prostesto contra a desvalorização do peso argentinoFoto: AP

A crise da Argentina foi produzida no próprio país, afirmou Horst Köhler, à margem de um encontro de banqueiros em Basiléia. Segundo os analistas da instituição, a responsabilidade não é do FMI e sim da própria Argentina, em particular do programa do ex-ministro da Economia argentino Domingo Cavallo, com a política do deficit zero, a manutenção do pagamento dos juros e a paridade cambial entre o peso e o dólar.

O diretor gerente do FMI, o alemão Horst Köhler, sinalizou ao presidente Duhalde sua disposição em colaborar com o novo governo. Mas a instituição de Washington está em compasso de espera, aguardando definição da política econômica, especialmente a respeito da consolidação do orçamento interno e da restituição da dívida. Só depois disso é que o FMI começará a discutir uma ajuda.

O pacto do FMI para socorrer a Argentina está congelado desde o dia 5 de dezembro. A instituição suspendeu crédito de 1,3 bilhão de dólar, alegando que o governo não cumpriu a meta de deficit zero, por ele próprio fixada.

Críticas

As críticas ao FMI em relação à Argentina vêm de vários lados. Os liberais acusam a instituição de Washington de ter reduzido drasticamente os créditos. Para os conservadores, foi o contrário: o FMI continuou apoiando a Argentina quando se delineava a falência do sistema. O FMI não teria aprendido a lição: a Rússia continuou recebendo crédito mesmo depois de ter decretado a moratória.

"Ter dado dinheiro à Argentina em agosto, sem ter negociado o refinanciamento da dívida ou um novo modelo cambial, foi um sério erro", na opinião do economia Morris Goldstein, do Instituto de Economia Internacional. O ex-economia chefe do FMI, Michael Mussa, que pediu demissão em meados do ano passado, disse que esta foi a "pior" decisão da história do Fundo Monetário Internacional.

Na ocasião, o FMI teve de dobrar a resistência do Secretário de Finanças dos Estados Unidos, Paul O'Neill. O FMI teria de ajudar uma Argentina saudável e não um país "que torra o dinheiro dos marceneiros e encanadores americanos", disse o secretário na época.

O fato de o FMI ter conseguido aprovar o pacote de 8 bilhões de dólares, apesar da relutância dos Estados Unidos – o maior contribuinte da instituição -, é uma prova da independência política da instituição, dizem os analistas. O FMI teve de escolher entre aprovar um programa sem perspectivas ou impor uma receita a um governo eleito democraticamente. E isto, segundo o economista Jeffrey Sachs, da Universidade de Harvard, pode ser considerado o "menor dos pecados".

Reação positiva do Brasil

Para Heinz Mewes, economista chefe do Dresdner Bank Lateinamerika, a culpa pela crise Argentina tem de ser compartilhada entre o próprio país e o FMI. Ele criticou o sistema de câmbio múltiplo, adotado pelo novo governo, dizendo que esta receita não funcionou no passado que não funcionará, pois dá margem a todo tipo de especulações.

Mewes não vê perigo do alastramento da crise argentina a outros países da América Latina e ressaltou como fato positivo em todo esse contexto o exemplo do Brasil, onde o real se valorizou e a conjuntura econômica solidificou-se apesar do risco de contágio.