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Não, em nome de Deus

mw21 de janeiro de 2003

Católicos e protestantes mobilizam-se na Alemanha contra nova guerra no Golfo Pérsico. Conferência dos Bispos Alemães considera imoral e incompatível com o direito internacional a possibilidade de um ataque preventivo.

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Em Berlim, católicos e luteranos oram juntos pela paz, às segundas-feiras na igreja GedächtniskircheFoto: AP

Os cristãos alemães vêm se mobilizando contra um novo ataque ao Iraque. Em quase todas as comunidades católicas e evangélicas do país estão sendo organizadas orações comunitárias, vigílias e marchas de silêncio. Até mesmo campanhas de cartões postais com mensagens para o chefe de governo alemão, Gerhard Schröder, ou para o presidente americano: "Em nome de Deus: guerra não, Mr. Bush!"

"Muitas pessoas sentem no momento a necessidade elementar de reunirem-se e rezarem juntas pela paz", afirma Reinhard Lampe, da Igreja Evangélica de Berlim-Brandemburgo. Os cristãos têm de "liderar um novo movimento pela paz", defende Reinhard Marx, bispo de Trier.

Novo? Há quem veja um esfriamento do tradicionalmente forte movimento pacifista na Alemanha. "Por que tão poucos vão às ruas para protestar contra esta loucura?", pergunta o engajado letrista Konstantin Wecker, que organizou uma caravana de artistas alemães a Bagdá para demonstrar ao mundo sua oposição a um ataque ao Iraque.

Pacifistas desmobilizados

De fato, os atos públicos na Alemanha atraíram até agora poucos participantes. Em artigo no jornal Süddeutsche Zeitung, Gustav Seibt pondera possíveis razões. O próprio governo federal já assumiu a bandeira, a maioria da população apóia a posição e, por fim, os alemães estão novamente acostumando-se aos conflitos militares, embora suas Forças Armadas tenham participado apenas em missões policiais e de ajuda humanitária, e respaldadas pelo direito internacional.

Além do mais, o movimento pacifista perdeu ânimo na Alemanha desde que o Partido Verde chegou ao governo. Sua direção impôs a aprovação da intervenção militar no Kosovo à ala que rejeitava a opção de uma guerra contra a Iugoslávia como recurso para interromper o genocídio de albaneses, promovido pelo então presidente Slobodan Milosevic. O ex-chefe de Estado iugoslavo responde processo atualmente em Haia por crimes contra a humanidade.

Igreja católica adverte

Neste contexto, chamou atenção a clareza fora do comum da declaração da Conferência dos Bispos Alemães contra uma guerra no Iraque. Os líderes da Igreja católica recorreram aos fundamentos da doutrina cristã e do direito internacional para denunciar a possibilidade de um ataque preventivo como "imoral", "agressão" e um perigo para a estabilidade da comunidade internacional, através do possível fortalecimento dos grupos islâmicos fundamentalistas e das reservas do mundo árabe ao ocidental.

Uma guerra não pode ser travada "na base de uma suposta ameaça", ressaltou o cardeal Karl Lehmann, ao divulgar o documento na segunda-feira. "Mesmo as tantas suspeitas não justificam qualquer guerra preventiva", acrescentou o presidente do bispado alemão, também preocupado com as conseqüências humanas – mortos, feridos, refugiados e desamparados – de um conflito armado.

A cúpula católica, entretanto, considera o regime de Saddam Hussein um "risco para a ordem internacional" e declarou seu apoio aos esforços das Nações Unidas para garantir que o ditador iraquiano não disponha de armas de extermínio. Os bispos advertem, porém, para que os políticos contrários à guerra não se deixem envolver pela lógica da escalada do conflito, o ponto de considerarem, no fim, um ataque como inevitável.