Netanyahu saúda decisão de Bolsonaro sobre embaixada
2 de novembro de 2018O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou a decisão do presidente eleito Jair Bolsonaro de seguir o exemplo dos Estados Unidos e anunciar a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
"Parabenizo meu amigo, o presidente brasileiro eleito, Jair Messias Bolsonaro, pela intenção de transferir a embaixada para Jerusalém. É um passo histórico, correto e emocionante", disse Netanyahu em mensagem divulgada por seu porta-voz.
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Ao anunciar a decisão em entrevista ao jornal conservador israelense Israel Hayom e, mais tarde, em entrevista no Rio, Bolsonaro disse que "Israel é um Estado soberano, e nós o respeitamos". "Quem decide a capital é o país. Se o Brasil a levou do Rio de Janeiro para Brasília, foi o Brasil. Não vejo problema. Temos todo o respeito por Israel e todo o respeito pelo povo árabe. Aqui todo mundo convive sem problemas", afirmou o presidente eleito.
Bolsonaro disse que seu governo vai apostar na via pacífica para resolver problemas e que não quer criar entraves que lhe "complique negociar com todo o mundo".
Após a vitória do candidato do PSL, Netanyahu telefonou para congratular o presidente eleito e o convidou para visitar seu país. O premiê israelense também disse que pretende comparecer à cerimônia de posse do novo governo, no dia 1º de janeiro, em Brasília. Se isso se confirmar, será a primeira visita de um chefe de governo israelense ao Brasil. O Estado de Israel foi criado em 1948.
Após o telefonema, ambos celebraram o o que chamaram de estreitamento dos "laços de amizade" entre os dois países.
Caso seja confirmada, a mudança da embaixada para a cidade disputada por israelenses e palestinos marcará uma ruptura na tradição de neutralidade diplomática mantida durante muitos anos pelo Brasil em relação ao conflito entre israelenses e palestinos.
Bolsonaro segue os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que em dezembro de 2017 reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e determinou a transferência da embaixada americana para a cidade. A decisão gerou fortes protestos por parte dos palestinos, que reivindicam Jerusalém Oriental para capital de seu futuro Estado.
Guatemala e Paraguai também anunciaram a transferência de suas embaixadas, ainda que este último tenha voltado atrás da decisão, mais tarde.
A transferência da embaixada era uma promessa de campanha de Bolsonaro, assim como o fechamento da representação diplomática palestina em Brasília. "Foi construída perto demais do palácio presidencial, portanto pretendemos transferi-la para outro lugar. Além disso, a Palestina precisa antes ser um Estado para que tenha direito a uma embaixada", afirmou durante a entrevista.
"Isso não teria que ser assim por razões de segurança", disse o presidente eleito sobre a proximidade entre o Palácio do Planalto e a representação palestina, sem fornecer detalhes sobre os motivos de sua preocupação.
O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, lembrou o compromisso histórico do Brasil com o direito e a legalidade internacionais e com a busca por uma solução para o conflito no Oriente Médio.
"O Brasil é um país que sempre respeitou o direito internacional e a legalidade internacional. Sempre esteve ao lado de uma solução justa e duradoura para o conflito no Oriente Médio, de 1947 até os dias de hoje. Eu imagino também que a política brasileira vá seguir o rumo respeitoso do direito internacional e dos organismos internacionais", ressaltou.
"Não perdemos a esperança de que vai existir bom senso por parte do novo governo. Essa mudança seria uma afronta às resoluções da ONU e ao direito internacional. É um tema delicado", afirmou Alzeben ao jornal Correio Brasiliense.
"Temos dois meses para conversar e estabelecer nosso ponto de vista. Existem duas Jerusaléns. Vemos com bons olhos que a embaixada do Brasil em Israel fique na Jerusalém Ocidental e que a embaixada brasileira na Palestina fique na Jerusalém Oriental", afirmou o embaixador.
Os israelenses ocuparam o setor oriental de Jerusalém durante a Guerra do Seis Dias, em 1967. Israel considera a cidade sua capital "única e indivisível", ainda que essa alegação não seja reconhecida pela ONU. Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental para capital de seu futuro Estado.
Segundo o jornal O Globo, diplomatas árabes alertaram seus colegas brasileiros que o Brasil poderá sofrer retaliações comerciais caso a transferência da embaixada seja confirmada. Os países do Oriente Médio são responsáveis por 5,3% das exportações do Brasil, especialmente carnes. Israel, por sua vez, é responsável por apenas 0,14% das exportações brasileiras.
O Brasil mantém relações diplomáticas com Israel desde 1949 e, em 2010, reconheceu o Estado Palestino dentro das fronteiras de 1967.
RC/efe/ots
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