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Na briga da soja entre EUA e China, europeus lucram

Jo Harper av
3 de agosto de 2018

Juncker na UE e Trump nos EUA louvam aumento de transações com soja como resultado de suas artes de negociação. Porém analistas atribuem dinâmica a forças do mercado. E quem ganha mesmo são exportadores como o Brasil.

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USA Sojabohnen
Foto: Reuters/File Photo/T. Gannam

Cifras divulgadas recentemente pela Comissão Europeia mostram que 37% da soja importada pelo blocou europeu em junho veio dos Estados Unidos. Em julho de 2017, esse percentual era de 9%.

Os números impressionam. Embora a União Europeia seja tradicionalmente a segunda maior compradora de soja americana, com 1,6 bilhão de dólares ela está bem longe dos 12,3 bilhões de dólares exportados pelos EUA para a China. Além do mais, pode tratar-se de um fenômeno isolado.

"Possivelmente já no próximo mês, contamos que a China vá retomar as compras de soja dos EUA, embora menos do que em anos anteriores", comenta Michael Magdovitz, analista de sementes oleaginosas do Rabobank International.

Ele acrescenta que, mesmo que a UE comprasse soja exclusivamente dos americanos, sua demanda de 10 milhões de toneladas não compensaria mais do que 35% dos 27 milhões de toneladas perdidos, caso Pequim suspendesse inteiramente suas importações.

A UE alardeou o incremento como a primeira consequência concreta da declaração conjunta acordada em Washington entre o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente americano, Donald Trump.

Em 25 de julho, os dois líderes combinaram iniciar conversações visando "tarifas zero" e "subvenções zero" para bens industriais, excluídos automóveis. Em troca, a UE comprometeu-se a comprar mais soja e mais gás natural liquefeito dos EUA.

O comissário da UE para a Agricultura, Phil Hogan, comentou: "Expressamos nossa disposição de importar mais soja dos EUA e isso já está ocorrendo. Os agricultores europeus e americanos têm muito a ganhar, trabalhando juntos."

Juncker alcançou sua meta-chave de evitar novas tarifas punitivas para a indústria automotiva europeia, que poderiam intensificar ainda mais as disputas comerciais entre Washington e Bruxelas.

Ele também conseguiu um bom negócio para os importadores europeus, que estão pagando menos pela soja, à medida que os preços americanos caem. A cotação da oleaginosa americana despencou 20% desde o princípio de abril, quando a China a incluiu entre os 106 produtos sujeitos a tarifas.

No entanto uma porta-voz da Comissão Europeia admitiu que o incremento das importações se deveu às forças de mercado, em vez de a qualquer ação por parte do bloco para evitar novas tarifas.

Um alto funcionário da UE também confirmou à agência de notícias Associated Press que o aumento "se deveu à economia", pois o produto americano ficou mais barato do que o importado do Brasil e da Argentina.

As sementes de soja são um ingrediente básico da ração animal da UE, a qual depende fortemente de importações, sobretudo do Brasil, responsável por 30%. A Holanda é a maior compradora do produto na UE; seguida pela Espanha e pela Dinamarca.

As tarifas retaliatórias chinesas também impulsionaram os preços da soja brasileira, devido à demanda reforçada da China, o que, em contrapartida, significa menos importações para a UE partindo do Brasil e do Paraguai.

"O resultado das tarifas chinesas sobre a soja americana foi fazer subir os preços acima dos brasileiros, e transferir a demanda chinesa para o Brasil", apontou Magdovitz. "A China efetivamente parou de exportar a soja dos EUA, mas a expectativa é que o Brasil, e outros exportadores menores, como o Canadá e a Rússia, não serão capazes de satisfazer inteiramente a demanda chinesa."

Colheita de soja em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso,
Colheita de soja em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Os importadores UE estão, em grande parte, simplesmente reagindo à forte queda de preços da soja americana, na qualidade de agentes racionais, depois que a China cortou suas compras. E Juncker sabia disso.

"Os vencedores dessa guerra comercial são os compradores não chineses, como a União Europeia, que podem comprar soja americana com desconto", comenta Magdovitz. Com a redução do mercado chinês, os exportadores americanos têm poucas opções, além de exportar para a UE.

Com um total de 15 bilhões de dólares anuais, a soja é o segundo bem de exportação dos EUA para a China, onde constitui a principal fonte de proteína na criação de porcos.

"O impacto da ausência da China tem sido sentido nos mercados dos EUA, fazendo baixar os preços lá. O resultado será que China e EUA vão partilhar os custos das tarifas, à medida que os preços americanos caem, devido à diminuição da demanda, e dos chineses pagam uma tarifa sobre a soja americana mais barata", avaliou o especialista do Rabobank.

O presidente Trump pôde vender o reforço nas exportações para a UE como uma boa nova para os eleitores rurais, muitos dos quais votaram nele em 2016. Nesta quinta-feira (02/07), a dois meses do crucial pleito intercalar, ele se encontra em Iowa, o segundo maior estado produtor de soja dos EUA. O republicano já prometeu 12 bilhões de dólares para ajudar os produtores atingidos pela queda de preços.

O presidente da Associação Americana da Soja, Ryan Findlay, comentou em julho que as tarifas retaliatórias chinesas já haviam afetado os agricultores ao fazer caírem os preços já baixos: "Os fazendeiros estão vendo essa dor já", afirmou em entrevista à emissora CNBC, mas continuavam a sustentar a posição de Trump.

Os principais estados produtores de soja incluem Illinois, Iowa, Minnesota, Nebraska, Dakota do Norte e do Sul, Indiana, Missouri e Ohio, em vários dos quais Trump venceu nas urnas em 2016.

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