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Lula na COP: "Planeta está farto de acordos não cumpridos"

1 de dezembro de 2023

Presidente brasileiro afirmou que sucessivos descumprimentos de metas e acordos abala a credibilidade do multilateralismo, e acentuou a responsabilidade dos países mais ricos no financiamento da transição verde.

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Lula discursando em frente a uma bandeira da ONU
Lula: "A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres."Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso na cerimônia de abertura da COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Dubai, nesta sexta-feira (01/12), para criticar o seguido descumprimento de acordos e metas de enfrentamento das mudanças climáticas definidos em conferências anteriores.

"O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega", afirmou.

A estratégia já havia sido anunciada com antecedência pela delegação brasileira – usar o evento para cobrar dos países mais industrializados um engajamento maior no financiamento do combate e mitigação das mudanças climáticas.

"A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres. O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial", afirmou.

Em relação ao auxílio financeiro, a COP28 registrou um modesto avanço na quinta-feira. Foram anunciadas as primeiras doações ao fundo de perdas e danos, destinado a ajudar os países mais pobres a lidar com a crise do clima.

No entanto, ainda muito aquém da promessa de 100 bilhões de dólares anuais, que seriam usados, por exemplo, para reconstruir locais destruídos por tempestades e inundações, ou mover pessoas que moram hoje em áreas que estão sendo tomadas pelo mar.

Defesa do multilateralismo

Lula disse que o não cumprimento de metas climáticas é danoso não só para a proteção do planeta, mas para a credibilidade de instituições multilaterais de governança global.

"Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso. As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015. Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante", afirmou.

"O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. É preciso resgatar a crença no multilateralismo."

O fortalecimento do multilateralismo é outro eixo da política externa do atual governo. Nesta sexta-feira, o Brasil assume a presidência rotativa do G20, por um ano, e usará o mandato para insistir nessa tecla.

O presidente brasileiro mencionou ainda que os gastos com conflitos militares são muito superiores aos com a transição verde, mas não citou nominalmente a guerra de Israel contra o Hamas nem a guerra na Ucrânia.

"Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática. Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?", questionou.

Efeitos já sentidos no Brasil

Lula também afirmou que o Brasil estaria disposto a "liderar pelo exemplo". "Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos. Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030", prometeu.

O líder brasileiro destacou que os efeitos das mudanças climáticas já vêm provocando efeitos negativos no país, como as secas na Amazônia e as fortes tempestades no Sul. "No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte.", afirmou.

"A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço", disse, citando a queniana Wangari Maathai, vencedora do Nobel da Paz em 2004.

bl/cn (ots)