Kevin McCarthy é líder da Câmara dos EUA, em vitória suada
7 de janeiro de 2023Após 15 votações, ao longo de quatro dias, o republicano Kevin McCarthy foi eleito na madrugada deste sábado (07/01) líder da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos, superando as resistências nas fileiras do próprio partido.
O político de 57 anos conseguiu convencer mais de uma dúzia de conservadores, depois de a 14.ª tentativa, na noite da véspera, ter falhado a por apenas um voto. Entre as exigências a que teve que ceder, está o restabelecimento de uma regra de longa data da câmara baixa do Congresso que permite a qualquer membro pedir uma votação para o expulsar do cargo.
Assim Kevin McCarthy assume seu nono mandado no órgão legislativo como líder já enfraquecido, não só por ter cedido poderes, mas sobretudo pela ameaça constante de ser afastado pelos detratores.
Cooperação com Biden – mas não tanto assim
Em seu discurso de abertura do Congresso, o novo presidente da Câmara desafiou os democratas, garantindo empenho em conseguir um "equilíbrio" com as políticas do presidente Joe Biden. Por sua vez, o democrata já expressou em comunicado sua vontade de cooperar.
"Não há nada mais importante do que possibilitar às famílias americanas viverem e desfrutarem da vida que merecem. É por isso que estamos empenhados em acabar com o desperdício de Washington, para baixar o preço dos alimentos, gás, habitação, e acabar com o aumento da dívida nacional", frisou McCarthy.
Perante as dificuldades para conseguir os votos suficientes no interior do próprio partido, o deputado frisou que "está na hora" de supervisionar a agenda da Casa Branca, apontando como prioridades a imigração, a política energética e "a doutrinação progressista nas escolas".
"Temos que assegurar a fronteira, não mais ignorando uma crise de segurança e soberania", observou, reiterando a expectativa de aprovar iniciativas legislativas para enfrentar "a fronteira sul aberta"
McCarthy destacou também dois "desafios a longo prazo": a dívida nacional e a ascensão do Partido Comunista Chinês. "O Congresso deve falar a uma só voz sobre estas duas questões", disse. Ele pretende criar um comité bipartidário sobre a China para investigar como trazer de volta aos EUA "centenas de milhares de empregos deslocados".
Embora tenha manifestado vontade de "trabalhar com todos", o dirigente republicano aludiu ao trabalho do comitê legislativo requerido pelos democratas para investigar a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021, e em especial o papel do ex-presidente Donald Trump. "Acabaram-se as investigações unilaterais, as ideias concorrentes serão testadas perante o público para que ganhem as melhores", advertiu McCarthy.
Mais longo impasse em 160 anos
Após quatro dias de caos político nos EUA, todos os membros da Câmara dos Representantes, prestaram juramento já na madrugada da eleição. Contudo ainda não aprovaram as regras que regerão o funcionamento da câmara baixa, tendo suspendido a sessão até segunda-feira.
O presidente da Câmara (speaker ou orador) é a terceira maior autoridade dos Estados Unidos, depois do presidente e da vice-presidente, que também preside ao Senado. Elegê-lo é normalmente tarefa fácil para um partido como o Republicano, que acaba de conquistar o controle da casa, embora com maioria extremamente apertada.
Desta vez, porém, no mais longo impasse em mais de 160 anos, cerca de 200 republicanos foram barrados por outros 20 colegas, para quem McCarthy não é suficientemente conservador, e que só aquiesceram em elegê-lo após ter todas as suas exigências atendidas.
A única votação mais longa na história da Câmara foi em 1860, após a Guerra Civil, quando os deputados só chegaram a um consenso após dois meses e 44 votações.
av (Reuters,Lusa,AFP,AP,DPA)