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Joe Biden e Kamala Harris: união das diferenças faz a força

Julia Mahncke ip
17 de agosto de 2020

Chapa democrata une experiência e tradição com a perspectiva de uma mulher não branca. Veterano Biden é candidato oficial à presidência dos EUA, mas Harris pode dar impulso vital a sua campanha, como vice.

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Kamala Harris e Joe Biden, do Partido Democrata americano
Harris e Biden, uma chapa harmoniosaFoto: picture-alliance/AP Photo/C. Kaster

Joe Biden e Kamala Harris começaram como rivais, ambos querendo se candidatar à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.

No fim de junho de 2019, durante o primeiro debate, eles tiveram uma discussão. A senadora Harris, da Califórnia, criticou o ex-vice-presidente por suas políticas durante os anos 1970, quando era senador pelo estado de Delaware, acusando-o de ter trabalhado com outros senadores que queriam impedir a integração de alunos negros e brancos. Como contou, ela estava entre esses escolares.

Joe Biden se defendeu dizendo que era apenas contra o bussing (transporte de ônibus) obrigatório. O termo se refere à prática de levar crianças negras a escolas selecionadas geralmente situadas em áreas residenciais brancas mais ricas. Harris, que ia para a escola num desses ônibus quando criança e atribui o próprio sucesso à educação que teve, afirmou: "Se eu fosse senadora dos Estados Unidos naquela época, estaria completamente do outro lado do espectro político."

Senador democrata dos EUA Joe Biden toma posse como senador por Delaware, em 1973
Biden (c.) toma posse como senador por Delaware, em 1973Foto: picture-alliance/AP Photo

O confronto teve ampla cobertura na mídia americana. Mas, no fim das contas, a própria Harris comentou que tudo não passara de uma discordância sobre um tópico. Isso não impediu Joe Biden de escolhê-la como sua companheira de chapa. Muito pelo contrário, ele demonstrou que críticas são bem-vindas e que, ao contrário do presidente Donald Trump, ele não exige lealdade cega.

Ideais comuns

Embora Harris e Biden não tenham muito em comum à primeira vista, em termos de agenda política eles formam uma dupla harmoniosa. Seus principais temas são economia, meio ambiente, educação e justiça social. Distanciando-se o suficiente das ideias radicais e progressistas à esquerda e dos republicanos conservadores à direita, eles provavelmente atrairão grande parte da população.

Muitos democratas já gostavam da combinação Biden-Harris antes de a senadora da Califórnia desistir da corrida presidencial. O congressista Lacy Clay, de Missouri, por exemplo, disse ao canal de notícias Politico, em maio de 2019, que essa seria "uma chapa dos sonhos".

E ele não estava sozinho. Muitos não podiam imaginar uma mulher negra e asiática sendo bem sucedida como candidata presidencial, mas podiam vê-la como contrapeso ideal para Biden. Por outro lado, muitos eleitores não estavam entusiasmados com o veterano democrata de 77 anos, mas agora, com Harris a seu lado, os pontos de vista estão mudando.

Equilíbrio é a chave

Os dois democratas se complementam: enquanto Biden representa experiência quanto tradição, Harris, de 55 anos, cujos pais eram imigrantes da Jamaica e da Índia, fornece a perspectiva, muitas vezes ausente, de uma mulher não branca.

Kamala Harris durante Parada Gay de San Francisco, EUA
Tanto Harris (c.) quanto Biden já expressaram apoio a grupos LGBT +Foto: picture-alliance/dpa/J. Norris

Eles são também o encontro de duas mentalidades diferentes. Biden passou infância e juventude na Pensilvânia e Delaware, na Costa Leste americana, filho de uma família branca que lutava para permanecer na classe média. Harris cresceu na Califórnia, na Costa Oeste, onde seus pais se conheceram durante protestos contra a Guerra do Vietnã.

Ambos estudaram Direito, mas enquanto Biden entrou cedo para a política e ganhou uma cadeira no Senado aos 29 anos, Harris começou trilhando a carreira de advogada e só três anos atrás trocou seu cargo de procuradora-geral da Califórnia por uma cadeira no Senado americano.

A essa altura, os caminhos de Biden e Harris já haviam se cruzado. O filho de Joe Biden, Beau, era procurador-geral em Delaware e, em 2011, trabalhou com Harris para que os bancos respondessem pela crise imobiliária. Beau Biden morreu de um tumor cerebral em 2015, mas sua amizade com Harris e o respeito que tinha pela advogada da Califórnia influenciaram a decisão de Joe de escolhê-la como sua vice-presidente.

Kamala Harris mostrou que é rápida nos debates e não se deixa intimidar facilmente pelos oponentes. Em 2018, ela chamou muita atenção por seu interrogatório incisivo do então candidato à Suprema Corte Brett Kavanaugh, durante a audiência de confirmação. Sua missão, entre outras, será dar cobertura a Biden e afastar críticas.

Ao confiar em Harris, Biden abriu uma porta para as minorias que poderá permanecer aberta no futuro. Ele está plenamente ciente do simbolismo de sua escolha para vice-presidente. No dia do anúncio, tuitou: "Esta manhã, as meninas de todo o país acordaram – em especial as negras e pardas, que, tantas vezes talvez se sintam ignoradas e desvalorizadas em nossa sociedade –, potencialmente se vendo de uma nova maneira: como material para presidentes e vice-presidentes."

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