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Investidores pressionam Mourão por combate a desmatamento

9 de julho de 2020

Vice-presidente se reúne com representantes de fundos de investimento do exterior que mostraram preocupação com política ambiental brasileira. Segundo Mourão, eles esperam ver resultados antes de retomar investimentos.

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O vice-presidente Hamilton Mourão
Mourão disse que parte das críticas à política ambiental do governo Bolsonaro se deve a disputas geopolíticasFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quinta-feira (09/07) que os investidores estrangeiros esperam ver resultados da política ambiental brasileira antes de retomar os investimentos. A fala veio após uma videoconferência com representantes de fundos de investimento do exterior para tratar da preservação do meio ambiente no país.

"É óbvio: eles querem ver resultado. E qual é o resultado que podemos apresentar? É que haja efetivamente uma redução do desmatamento", disse Mourão após a reunião, que reuniu fundos da Holanda, Japão, Noruega, Reino Unido e Suécia.

O encontro foi motivado por uma carta que o governo recebeu nesta semana de executivos de grandes empresas brasileiras e estrangeiras, que cobraram ações concretas de combate ao desmatamento no país.

No final de junho, outra carta havia sido enviada a embaixadas brasileiras na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, dessa vez por um grupo de administradores de recursos, que também expressaram preocupação com o avanço do desmatamento na Amazônia. Os representantes dos fundos que se reuniram com Mourão nesta quinta-feira fazem parte desse grupo.

A política ambiental do governo de Jair Bolsonaro tem recebido críticas constantes de atores internacionais, especialmente após as queimadas na Floresta Amazônica no ano passado. Segundo a imprensa brasileira, a imagem deteriorada do Brasil no exterior passou a preocupar o Planalto, que teme uma fuga de investimentos no país.

Na semana passada, na cúpula do Mercosul, Bolsonaro disse que o governo está dialogando com diversos interlocutores "para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor as ações que tem tomado em favor da proteção da Floresta Amazônica e do bem-estar da população indígena".

Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, afirmou nesta quinta-feira que o país precisa obter resultados positivos no combate ao desmatamento no segundo semestre deste ano para, assim, apresentá-los aos investidores na mesa de negociações.

"Não há prazo [para a retomada dos investimentos]. A nossa visão é que a gente conseguindo apresentar, no segundo semestre, algo positivo em relação às queimadas, é algo que pode ser colocado na mesa de negociação, dizendo: estamos cumprindo a nossa parte e vocês voltem a cumprir a de vocês", afirmou o vice-presidente.

Segundo ele, também foram iniciadas novas conversas sobre o Fundo Amazônia, especialmente com Noruega e Alemanha, os principais doadores. Os dois países também aguardam os resultados dos esforços do Brasil na redução do desmatamento ilegal e das queimadas, disse Mourão.

"Estamos aguardando o visto bom deles, que também está ligado à nossa resposta em relação ao desmatamento. Uma vez que consigamos apresentar dados consistentes, os recursos que estão lá [no fundo] serão novamente reabertos para os projetos relacionados ao desenvolvimento, proteção e preservação da Amazônia."

Sobre as críticas que o Executivo recebe, ele disse que parte delas se deve a disputas geopolíticas. "O Brasil tem terra fértil para avançar e crescer. Não há dúvidas que seremos, em breve, a maior potência agrícola do mundo. Quem se sentir incomodado vai impedir que essa produção evolua. Vamos sofrer pressões, e uma delas será de que o Brasil está destruindo a Amazônia para produzir alimentos, o que é mentira. A floresta está lá, de pé."

Também participaram da reunião os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto; da Agricultura, Tereza Cristina; das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; e das Comunicações, Fábio Farias; além dos presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Sergio Segovia.

Após a reunião, Salles confirmou que o governo deve editar até a próxima semana um decreto suspendendo a autorização para o uso de queimadas para fins agrícolas por 120 dias, em mais uma tentativa de conter os impactos negativos à imagem do Brasil no exterior.

"Este ano o presidente determinou que se fizesse um estudo de viabilidade para a suspensão por 120 dias das queimadas: na Amazônia e no Pantanal sem exceções, e nos demais biomas com as exceções previstas em lei. O texto deve estar pronto para assinatura na próxima semana", afirmou.

Segundo os presentes na reunião virtual, os investidores também expressaram preocupações com a proposta do governo para a regularização fundiária, especialmente na Amazônia, e com a preservação dos direitos da população indígena no país.

De acordo com a imprensa brasileira, Mourão reconheceu que é responsabilidade do governo cuidar dos povos indígenas, mas não apresentou medidas concretas nesse sentido.

Por outro lado, ele afirmou que os indígenas deveriam ser "mais integrados" à sociedade, e disse que muitos deles contraíram a covid-19 não por conta da invasão ilegal de garimpeiros, mas por se deslocarem até as cidades para fazerem compras e receberem benefícios sociais.

Na quarta-feira, Bolsonaro sancionou uma lei que prevê medidas de proteção para comunidades indígenas durante a pandemia de coronavírus, mas com uma série de vetos – entre eles, foi vetada a obrigação do Poder Público de garantir aos indígenas acesso universal a água potável, de distribuir materiais de higiene gratuitamente, de limpar e desinfectar as aldeias, bem como de oferecer leitos hospitalares e de UTI e ventiladores mecânicos.

De acordo com a agenda da vice-presidência, a videoconferência teve a participação de representantes dos fundos de investimentos Legal and General Investment Management (Reino Unido), Nordea Asset Management (Suécia), SEB Investment Management (Suécia); Storebrand Asset Management (Noruega), KLP (Noruega), Robeco (Holanda), AP2 Second Swedish National Pension Fund (Suécia) e Sumitomo Mitsui Trust Asset Management (Japão).

EK/abr/lusa/ots

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