Brasil e Alemanha
14 de abril de 2010A liderança mundial da Alemanha no campo da inovação tecnológica não significa que todas as novidades criadas nos laboratórios sejam bem aceitas pelos alemães. Já os brasileiros são reconhecidamente mais receptivos: "O Brasil é uma sociedade muito jovem e aceita muito mais ativamente as inovações, e muito mais rápido do que a Alemanha", avalia Bertram Heinze, do Centro Alemão de Inovação e Ciência.
Um exemplo recente está no uso do iPhone: logo após o lançamento do aparelho, os consumidores brasileiros foram às compras. "Já os alemães são muito conservadores, uma novidade como essa demora para penetrar no mercado", pontua Heinze. Ele tem a missão de dar assistência a instituições alemãs que buscam parcerias no Brasil – o Centro tem escritórios em São Paulo, Nova York, Tóquio, Moscou e Nova Déli.
De olho nessa boa acolhida do mercado brasileiro, universidades e agências alemãs concentram esforços para descobrir nos laboratórios de pesquisa soluções práticas e rentáveis.
Da bancada para o mercado
O mote da Iniciativa Brasil-Alemanha para Pesquisa Colaborativa em Tecnologia de Manufatura, o Bragecrim, é transformar os resultados das pesquisas em negócios. A parceria de 16 milhões de euros envolve institutos alemães, como o Fraunhofer, e 13 instituições brasileiras.
"Temos 16 projetos na área de manufatura e queremos aumentar a competitividade no mercado global, e disponibilizar novos produtos", explica Carlos Alberto Schneider, da Universidade Federal de Santa Catarina e presidente da Certi – Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras.
Ao lado do professor Robert Schmitt, da Universidade RWTH de Aachen, Schneider trabalha num projeto que usa o tomógrafo para fazer medições internas de peças — algo impossível até então. "As peças são muito pequenas, complexas, de materiais mistos e usadas, por exemplo, em aviões, automóveis e até próteses", exemplifica o pesquisador brasileiro.
Consequência da formação
Atualmente, Alemanha e Brasil somam 230 cooperações no campo científico. E a paridade entre os pesquisadores de ambos os países é recente. "A Alemanha ajudou a formar os primeiros doutores brasileiros, há 40 anos", ressaltou Eduardo Krieger, presidente da Academia Brasileira de Ciência.
De lá para cá, o Brasil saltou de 4 mil publicações científicas na década de 1980 para 30 mil em 2009. Nesse ranking, a Alemanha ocupa o 3º lugar, o Brasil o 13º – as primeiras posições são dos Estados Unidos e Reino Unido.
E foi depois do doutorado na Alemanha que Carlos Alberto Schneider ajudou a implantar a Fundação Certi: uma referência pelo desenvolvimento de projetos inovadores que envolvem soluções de convergência digital – como a urna eletrônica brasileira, os terminais de automação bancária e terminais públicos de acesso à internet.
"Desde que a Certi nasceu, promovemos novos empreendedores. E a economia em Florianópolis, onde a fundação é baseada, se transformou: deixou de ser movida exclusivamente por serviço público, turismo e comércio e passou a ser um pólo de empresas de inovação tecnológica", conclui Schneider.
E nesse campo, segundo Bertram Heinze, a Alemanha pode aprender com o Brasil: fazer com que centros de pesquisa, como é o caso da Certi, não dependam exclusivamente do financiamento do governo – como acontece na Alemanha. "No Brasil, há muitas instituições que financiam os projetos com dinheiro de contratos privados, e isso estimula a inovação. Temos que pensar num modelo assim", finaliza.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer