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Na fronteira do crime

2 de maio de 2009

O que seria dos serviços de inteligência sem informações de dentro dos meios extremistas? Por um punhado de euros e sem chamar a atenção, os informantes vivem a um passo do perigo, da ilegalidade e da traição.

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Entre todas as frentesFoto: picture-alliance/dpa

Esperar, observar, ler jornal, tomar notas, repassar informações: o informante é uma peça essencial na proteção da ordem constitucional. Em contato próximo com extremistas, terroristas ou o que seja – porém sem sê-lo ele mesmo –, os agentes encobertos precisam de muita coragem, sangue-frio e, acima de tudo, de uma psique estável.

Trabalho de equipe

"Alpha, Bravo, Charlie para Mike, Romeo, Ecco. O pacote foi entregue. A raposa está na árvore."

Todo informante da Secretaria Estadual de Segurança Interna de Hamburgo – homem ou mulher – sabe que a regra número um do jogo é não chamar a atenção. Por isso eles se alternam no trabalho de vigiar os suspeitos, coordenados por um agente principal.

Este recebe a missão de seu superior imediato. No caso de Hamburgo, Jürgen Dettmer, um homem amigável, reservado, de óculos e cabeleira grisalha cheia. Mas ele também só age de comum acordo com o departamento.

"Nós, da aquisição de informações, não tomamos decisões sozinhos. É a seção de análise e avaliação que nos diz do que está precisando. Aí nós definimos que pessoas enviar para qual setor, e qual faixa etária e origem étnica são indicadas."

Recrutamento difícil

Os novos agentes ideais são aqueles que já estão em contato com um movimento extremista e dispõem de acesso às informações sem chamar atenção. O vice-diretor da secretaria de Hamburgo, Manfred Murck, revela haver duas fontes básicas para encontrar esses colaboradores: certos cadastros especiais e a Secretaria do Trabalho.

"Um informante deve se interessar pelo assunto em questão, para que entenda do que se trata o trabalho. Também precisa se integrar no grupo de tal forma que lhe sejam reveladas coisas que um jornalista, por exemplo, não ouviria. Quer dizer: o informante tem que ser um participante atento do meio sobre o qual informa."

Porém, a maior dificuldade é justamente recrutar esses colaboradores de dentro dos meios que estão sendo investigados. Em especial nos círculos da extrema esquerda, a quota de rejeição fica acima dos 90%.

Entre todas as frentes

Dependendo da missão, os agentes recebem algumas centenas de euros por mês pelo seu trabalho: uma mera ajuda de custos, nada mais. Não é necessário que sejam especialmente inteligentes ou treinados. Mais importante é uma boa capacidade de observação e memória, assim como uma boa constituição psicológica, explica Murck.

"Pois eles estão jogando em dois campos, é claro. Fazem parte de seus grupos, trabalham lá, muitas vezes com engajamento. Mas, ao mesmo tempo, têm que nos relatar sobre aquilo de que participam. E isso naturalmente pode ser problemático do ponto de vista psíquico. Palavra-chave: complexo de delator."

Para que não se sintam como traidores, os informantes recebem apoio psicológico constante. Apesar disso, houve casos em que informantes chamaram atenção de forma negativa por haver ultrapassado os limites, tornando-se, eles mesmos, puníveis pela lei.

Zona incerta da lei

Assim, trata-se de um trabalho que se move na fronteira da legalidade, comenta o vice-diretor do departamento hamburguês.

"Nenhum informante tem carta branca para cometer atos criminosos. Mas a Secretaria Estadual de Segurança Interna também não é obrigada a prestar queixa-crime quando um dos nossos eventualmente se envolve em alguma atividade que possa ter a ver com crimes."

Um exemplo que bem ilustra quão cinzenta é a zona da lei onde se movem os informantes da defesa da Constituição.

Autora: Kathrin Erdmann
Revisão: Rodrigo Abdelmalack