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História

Gladbeck 1988: quando a imprensa alemã foi notícia

Michael Marek | Marie Todeskino av
16 de agosto de 2018

Dois assaltantes, um ônibus, a fuga através da Alemanha. Ao final, dois reféns mortos. O drama de assalto foi, ao mesmo tempo, um sensacional clímax para o jornalismo alemão e seu momento mais obscuro desde a 2ª Guerra.

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Dieter Degowski (em pé), um dos assaltantes no ônibus sequestrado
Dieter Degowski (em pé), um dos assaltantes no ônibus sequestradoFoto: picture-alliance/dpa

Dia 16 de agosto de 1988: drama de reféns na cidadezinha de Gladbeck, na região alemã da Vestfália. Dieter Degowski e Hans-Jürgen Rösner, na época com 32 e 31 anos respectivamente, assaltam um banco e escapam levando dois reféns. Eles jamais poderiam imaginar que o crime entraria para a história da televisão: pela primeira vez, os telespectadores alemães veriam uma caçada policial transcorrer diante de seus olhos.

Desta vez os jornalistas, que normalmente ficam de lado e observam, estavam em meio aos acontecimentos, até mesmo obstruindo o trabalho da polícia e conduzindo entrevistas com os sequestradores. O semanário americano Newsweek  chegou a se referir ao episódio como "Hans and Dieter Show": uma verdadeira estreia na mídia da Alemanha.

Ao fim da perseguição em que Degowski e Rösner atravessaram grande parte do país num ônibus roubado e chegaram até a Holanda, e que envolveu um total de 32 reféns, os fotojornalistas haviam tido todo o tempo do mundo para fazer imagens do ônibus e dos passageiros.

Os repórteres lutavam pela melhor posição de onde registrar os eventos. Radialistas deixaram os próprios assaltantes darem sua versão de como a situação evoluíra, ao ponto de um deles dizer: "A partir daqui, eu só quero falar através da mídia."

Degowski, num táxi em Colônia, ameaça a refém Silke Bischoff, que seria morta na perseguição
Degowski, num táxi em Colônia, ameaça a refém Silke Bischoff, que seria morta na perseguiçãoFoto: picture alliance/AP Photo/M. Pfeil

A nação alemã – ou pelo menos aqueles com acesso a rádio ou TV – pôde acompanhar todo o desenrolar ao vivo. Uma sensação de emoção e fascinação, horror e perplexidade era palpável em todo o país.

Não bastou que se tirassem fotografias icônicas dos reféns sendo entrevistados com armas no pescoço: o repórter Udo Röbel chegou a entrar no carro da fuga para orientar os sequestradores pelas ruas de Colônia, que eles aparentemente não conheciam bem.

Após o caso, o profissional foi severamente criticado por suas ações, chegando a responder a acusações de cumplicidade. Isso não o impediu de, dez anos mais tarde, tornar-se o editor-chefe do Bild, o tabloide de maior tiragem da Alemanha.

Após dois dias, o drama finalmente chegou ao fim com um saldo de três mortos – inclusive uma refém que fora fotografada com um revólver no pescoço.

A imprensa foi responsável pelo fim desastroso? Segundo o psicólogo de mídia Jo Groebel, os jornalistas que cobriram o caso não só satisfizeram o desejo dos sequestradores de reconhecimento e atenção, como também "incitaram" os criminosos a se afirmarem em sua brutal megalomania.

Michael Konken, presidente da DJV, o maior sindicato da classe na Alemanha, se refere ao drama de Gladbeck como "a hora mais escura do jornalismo alemão, desde o fim da Segunda Guerra Mundial". Em reação, o conselho nacional de imprensa expediu uma série de reprimendas e estabeleceu controles mais estritos para a cobertura de casos do gênero.

Também nos próprios meios midiáticos travou-se um debate ético, com diversos jornais concluindo que tal tipo de cobertura "não devia nunca mais acontecer". Atualmente é ilegal qualquer veículo de mídia realizar entrevistas com sequestradores enquanto o crime está ocorrendo.

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