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Ex-ministros da Fazenda pressionam por desmatamento zero

14 de julho de 2020

Carta assinada por ex-titulares da pasta e ex-presidentes do Banco Central sugere diretrizes para retomada da economia com responsabilidade ambiental no pós-pandemia e cobra fim do desmate na Amazônia e no Cerrado.

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Vários troncos de árvores empilhados em uma área desmatada
Desmatamento na Amazônia em junho foi o maior em cinco anos, segundo o InpeFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Penner

Ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central do Brasil lançaram nesta terça-feira (14/07) uma carta pública conjunta em que cobram do governo do presidente Jair Bolsonaro o fim do desmatamento e uma retomada sustentável da economia após a pandemia de covid-19.

A pressão se une à de empresas brasileiras e investidores estrangeiros, que se reuniram na semana passada com o vice-presidente Hamilton Mourão para cobrar resultados da política ambiental.

O texto traz diretrizes para uma recuperação verde da economia brasileira no pós-pandemia, com responsabilidade social e ambiental, e foco no controle firme do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, bem como nos investimentos sustentáveis voltados para a economia de baixo carbono.

Na carta, os ex-ministros salientam que o desmatamento no Brasil tem gerado manifestações de preocupação por parte de diversos parceiros comerciais importantes e de investidores estrangeiros, o que certamente se refletirá na queda dos fluxos comerciais e dos investimentos no país.

A carta é assinada por nomes responsáveis pelas políticas econômicas e monetárias do Brasil ao longo dos governos de José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dezessete ex-titulares assinam o texto, entre eles Armínio Fraga, Ilan Goldfajn, Joaquim Levy, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini, Yélia Cardoso de Mello e o próprio FHC. 

"O momento é de sofrimento e angústia para todos. A perda de emprego e renda é uma realidade que aprofundará a desigualdade social. Os efeitos de longo prazo da pandemia serão severos, inclusive devido ao contexto fiscal ainda mais desafiador", diz a carta, uma iniciativa coordenada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e pelo Instituto O Mundo Que Queremos. 

"Superar a crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil", continua.

Segundo o grupo, os prejuízos pelo descuido em relação ao clima poderão ser bem maiores do que os causados pela atual pandemia. Entre as sugestões contidas no texto estão acabar com os subsídios para combustíveis fósseis, zerar o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, expandir investimentos sustentáveis e impulsionar a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.

No mês passado, em iniciativa semelhante,nove ex-ministros brasileiros do Meio Ambientedivulgaram uma carta aberta em defesa da democracia e da sustentabilidade, afirmando que o governo Bolsonaro representa uma ameaça às instituições democráticas, ao meio ambiente, aos povos indígenas e à saúde e à vida de brasileiros em meio à epidemia de covid-19 no país. Em maio, oito ex-titulares da pastajá haviam divulgado uma carta similar.

O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou pelo 14º mês consecutivo em junho e foi o maior registrado para o mês nos últimos cinco anos, segundo dados do sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na última sexta-feira.

A destruição da floresta aumentou 10,6% em relação a junho de 2019, atingindo 1.034 km². Em relação a junho de 2018, a alta foi de 112%, e a junho de 2017, de 70%. Quando considerados os seis primeiros meses de 2020, o desmatamento aumentou 25% em relação ao mesmo período do ano passado, para 3.069 km².

Nesta segunda-feira, poucos dias após a divulgação dos dados alarmantes referentes a junho, o governo demitiu Lubia Vinhas, coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe. O departamento é responsável pelos sistemas Deter e Prodes, que monitoram o avanço do desmatamento da Amazônia.

LE/ots

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