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Governo exonera chefe de monitoramento do Inpe

14 de julho de 2020

Saída ocorre após divulgação de dados recordes de desmatamento na Amazônia em junho. Coalizão de ONGs aponta que caso demonstra que governo ainda está tentando intervir no instituto.

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Brände im Amazonas-Gebiet
Em 2019, aumento de queimadas na Amazônia gerou uma crise internacional e provocou o derretimento da imagem do Brasil no exteriorFoto: Getty Images/V. Moriyama

O governo Bolsonaro exonerou nesta segunda-feira (13/07) a coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse departamento é responsável pelos sistemas Deter e Prodes, que monitoram o avanço do desmatamento da Amazônia.

A retirada de Lubia Vinhas do cargo foi publicada no Diário Oficial em portaria assinada pelo ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

A exoneração pouco menos de uma semana depois que o Inpe divulgou mais um número negativo sobre a devastação da Amazônia, apontando que em junho o bioma registrou o maior número de alertas de desmatamento desde 2015. Os dados ainda apontaram que o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou pelo 14º mês consecutivo.

Quando considerados os seis primeiros meses de 2020, o desmatamento aumentou 25% em relação ao mesmo período do ano passado, para 3.069 km².

A alta do desmatamento ocorreu apesar da Operação Verde Brasil 2, lançada pelo governo federal em maio e que enviou militares para o combate ao desmatamento e focos de incêndio na Amazônia. Inicialmente programada para durar um mês, a operação foi prorrogada até 6 de novembro.

No início de julho, o Inpe já havia apontando que a região teve o mês de junho com maior número de queimadas em 13 anos. Foram registrados 2.248 focos de incêndio, o que representou um aumento de 19,6% em relação a junho de 2019.

Ainda nesta segunda-feira, após questionamento por parte de veículos de imprensa, o Inpe publicou em seu site uma longa nota em que afirma que a ex-coordenadora Vinhas foi remanejada para outro cargo. De acordo com a nota, ela passará a ser "chefe da Divisão de Projeto Estratégico". Segundo o Inpe, essa área "tratará da implementação da nova Base de Informações Georreferenciadas ("BIG") do INPE, uma demanda do Ministro Pontes".

"Esta, por sinal, é a área primária de formação e expertise da Dra. Lubia Vinhas", informou o Inpe.

Entre ONGs e jornalistas especializados na área ambiental, a saída de Vinhas da coordenação de Observação da Terra provocou comparações com o caso do ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão, exonerado em 2019 após se envolver em um embate público com o presidente Jair Bolsonaro acerca dos dados de desmatamento da Amazônia. À época, Bolsonaro contestou os números que apontavam para um crescimento alarmante da destruição da floresta. O caso ajudou a alimentar a escalada de críticas internacionais sofridas pelo Brasil na condução do combate ao desmatamento, que ganhou contornos de crise diplomática em agosto de 2019, quando a Amazônia registrou um aumento significativo de queimadas.

Após a exoneração de Vinhas, o secretário-executivo da rede Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirmou que o episódio sinaliza que o governo ainda está tentando intervir no Inpe.

"Não é segredo para ninguém desde o ano passado que o governo deseja intervir no Inpe. A demissão ruidosa de Ricardo Galvão impediu isso, mas a exoneração de Lubia Vinhas pode ser um indicativo de que o plano nunca foi abandonado. Que isso ocorra em plena aceleração do desmatamento, quando o governo precisa conter ameaças de desinvestimento, é sinal de que Bolsonaro parece estar tratando as preocupações do agronegócio e dos investidores como trata as dos brasileiros aterrorizados pelo coronavírus", disse, por meio de nota.

"Infelizmente, para o presidente e o ministro Marcos Pontes, há vários outros sistemas de monitoramento da Amazônia operando. Como no caso da tentativa de esconder dados da Covid, qualquer investida contra o Inpe já nasce condenada a fracassar."

JPS/ots

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