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Estudo confirma potencial de bactéria no combate ao zika

Roberta Jansen, do Rio4 de maio de 2016

Pesquisadores comprovam que a bactéria wolbachia, quando presente no mosquito Aedes aegypti, é capaz de reduzir a transmissão do vírus. Descoberta pode ser crucial para controle das infecções no país.

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Foto: picture-alliance/dpa/J. Arguedas

Um mosquito Aedes aegypti infectado por uma bactéria de circulação comum entre insetos é hoje uma das mais promissoras armas da ciência contra as epidemias de zika, chicungunya e dengue. Um estudo publicado nesta quarta-feira (04/05) narevista científica Cell Host & Microbe por um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a técnica impede a transmissão do vírus Zika em 100%.

O estudo faz parte do projeto internacional “Eliminar a dengue: Desafio Brasil”. Trazido ao país pela Fiocruz, o projeto estudava originalmente o uso da bactéria como uma alternativa natural, segura e sustentável para o controle da dengue. Agora, no entanto, foi ampliado para o combate ao chikungunya e ao zika.

“Com a epidemia de zika quis testar se a bactéria tinha o mesmo efeito observado contra a dengue”, explica o coordenador do Desafio Brasil, Luciano Moreira, da Fiocruz de Minas Gerais, principal autor do estudo. “E o resultado foi bastante promissor: constatamos um bloqueio total da transmissão de zika, um percentual mais elevado do que o verificado no caso do vírus da dengue, inclusive. Dependendo do sorotipo, o bloqueio para a dengue varia de 60% a 100%. No caso do chicungunya é um pouco mais baixo.”

A bactéria wolbachia é muito comum entre invertebrados e circulava em vários insetos, como o pernilongo e a mosquinha da fruta. Cientistas a transferiram para o Aedes para testar se ela seria capaz de bloquear a transmissão do zika. Isso porque a bactéria vive dentro das células e usa os nutrientes da célula para se replicar. Os vírus também precisam entrar na célula para se multiplicarem. Aparentemente, se estabelece uma competição entre os dois dentro da célula e a bactéria leva a melhor, impedindo a replicação do vírus no mosquito.

Quando testaram a saliva dos mosquitos, constataram que a presença do vírus era de 100% entre os insetos que não tinham a bactéria. Já entre os que tinham sido inoculados com a wolbachia, a presença do vírus zika foi constatada em 45% deles.

“Mas, mesmo nesses casos, o vírus não é ativo o suficiente para que ocorra uma transmissão e uma infecção”, resume Moreira. O pesquisador explica também que o uso dos mosquitos infectados é totalmente seguro. A bactéria ocorre naturalmente na natureza, entre os insetos, e só é capaz de infectar invertebrados.

Além do mais, como ela é maior que o duto salivar do mosquito, não tem como ela ser transferida para seres humanos por meio da picada do Aedes. Uma outra vantagem seria o fato de os filhotes dos mosquitos originalmente infectados com wolbachia nascerem todos com a bactéria. Ou seja, não há a necessidade de ficar sempre tendo que providenciar novas levas de Aedes infectados: a própria natureza se encarrega do serviço.

Teste em larga escala é necessário

Na Austrália, onde teve início o projeto para o combate à dengue, o método foi testado em uma comunidade com 100 mil habitantes com bons resultados e queda significativa da transmissão, segundo Moreira.

“No caso da dengue, os mosquitos com a bactéria já foram liberados experimentalmente em 40 localidades de cinco diferentes países, duas delas no Rio de Janeiro, em Jurujuba, em Niterói, e Tubiacanga, na Ilha do Governador. Os estudos mostram que toda vez que o percentual de mosquitos com a bactéria ultrapassa os 70% o registro de transmissão local de dengue é zerado.”

Esses estudos, afirma Moreira, fornecem um bom indicativo da eficácia do método, mas apenas um levantamento em larga escala pode conferir a comprovação estatística e científica necessária para que a técnica possa ser usada oficialmente, como forma de combater as epidemias. Um estudo como esse está para começar na Indonésia, envolvendo 400 mil pessoas ao longo de três anos.

“Acho que dentro de três a cinco anos já poderemos estar usando o método”, aposta o pesquisador. “Mas não acho que ele seja uma solução única, acho que é uma dentre várias estratégias. É preciso haver um trabalho integrado, com uso também de inseticidas, mosquitos transgênicos, vacinas quando estiverem disponíveis. E além disso tudo, a população deve fazer sua parte, exterminando os criadouros do mosquito.”