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Estados alemães contrariam lobby e vetam público em estádios

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
12 de agosto de 2020

Em um não a interesses particulares e, ao mesmo tempo, um sim pelo bem-estar coletivo, secretários da Saúde barram plano da Bundesliga de permitir volta dos torcedores aos estádios já em meados de setembro.

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Estádio vazio
A definição sobre a volta de torcedores aos templos do futebol fica adiada até que haja a necessária segurança sanitáriaFoto: Getty Images/AFP/I. Fassbender

Os clubes da Bundesliga elaboraram um plano cujo objetivo principal é a volta do público aos estádios já no início da nova temporada, em setembro, mesmo que seja apenas com lotação parcial das arenas. O Borussia Dortmund, por exemplo, se contentaria com 15 mil torcedores no seu estádio, onde cabem 80 mil. Uli Hoeness, presidente de honra do Bayern, queria 25 mil, e o Union Berlin pleiteava lotação máxima para sua praça de esportes.

O plano da liga submetido às Secretarias Estaduais da Saúde contemplou algumas concessões. Para reduzir os riscos de contaminação durante a viagem em transporte público, torcedores visitantes não seriam permitidos. A venda de bebida alcoólica seria proibida, e aquela arquibancada onde os fãs normalmente ficam em pé permaneceria interditada. Os ingressos passariam a ser personalizados para se saber quem foi ao estádio.

Quando o plano veio ao conhecimento do público na semana passada, a primeira reação negativa foi de cientistas e médicos. O virologista Alexander Dalpke foi categórico: "Para excluir todo e qualquer risco de contaminação, é condição sine qua non proibir a presença de público nos estádios."

Na documentação apresentada pela Bundesliga ao governo, não há qualquer menção a um risco maior de infecção nos estádios a partir do outono, estação do ano tradicionalmente de tempo frio e chuvoso.

A presidente da relevante associação médica Marburger Bund, Susanne Johna, declarou ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung: "O perigo de uma contaminação massiva seria real. Um único torcedor infectado seria suficiente para a propagação do vírus, como se fosse um rastilho de pólvora."

É muito difícil mesmo imaginar que um torcedor possa ficar quietinho no lugar na hora do seu time marcar um gol. "Em momentos como esse, a turma vai para o abraço e nem pensa no coronavírus", concluiu a médica.

Não bastasse a oposição da ciência, a própria torcida, que poderia estar interessada na volta dos fãs aos estádios, manifestou ceticismo: "A proposta da liga não tem nada a ver com o ambiente sociocultural das torcidas organizadas, e permitir a presença só de torcedores do time da casa não faz sentido", disse Jost Peter, dos ultras da Unsere Kurve. 

Alguns dias antes da reunião dos secretários estaduais da Saúde para avaliar o projeto da liga, o governador da Baviera, Markus Söder, jogou a pá de cal nos planos do lobby futebolístico: "Sim, consigo imaginar o início da nova temporada da Bundesliga em meados de setembro, mas terá que ser sem público. Qualquer outra decisão representará um sinal devastador para a sociedade como um todo."

Söder está certo. É um absurdo realizar jogos de futebol com público enquanto muitas crianças e adolescentes estão impedidas de frequentar a escola regularmente já faz quase meio ano. Uma única pessoa infectada num estádio de futebol pode contaminar centenas de famílias e, consequentemente, ser o causador da morte de muitas pessoas. 

O ministro da Saúde, Jens Spahn, não poderia ter sido mais claro: "Milhares de espectadores nos estádios é algo incompatível com o atual aumento de casos de pessoas infectadas pelo vírus. Em teoria, o plano da liga é bom, mas durante uma pandemia a prática é outra. Trata-se agora de não correr nenhum risco desnecessário."   

O resultado da reunião dos secretários da Saúde dos 16 estados alemães foi unânime. A proposta da Bundesliga de permitir a volta dos torcedores aos estádios já em meados de setembro foi rejeitada.

"Os planos da liga fornecem uma boa base para o futuro, mas atualmente não são factíveis", declarou Dilek Kalaci, senadora da Saúde de Berlim, e acrescentou: "Atualmente estamos sobrecarregados com o controle sanitário dos que estão voltando de férias, assim como com eventuais surtos do vírus em escolas. Queremos evitar que nosso sistema de saúde fique sobrecarregado." 

Em alguns setores políticos causou estranheza também o fato de a liga tentar subverter um decreto federal que proíbe a realização de todo e qualquer megaevento até 31 de outubro. Com a decisão das autoridades de não permitir a reabertura dos portões para o público, a definição sobre a volta de torcedores aos templos do futebol fica adiada até que haja a necessária segurança sanitária.

Os governos estaduais, apoiados pelo governo federal, em uníssono, disseram não à Bundesliga. Foi um não a interesses particulares e, ao mesmo tempo, um sim pelo bem-estar coletivo.           

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.