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Bukowski em alemão

21 de abril de 2009

Escritor norte-americano nascido na Alemanha ganha tratamento honroso da editora e livraria Zweitausendeins, que completa 40 anos.

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Foto: AP

Charles Bukowski sempre foi um autor polêmico, que fomentou discussões entre a crítica especializada e nos circuitos intelectuais. Há quem o considere um machista repugnante, que escrevia por mero impulso escatológico, sem possuir qualquer valor artístico.

Mas há também quem acenda velas para ele, como na Alemanha, por exemplo. No país de Nietzsche e Hölderlin, Henry Charles Bukowski jr. é ícone do inconformismo, um legítimo baluarte da cultura underground que continua despertando a admiração de cabeças bem pensantes.

A combativa editora e livraria Zweitausendeins – uma simpática empresa de Frankfurt fundada em 1969 e que faz dinheiro vendendo a boa arte a preços módicos – lançou há pouco em alto estilo 439 Gedichte (439 Poesias), um livro de 991 páginas com os versos do nobre cidadão nascido em 1920 na pequena Andernach, no estado de Rheinland-Pfalz, e falecido em 1994 em Los Angeles. E o que é mais curioso: em formato de bolso.

Como estrela do rock

439 Gedichte reúne poemas de dois livros de "Buk" (forma carinhosa como o autor é chamado entre os seus fãs) lançados anteriormente pela própria Zweitausendeins, o West Avenue e o Eine Kinoreklame in der Wüste (Um Anúncio de Cinema no Deserto), além de uma série de 178 poesias batizada de Da muss man durch (Vai ter que ralar, em tradução livre).

O fato deste novo volume ter sido organizado e vertido para o alemão por Carl Weissner – amigo íntimo, agente literário e um dos tradutores "oficiais" de Bukowski – confere a devida credencial ao lançamento da editora em seu 40° aniversário.

A Zweitausendeins tem sido a principal responsável pela divulgação da obra de Charles Bukowski na Alemanha. Um de seus produtos mais badalados dos últimos tempos foi o CD Hello, it's good to be back!, um registro da antológica noite de leitura que o escritor americano fez na Markthalle, em Hamburgo, em 18 de maio de 1978. "Foi como um concerto de rock", opinou a edição alemã da Rolling Stone.

Der US-amerikanische Schriftsteller Charles Bukowski, Kalenderblatt
Charles Bukowski em 1978, durante leitura em HamburgoFoto: dpa

Diante de um público de 1,2 mil pessoas, até o escolado "Buk" fraquejou na emoção: "Eu tive realmente pela primeira vez a impressão de que as pessoas entenderam meus poemas”, afirmou na época o escritor.

Wolfgang Rumpf, da Rádio Bremen, foi certeiro ao comentar o evento. "O que a intensa e calorosa leitura demonstrou mais uma vez foi o quão importante era esse literato freak dos Estados Unidos para os espectadores, e como a performance nas leituras era valiosa para os escritores da geração beat".

Antes de sair no formato CD, Hello, it's good to be back! chegou a ser lançado em vinil.

Poemas crus

A nova coletânea já abre com os versos impactantes de Es geht auch anders (Também é possível de outro jeito), poema que aborda a forma como o pai do autor encarava o desemprego.

Ao contrário de seu vizinho também desocupado, que vivia jogando dardos na parede de sua garagem, o pai do escritor saía de casa bem cedo e só voltava à noite, para disfarçar perante a vizinhança a crise que estava passando. Era com o vizinho, claro, que Bukowski se identificava.

De forma coloquial e direta, o estilo Bukowski era como um golpe seco. Corrosiva, a lábia do escritor (que esteve mais para precursor do punk do que para beatnik) sempre provocou dissabores. "Um intelectual é um homem que diz uma coisa simples de uma maneira difícil; um artista é um homem que diz uma coisa difícil de uma maneira simples", disparou certa vez o velho "Buk".

Antifeminino?

Buchcover Charles Bukowski 439 Gedichte

Carl Weissner organizou com Bukowski em 1978 uma interessante antologia de melhores poemas da imprensa alternativa norte-americana do período 1966/77, que resultou no livro Terpentin on the Rocks.

E como privilegiado conhecedor da alma do escritor, Weissner é categórico ao afirmar que Bukowski é um fracasso ainda maior que Woody Allen quando se trata de analisar as mulheres. O escritor sempre atiçou a ira das feministas mais radicais, sendo criticado por elas como se fosse uma espécie de Nelson Rodrigues elevado à quinta potência.

Mas este não parece ser o ponto de vista da cantora Ute Lemper. A artista alemã, radicada há onze anos em Nova York e que esteve se apresentando recentemente no Brasil, se derrama em elogios quando o assunto é Charles Bukowski.

Para surpresa de muitos, Lemper adiantou há pouco que está mergulhada num projeto para musicar a obra do escritor americano. Será que o resultado estará à altura de Crônica de um Amor Louco, filme do italiano Marco Ferreri baseado em Bukowski, aplaudido por cinéfilos do mundo todo e que contou com a exuberante presença de Ornella Muti num dos papéis principais?

O velho safado no Brasil

Os brasileiros também têm um fascínio especial pela obra maldita do bardo. A L&PM Editores lançou até hoje 13 títulos da bibliografia de Bukowski. "Sou impregnado de uma admiração pela transgressão. Acho que o mundo avança e progride através dela, que dialeticamente gera novidades e, fatalmente, benefícios para a humanidade. Bukowski é a cara da transgressão", afirmou Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM.

Para Ivan, não há faceta do autor americano que seja melhor que a outra. "Gosto muito da poesia, dos contos e dos romances porque ele é o mesmo, sempre o mágico velho safado."

E o editor fez questão de frisar: "Publicamos Bukowski pela primeira vez em 1984, portanto há 25 anos. Eram dois volumes de Tales of Ordinary Madness, que dividimos em Crônica de um Amor Louco e Fabulário Geral da Loucura Cotidiana. Esses volumes, por estarem há mais tempo no mercado, foram os que mais venderam, cerca de 30 mil exemplares cada".

Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Alexandre Schossler