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PolíticaReino Unido

Dois ministros de Boris Johnson se demitem e agravam crise

5 de julho de 2022

Renúncia dos ministros das Finanças, Rishi Sunak, e da Saúde, Sajid Javid, ocorrem no momento em que o primeiro-ministro se desculpava por acusações de assédio sexual por parte de um membro sênior do Partido Conservador.

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Montagem com fotos de Rishi Sunak, à esquerda, e Sajid Javid, à direita
Rishi Sunak (E) e Sajid Javid ficaram ao lado de Johnson surante o escândalo do "partygate"

Dois dos membros mais importantes do gabinete do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, renunciaram nesta terça-feira (05/07), agravando a crise vivida pelo governo do Reino Unido.

O ministro da Saúde, Sajid Javid, disse que "não podia mais continuar em sã consciência" em seu posto.

Logo após a declaração, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, também anunciou que estava deixando o cargo, afirmando que "o povo espera, com razão, que o governo seja conduzido de forma adequada, competente e séria" – o que, segundo ele, não está ocorrendo. "Acredito que vale a pena lutar por esses padrões e é por isso que estou me demitindo". 

As demissões ocorreram no momento em que Johnson se desculpava por ter mantido Chris Pincher em seu posto de encarregado de disciplinar a bancada de seu Partido Conservador no Parlamento, após acusações de má conduta sexual.

"Foi a coisa errada a se fazer. Peço desculpas a todos que foram gravemente afetados por isso", disse Johnson.

Tanto Javid quanto Sunak haviam apoiado publicamente Johnson durante meses de escândalos sobre a conduta de seu governo e um relatório contundente sobre festas em seu escritório e residência em Downing Street que violaram as rígidas regras de lockdown para conter a pandemia de covid-19, o chamado "partygate". Agora, porém, a situação parece estar insustentável.

Em sua carta de demissão, Javid disse a Johnson que "os valores que você representa refletem em seus colegas", e à luz dos escândalos recentes o público concluiu que seu partido não é "competente" nem "age no interesse nacional."

O agora ex-ministro também criticou Johnson por não reagir com "humildade" depois de vencer por pouco um recente voto de desconfiança do próprio partido.

"Está claro que esta situação não mudará sob sua liderança", escreveu Javid, "e, portanto, você também perdeu minha confiança".

Acusações contra Chris Pincher

Na segunda-feira, foram divulgadas pela imprensa britânica seis novas acusações de comportamento impróprio do ex-deputado do Partido Conservador Chris Pincher, dias depois de ele ter sido suspenso pelo partido por ter "apalpado" dois homens.

As novas acusações contra Pincher - reveladas pelos jornais Independent, Mail on Sunday e Sunday Times - incluem outros três casos em que o político protagonizou "avanços não desejados" com outros deputados, como um ocorrido num bar do Parlamento e outro no seu próprio gabinete, há mais de uma década.

Na semana passada, o jornal The Sun revelou que Pincher estava bebendo no clube Carlton, um dos mais antigos e exclusivos da capital britânica, quando assediou na quarta-feira dois convidados.

Pincher renunciou e alegou que tinha "bebido demais" e que estava envergonhado.

Deputado afirma que Johnson sabia das acusações

Após as acusações contra Pincher virem à tona, o governo britânico inicialmente alegou que Johnson não estava ciente do comportamento do colega de partido no passado. Mas o argumento desmoronou nesta terça-feira, quando um ex-colaborador de Johnson revelou que o chefe de governo foi informado em 2019, quando era ministro das Relações Exteriores, que Pincher já havia se envolvido nesse tipo de incidente.

O líder do Partido Trabalhista, de oposição, Keir Starmer, disse em um comunicado: "Depois de toda a sujeira, escândalo e fracasso, está claro que este governo está entrando em colapso".

O caso de Pincher junta-se a outros semelhantes no Partido Conservador nos últimos meses. Em meados de maio, um deputado suspeito de estupro foi preso e depois libertado sob fiança.

Em abril, outro legislador renunciou por ver pornografia em seu celular. E um ex-deputado foi condenado em maio a 18 meses de prisão por agredir sexualmente uma menina de 15 anos.

Além disso, Johnson enfrenta uma investigação parlamentar sobre se ele mentiu em sua defesa sobre o "partygate". A crise política soma-se, ainda, às dificuldades que o país enfrenta para se adaptar à saída da União Europeia (UE) em 2020.

Novos ministros

Horas após as renúncias, foram anunciados os novos titulares das pastas. O até então ministro da Educação, Nadhim Zahawi, será o novo chefe das Finanças, enquanto o chefe de gabinete, Steve Barclay, substituirá Javid no comando do Ministério da Saúde.

Em meio às trocas, a chefe do Ensino Superior, Michelle Donehan, assumirá a pasta da Educação, segundo comunicado governamental.

Uma fonte de Downing Street revelou à agência de notícias EFE que Zahawi ameaçou deixar o governo e se unir aos "rebeldes" caso Johnson não aceitasse colocá-lo nas Finanças. A intenção inicial do premiê era escolher a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss.

No fim, Zahawi, de 55 anos, venceu a queda de braço, segundo a imprensa local, e ficará com uma das pastas mais importantes do governo, automaticamente sendo cotado a sucessor de Johnson.

O nome de Zahawi se popularizou no Reino Unido a partir de novembro de 2020, como ministro de Vacinação e grande responsável pela eficaz campanha de imunização contra a covid-19 no país.

Barclay, de 50 anos, é um dos colaboradores mais leais de Johnson, que o colocou à frente do departamento do gabinete para tentar organizar o funcionamento interno de Downing Street.

Donelan, de 38, se torna ministra pela primeira vez, após dois anos como responsável pelas universidades no governo e sete anos como deputada. 

le (Lusa, EFE, AP, AFP, Reuters, ots)