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EsporteAustrália

Djokovic teria manipulado teste de covid, diz revista alemã

12 de janeiro de 2022

Tenista não vacinado apresentou às autoridades australianas teste positivo de covid-19 feito em dezembro, que permitira a entrada no país mesmo sem a imunização. "Der Spiegel" aponta indícios de que exame foi manipulado.

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Djokovic, de camiseta verde, segura uma raquete.
Djokovic lidera o ranking mundial e busca o seu 21º título de Grand SlamFoto: GREG WOOD/AFP

Um teste de coronavírus apresentado pelo tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, para entrar na Austrália e disputar um campeonato pode ter sido manipulado, segundo reportagem da revista alemã Der Spiegel publicada nesta terça-feira (11/01).

Sem comprovação de vacina contra a covid-19, o tenista disse que havia obtido uma isenção para entrar no país e jogar o Aberto da Austrália.

A Austrália tem uma política que não permite o ingresso de quem não é cidadão australiano ou não mora no país e que não esteja totalmente vacinado contra a covid-19. Isenções médicas - como a que Djokovic argumentou ter apresentado - são aceitas, mas o governo australiano disse que o tenista não forneceu justificativa adequada para tal isenção. 

De acordo com a documentação apresentada pela equipe jurídica do atleta, ele teria testado positivo para covid-19 no dia 16 de dezembro de 2021 – o que permitiria a entrada do atleta na Austrália mesmo sem a vacina.

No entanto, de acordo com a Der Spiegel, vários indícios, sobretudo na versão digital do resultado do teste, apontam para manipulação.

Dados digitais sugerem que o teste não é de 16 de dezembro. Nos resultados digitais, há um carimbo de data e hora de 14h21, horário da Sérvia, em 26 de dezembro.

Essa marcação normalmente é inserida automaticamente pelos sistemas de testagem, assinalando quando os documentos foram inseridos no banco de dados. Isso geralmente acontece apenas alguns minutos após o resultado do teste ficar disponível. Outra possibilidade seria que os dados fossem gerados quando a pessoa testada baixasse os resultados do servidor.

Os advogados de Djokovic também apresentaram um segundo teste, este negativo, como parte do processo de imigração do tenista. O exame foi feito aparentemente para provar que Djokovic se recuperou da covid-19 e testou negativo para o coronavírus em 22 de dezembro – o horário e data desse documento são confirmados pelo carimbo digital.

Divergências ao escanear código QR

A Der Spiegel escaneou nesta segunda-feira (10/01) o código QR disponível no exame de 16 de dezembro. Às 13h19 (horário da Alemanha) o resultado exibido foi negativo para o coronavírus. No entanto, pouco mais de uma hora depois, às 14h33, o mesmo escaneamento mostrou resultado positivo. No site da revista é possível conferir capturas de tela que comprovam as duas checagens.

Segundo a Der Spiegel, há, ainda, outros pontos que colocam em dúvida se Djokovic realmente testou positivo em 16 de dezembro.

Como é padrão, o sistema de testes da Sérvia, país natal do tenista, atribui um número de identificação a cada exame. O número do teste positivo de Djokovic, supostamente feito em 16 de dezembro, é 7.371.999. Mas, para o teste negativo feito em 22 de dezembro, o número de identificação é 50.000 pontos mais baixo.

De acordo com especialistas ouvidos pela revista, os números de identificação normalmente são consecutivos. O grupo de detetives digitais examinou os documentos a pedido da Der Spiegel.

Para eles, os números de identificação apontam que o teste negativo do tenista teria sido realizado antes do teste positivo e inserido no banco de dados depois - não o contrário, como afirmam os advogados de Djokovic.

Além disso, entre 22 e 26 de dezembro, o sistema de saúde sérvio realizou 50.000 testes de covid-19 – justamente a diferença entre os dois números de identificação dos dois testes do tenista.

Desta forma, segundo os detetives digitais ouvidos pela Der Spiegel, a explicação mais provável, com base nas evidências disponíveis, é que o resultado positivo do teste tenha sido adicionado ao banco de dados oficial sérvio no dia 26 de dezembro, e não no dia 16.

A revista tentou contato com Djokovic e com a área de saúde do governo sérvio para esclarecer as dúvidas, mas não obteve retorno.

Investigação por mentir em formulário

Djokovic passou a ser investigado pelas autoridades australianas de fronteira por supostamente ter mentido em sua declaração de entrada no país, no dia 5 de janeiro. Publicações em mídias sociais indicam que o atleta estava em Belgrado no Natal e, depois, na Espanha, dia 4, antes de voar para a Austrália. Na Sérvia, sem máscara, ele teria participado de um evento com jovens tenistas um dia após ter supostamente testado positivo para covid-19.Fotos e vídeos mostram Djokovic sem máscara atendendo a eventos públicos como uma cerimônia de premiação de tênis juvenil em Belgrado, depois de ter testado positivo. Conforme o protocolo sérvio, ele deveria ter ficado isolado por pelo menos 11 dias.Fotos e vídeos mostram Djokovic sem máscara atendendo a eventos públicos como uma cerimônia de premiação de tênis juvenil em Belgrado, depois de ter testado positivo. Conforme o protocolo sérvio, ele deveria ter ficado isolado por pelo menos 11 dias.

Pelas regras australianas, Djokovic não poderia ter saído da Espanha a partir de 22 de dezembro e passado por outro país ao menos duas semanas antes de voar para a Oceania. Ele teria ido para a Sérvia e depois retornado para a Espanha.

Conforme informações publicadas pelo jornal britânico The Guardian, Djokovic assinalou "não" quando questionado se havia viajado ou se viajaria ao menos duas semanas antes de ir para a Austrália, no formulário de imigração. No documento, consta que fornecer informações falsas é uma infração grave, passível de sanções civis, inclusive detenção.

Um dia após ter sido barrado no aeroporto, Djokovic foi levado para um hotel junto a outros viajantes retidos na imigração australiana. Em entrevista a autoridades locais, ele disse que quem preencheu o formulário de imigração foi o seu agente, baseado em uma isenção médica que teria sido aprovada pela Federação Australiana de Tênis.

A decisão agora está nas mãos do ministro da Imigração, Cidadania, Serviços Migratórios e Relações Multiculturais da Austrália, Alex Hawke, que deve divulgar um parecer final sobre o caso nesta quarta-feira (12/01). Conforme um porta-voz do governo, "em relação ao processo, o ministro Hawke analisará minuciosamente o assunto. Como a questão está em andamento, é inapropriado, por razões legais, tecer mais comentários sobre o assunto”.

Se Djokovic tiver o visto cancelado pelas autoridades australianas, ele terá de deixar o país imediatamente e deverá ser proibido de entrar na Austrália pelos próximos três anos.

Novak Djokovic lidera o ranking mundial masculino de tênis e busca o seu 21º título de Grand Slam na carreira. Ele venceu as últimas três edições e um total de nove vezes o Aberto da Austrália, que começa no dia 17 de janeiro. Uma liminar concedida pela justiça australiana na segunda-feira (10/01) liberou Djokovic para entrar no país.

Fotos e vídeos mostram Djokovic sem máscara atendendo a eventos públicos como uma cerimônia de premiação de tênis juvenil em Belgrado, depois de ter testado positivo. Conforme o protocolo sérvio, ele deveria ter ficado isolado por pelo menos 11 dias.

le (ots)